Crítica: Hellboy

Há 15 anos, Hellboy ganhava uma adaptação para o cinema no início da era dos filmes de super-heróis, sendo imortalizado pela performance cativante de Ron Perlman, dirigido pelo premiado Guillermo del Toro e ainda contando com a atuação da lenda John Hurt, com uma continuação em 2008, também em um bom filme. Nesse hiato de 11 anos, muito se especulou sobre uma 3a entrada na franquia, aguardada pelos fãs e que contaria com o elenco original, mas o projeto morreu e com ele a esperança de vermos Ron interpretando Hellboy mais uma vez, já que em 2008 o ator já tinha seus 58 anos, uma idade avançada para o físico requerido para o personagem e para o castigo de horas de maquiagem para incorporá-lo.

Ressurgindo nas mãos de Neil Marshall, diretor de “Abismo do Medo” e de vários episódios de “Game of Thrones”, chega aos cinemas uma versão mais fiel aos quadrinhos e com direcionamento mais adulto, explorando nuances sexuais e de violência a nível de “Deadpool“. Com apenas 30 segundos de prólogo temos um vislumbre do que serão essas 2 horas de filme: uma merda inacreditável. Porém, há de se louvar o tom cômico abraçado pela película que é característico do personagem, mas é igualmente abominável como tudo que daria graça nela é mal encaixado e desprovido de carisma. Nota-se o impacto que “Deadpool” teve aqui, que se reflete em filmes menos pesados como “Shazam!“, de fazer algo simples, violento e divertido. Em sua proposta central, Hellboy falha miseravelmente.

Acompanhamos a história de Nimue (Milla Jovovich), uma bruxa fodona que reuniu em seu entorno uma legião de seres demoníacos em resposta a caça às bruxas, mas que é derrotada pelos humanos com a ajuda de uma bruxa traidora, o Rei Arthur usando Excalibur e Merlin, tendo seu corpo espalhado em pedaços pelo Reino Unido. Eis que um ser demoníaco – um dos piores antagonistas que me recordo ultimamente – tenta trazê-la de volta à vida para ele ter poder absoluto. Cabe ao nosso protagonista evitar isso, enquanto tenta escapar a contradição em sua cabeça de ser um demônio que vive para matar seu semelhantes.

O Hellboy que você conhece (o do cinema, já que as HQs dele estão bem longe do sucesso comercial da Marvel e DC) continua ali. Compartilha a mesma origem, tem a mesma dinâmica com sua equipe – mesmo com membros icônicos aparecendo só no final – e está destinado exatamente a mesma coisa de ser o rei do apocalipse no mundo. Mas falta liga para unir tantas partes soltas e dar um sentido a tudo que acontece na obra. Muitos personagens são rasos e as atuações, mesmo nitidamente abraçando a galhofa, deixam muito a desejar. Você não consegue se importar com absolutamente ninguém e fica uma impressão que a direção não soube conduzir qualquer cena que envolvesse diálogo. Mesmo atores reconhecidos, como Milla Jovovich, figura carimbada em na franquia “Resident Evil” nos cinemas, e o badaladinho David Harbour, especialmente por seu trabalho em “Stranger Things“, não conseguiram entregar uma fala que fosse que despertasse qualquer esboço de uma risada honesta, arrancando apenas algumas de ironia. Nem Ian McShane, um cara que exala carisma em “American Gods“, conseguiu salvar a lavoura.

Porém, quando ninguém tá falando, somos vislumbrados com efeitos CGI bem concebidos e encaixados, mesclando-se bem aos efeitos práticos. As cenas de violência são brutais ao extremo e fica claro que o longa se fará em cima disso logo em seu prólogo. As lutas são bem coreografadas, permeiam toda a obra e mostram alguma química entre nosso protagonista e seus agentes. A única coisa que me causou leve desconforto foi a maquiagem do Hellboy, com próteses que em alguns momentos parecia que não estavam bem encaixadas no rosto do ator.

Mas na soma dos placares, Hellboy sai da 1a entrada do seu reboot devendo e devendo muito. É um filme genérico até a alma, exagerado e que não está de em consonância com a maturidade que os filmes de super-heróis atingiram desde sua estreia nas telonas em 2004.

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