Crítica: Gente que Vai e Volta (Gente que viene y bah)

Permitam-me o obséquio de começar aqui contando uma historinha mais velha que posição de cagar. Mulher se muda à cidade grande em busca de desafios profissionais, sofre uma grande decepção amorosa, volta a sua cidade pequena – e suficientemente deslumbrante para que a gente fique se perguntando porque caralhos essa moçoila me saiu de lá – e lá ela aprende a viver novamente, tudo, é claro, em não pequena medida por causa de um novo grande amor.

Se esta história lhe pareceu familiar, é porque ela é basicamente o enredo de 80% dos filmes de drama ou comédia românticos. A julgar por eles (coisa que, para deixar claro, não devemos fazer), a pessoa do gênero feminino precisa de uma série de elementos para superar um amor, sendo o principal deles um outro amor.

É exatamente este o caso deste Gente que Vem e Vai ao mesmo tempo que, felizmente, não é. Não se engane, todos os clichês, lugares comuns e estereótipos estão lá: situações estapafúrdias, o amigo gay que é instantaneamente o cara mais divertido de todo o filme (que no caso aqui é o irmão), personagens um tanto caricatos e diálogos que são, por vezes, bobos ao extremo.

O felizmente vem do fato de que a película consegue ir além de tudo isso, conseguindo, ainda que de maneira rasa e até mesmo apelativa, emocionar de verdade e causar alguma reflexão no espectador. Mas, mais uma vez, não se engane. Não se trata aqui de um filme que se pretende mais reflexivo e filosófico do que um filme do gênero costuma ser, mas só de algo que consegue ir um tiquinho além do mero entretenimento, coisa que eu jamais vou deixar de louvar em produção alguma.

Aqui temos a história de Bea (Clara Lago), uma arquiteta que, por culpa sua mesmo (e não me massacrem antes de entenderem o porquê de eu estar falando isso), joga seu namorado nos braços da mulher mais desejada da Espanha e depois fica chorando suas pitangas porque ele a teria traído. Ignorando a tecnicalidade que ficará clara a quem assistir ao filme de que não houve traição, Bea volta a sua lindíssima e litorânea cidade natal, onde vai encontrar toda a sua família e ter notícias bombásticas sobre sua mãe, Ángela, uma espécie de médium da triagem hospitalar interpretada pela primeira dama do Cinema espanhol, a espetacular e almodovariana (mas que aqui vai mal) Carmen Maura.

A partir daqui as coisas vão acontecendo como a gente já sabe. O elenco faz um trabalho no máximo esforçado (o que é um desperdícios de bons nomes) e a coisa toda é conduzida de forma bem padrão, com exceção da trilha sonora que incomoda de tão clichezenta. Porém, o roteiro de Dario Madrona e Carlos Montero, baseado em livro de Laura Norton, ao mesmo tempo que segue pelos caminhos com os quais já estamos acostumados também se atreve, ainda que timidamente, a se aventurar por outras sendas.

Sei que eu – macho, que gosta de coisa de macho e que seria macho até debaixo de outro macho – não sou o público alvo deste tipo de filme. Mas eu o assisti com a mulher mais importante da minha vida deitada no meu colo, minha mãe. Ela, uma pessoa cujo nível de metidez a besta com cinema não chega perto do meu, se divertiu bastante com a história da família de Bea. Assim é que, não sei se contagiado por ela ou se genuinamente, eu também tive a minha própria medida de diversão e entretenimento com a obra, de modo que posso afirmar que, tanto para um malandro que acha que entende alguma porra de cinema quanto para a mãe desse sujeito que não perde a novela das 8 (ou seria das 9?), Gente que Vem e Vai cumpre aquilo a que se propõe e até se atreve a ir um pouquinho além.

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