Crítica: Slasher (3ª Temporada)

Slasher é aquela série para o público de terror adolescente, no “melhor” estilo “Pânico” e tudo o que saiu dessa forma de se fazer terror: “Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado”, “Lenda Urbana” e por aí vai. Indo na direção oposta dos novos filmes do gênero, nos quais há uma construção densa dos personagens, um desenvolvimento de cenas que não preza pelo susto tão somente e que buscam produzir novas sensações ao seu público, a série criada por Aaron Martin repete o modelo de Wes Craven não apenas em suas duas temporadas iniciais. Slasher: Solstice – como é chamada a terceira e nova edição da produção – mantém a mesma pegada das anteriores, investindo em enigmas, suspenses e cenas aterrorizantes já vistas um sem-número de vezes nas obras anteriores, com a diferença de que se sustentam por oito episódios de 45 minutos.

Saadia é uma adolescente muçulmana que está a prestar os exames de conclusão do Ensino Médio americano, passando os dias com suas amigas de escola, enquanto se vê sozinha em casa, por conta de uma viagem de seus pais à terra natal. O medo dela, e dos demais habitantes de seu prédio, bate à porta no dia em que se completa um ano de um crime selvagem ocorrido no local, quando um morador vida louca, chamado Kit, fora brutalmente esfaqueado por um mascarado qualquer, que passou a ser conhecido pela alcunha de “Druida”. A atmosfera da vizinhança se torna tão mais pesada quando um novo crime, ainda mais cruel, é cometido nas redondezas. A narrativa, portanto, foca na história de diversos personagens do edifício, aprofundando os dramas pessoais de cada qual e colocando-os na linha de ação do mascarado maldito que retorna. Antigos e novos traumas emergem, à medida em que somos levados ao passado, identificando no presente o desenrolar da trama.

O terror de Saadia é muito além do Druida.

Para além daquela que claramente se mostra como a personagem principal da história (Saadia), a série não deixa de aprofundar personagens secundários, trazendo toda uma gama de representatividade: questões homoafetivas, personagens negros, mulheres fortes, além da própria protagonista (mulher e árabe). Conseguindo pincelar algumas discussões necessárias, como violência de gênero, preconceito racial, social e cultural, descoberta da sexualidade, etc, o foco principal da série é de longe a perseguição do Druida em relação às pessoas que, de alguma forma, estiveram em contato com a vítima de um ano atrás ou com o próprio ataque. Ao longo dos episódios, começamos a perceber que o alvo do mascarado é exatamente os moradores daquele prédio, que surge, portanto, como uma alegoria tão forte que se torna um personagem da narrativa de Martin.

A estrutura da série se mantém em cada episódio: por meio de flashbacks vamos fazendo os paralelos entre o presente e o que ocorreu naquele incidente, ora identificando alguns dos atuais alvos, ora conhecendo mais sobre Kit, a vítima original. Apesar de alguns personagens apresentados parecerem bem interessantes em sua construção a priori, o desenvolvimento da série opta por tirá-los de cena logo de cara, resgatando-os tão somente no tempo passado. O resultado disso é a constante sensação de que qualquer um pode ser a próxima escolha do Druida. Um destaque para as execuções do mascarado é merecida: extremamente cruéis e sádicas, as cenas são fortes e muito bem feitas. De resto, mantém-se o padrão “Slasher”, que traz o modelo desse gênero específico. A construção do suspense, a composição do terror e as relações dos personagens seguem essa lógica.

Quem é o Druida?!

Dentro daquilo que se pretende ser, Slasher: Solstice executa bem sua narrativa, conseguindo carregar o suspense, desenvolver seus personagens, na medida do possível, e pontuar uma ou outra discussão de maior profundidade, em meio a uma história de fuga e perseguição. Tentando ir um pouco além da mera superficialidade que esses contos tendem a ter por natureza, as alegorias que o prédio, os moradores, o voyeurismo nas janelas e a roupagem das execuções apresentam são a encarnação do que de mais primitivo o ser humano carrega dentro de si: o gosto e o prazer pelo sadismo.

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