Crítica: O Bom Sam (Good Sam)

Kate Bradley (Tiya Sircar) é tudo que a Larissa de 15 anos poderia admirar: uma mulher que é jornalista e tem sucesso em sua carreira, além de ser muito bem resolvida emocionalmente. Honestamente, não havia nada que eu naquela idade, cheia de inseguranças e incertezas sobre o futuro, almejasse mais. Durante muito tempo meu sonho foi seguir a carreira de jornalista e desisti disso quando vi que não é tão fácil ser como Kate Bradley, a jornalista que aparece na TV num dos principais canais de notícia de um estado – e que, ops, é ficcional. Não é uma coincidência sê-lo.

Dentro da invejável rotina de Bradley, a repórter é especialista em cobrir notícias de alta adrenalina nas quais a presença da equipe de televisão é sinônimo, por vezes, de algum tipo de risco físico e tudo mais. Incêndios, acidentes e esse tipo de coisa são as que fazem-na acordar e ir trabalhar. No entanto, após uma bela chamada do chefe por estar pondo a própria vida e a da equipe (um cameraman fofinho) em risco demais, ela é deslocada pra cobrir uma matéria sobre… doações anônimas de $100.000 à pessoas desconhecidas sem aparente razão. Méh.

Josh, o cameraman e Kate, a repórter

A princípio a jornalista acha entediante e vê com desconfiança a boa ação desse desconhecido, fazendo a entrevista dos presenteados com os dois pés atrás. No entanto, no desenrolar da trama, um caso que antes era por Kate desprezado vira o combustível de sua carreira e ela se dispõe a ir até o fim para desvendar o “mistério do Bom Samaritano”, dividida entre as teorias do cara ser um fanfarrão buscando atenção ou um cara genuinamente bom.

Enquanto isso, temos acesso também à vida emocional da mulher, que é posta em segundo plano pela dedicação que ela tem a sua carreira. Entre um encontro e outro, o foco dela é sempre na tal matéria. É legal que o filme não caia no clichê de inserir uma questão amorosa e ser tomada por ela – mas, em contrapartida, caí em tantos outros que isso não é o suficiente para servir como alicerce para ser uma bela obra. Na realidade, dá até um certo cansaço a construção da personagem obcecada por trabalho, como se não fosse possível um balanço entre razão e emoção pra viver em harmonia e ser uma mulher independente. Acho que o Cinema tá mais que na hora de rever o estereótipo dessa mulher, inclusive.

O filme como um todo tem um ar de filme de televisão, como bem apontou nosso querido editor Gostavo, como se fosse feito pra Sessão da Tarde ou quadro do tipo. O apelo a moral é tamanho que cruza a linha do aceitável e se torna um forçoso maniqueísmo, em que corta o cinza entre a distância do branco e preto. Isso fica claro com a absoluta frustração de Kate ao considerar a possibilidade de o tal doador querer algo em troca – e tomar isso como um desvio de caráter absurdo. Ok, isso pode até ser um discurso muito bonito, mas nada aplicável em diversas situações da vida onde o ser humano imagina serem recíprocas – e isso não o faz um demônio.

Por fim, as atuações e falas são decepcionantes na medida em que parecem leituras rasas de um roteiro escrito pra crianças da 4ª série entenderem o que se pode e não se pode fazer nessa vida – uma espécie de cartilha comportamental. Há momentos que me deram certa vergonha, onde os personagens tinham diálogos inteiramente redundantes sobre a situação que acabara de acontecer e coisas deste nível. O Bom Sam busca debater até onde as pessoas agem de maneira manipulativa, e essa problematização é até válida sim, mas usando como contraponto a um modelo de perfeição, representado por um personagem específico, que enfraquece sua proposta inicial.

Kate chocada com a intencionalidade humana. Ué…

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