Crítica: O Outro Pai (A pesar de todo)

Usualmente falamos – e voltamos a repetir – que toda semana a Netflix lança uma produção de comédia e que, além disso, parece dar especial atenção (no que concerne o acervo brasileiro, ao menos) às obras espanholas. Nessa semana, o streaming alia os dois filões, lançando um filme espanhol de comédia. O Outro Pai traz em poucos minutos – menos de 90, que é o padrão desse tipo de gênero – a (re)união de quatro irmãs em busca de verdades nada triviais.

Tendo perdido a mãe, as quatro moças se reencontram para a cerimônia. Os núcleos dramáticos não são nada pesados e, por vezes, até colocados de forma estapafúrdia, não dando qualquer conotação negativa a uma história que poderia cair nesse lugar comum devido ao modo como se inicia. Seguindo essa lógica, portanto, as protagonistas vão ao advogado/tabelião saber da herança (sim, um timing nada elegante, como tudo nesse filme relacionado a isso). Uma vez no escritório, elas se deparam com uma filmagem da progenitora que utiliza esse momento triste para juntar as irmãs em uma mesma busca: o suposto pai delas não é o biológico e cada uma tem um diferente. Antes de receberem a herança, deverão descobrir quem são os homens por trás daquela fecundação.

Procurando pela verdade.

As meninas se jogam, juntas, nessa gincana mórbida que traz leveza a um momento de tristeza e revelações pouco convidativas. Aliás, a direção de Gabriela Tagliavini é voltada para isso, ignorando o que de traumático toda essa situação poderia sugerir. A sensação é que ela quis mesmo produzir um filme que divertisse o espectador, sem causar qualquer impacto emocional mais depressivo. Certamente, pensando em termos de verossimilhança, a narrativa não flerta em nada com o real, mas a proposta não é, definitivamente, essa. Ainda que as meninas tenham perdido, a um só tempo, mas de maneiras diferentes, os pais, elas se mantêm unidas, reforçando seus laços e seguindo na descoberta dos outros pais.

Um dos pontos mais ricos e divertidos do longa é o mosaico que as quatro personagens formam: Claudia (Belén Cuesta) é uma divorciada que tenta esconder a frustração que fora seu casamento; Sara (Blanca Suárez) é super bem-sucedida, que largara o amor pela carreira; Sofía (Amaia Salamanca) é gay e também não consegue se entregar em um relacionamento; e Lucia (Macarena García) é um espírito livre, tal qual a mãe, que gosta de relacionamentos nada duradouros e sempre divertidos. Esse conjunto de personalidades, conflitantes entre si a maior parte do tempo garante os momentos cômicos ao longo da narrativa, que, por sua vez, não propõe qualquer “suspense” ou tensão no que tange as revelações buscadas. A descoberta dos pais se dá de forma óbvia e muito rápida, sendo possível definir, na estrutura do conto, quando cada fato desse ocorrerá.

As inseparáveis.

Mas sabe aquele título que você busca no acervo do streaming quando quer apenas curtir um tempo, sem a necessidade de grandes questionamentos ou sem se relacionar tão intimamente com a experiência? Então, esse é um bom exemplo e uma escolha plausível. Fora isso, não há na própria obra em si a mínima proposta em ser algo além disso. Tendo dito isso, cumpre com sua intenção e ali permanece.

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