Crítica: Terra à Deriva (Liu lang di qiu)

Trabalhando como professora do Ensino Fundamental I nos últimos anos, tive a oportunidade de ler as redações, bastante criativas diga-se de passagem, de alunos entre 8 e 10 anos. O foco do texto – e da mente – de qualquer criança saudável dessa faixa etária é sempre em acontecimentos megalomaníacos, interplanetários, com aventuras impossíveis e sem nenhum compromisso com a coesão ou realidade, beirando muitas vezes o caos narrativo total e o surreal. Portanto, eis o meu deja vú ao assistir o enredo de Terra à Deriva: estar diante de uma produção infantil.

A história, com inspiração em vários elementos SciFi, constrói a velha premissa de um cenário apocalíptico da Terra, ameaçada pela morte iminente do Sol e pelo descaso da humanidade com a questão ambiental, testemunhando fenômenos naturais extremos – se você já assistiu “O Dia Depois de Amanhã” certamente perceberá as referências usadas. Buscando certamente uma audiência pouco exigente e mais interessada em efeitos visuais e ação, a película chinesa faz jus à categoria de longa, nos massacrando por mais de 2 horas com um nível de desorganização narrativa bizarro e descompromisso com qualquer premissa científica.

A narrativa nos mostra que, para salvar o planeta, as relações internacionais dos países parecem ter dado ouvidos à utopia de John Lennon, criando o Governo da Terra Unida, cuja brilhante ideia foi construir motores na superfície terrestre para nos lançar para fora do sistema solar, nos impulsionando para percorrer uma distância de 4,2 anos luz – 2500 anos – em busca de outro sistema planetário com outra estrela. Eis o Projeto da Terra Migratória senhores (eu juro que já li isso numa redação de aluno…).

Para preservar a vida na Terra, o Governo da Terra Unida resolveu criar cidades subterrâneas para abrigar as pessoas, e é nesse ponto que a história se inicia, mostrando o astronauta e cientista Liu Peiqiang (Jing Wu), que faz parte da missão que irá pilotar a estação espacial – Plataforma Espacial de Navegação – responsável por guiar a rota do planeta nessa empreitada. O cientista irá se ausentar por 17 anos, deixando seu filho, Liu Qi (Chuxiao Qu) aos cuidados de seu pai, Han Ziang (Man-Tat Ng).

Os primeiros 40 minutos do filme são até razoáveis, obviamente se abandonarmos qualquer exigência de verossimilhança, apresentando rapidamente os acontecimentos que irão se desenvolver no restante da trama. Porém, o filme se arrasta demais entre o segundo e o terceiro atos, fazendo com que fiquemos confusos sobre o que diabos está acontecendo e qual é o objetivo final dos personagens, que, como era de se esperar, são pouco trabalhados em sua subjetividade. Em relação às atuações, confesso que o idioma e sua iminente entonação – assim como a marca do estereótipo cultural/comportamental, que se reflete nas expressões corporais e faciais dos atores – me dificultam na hora de julgar, acostumada que sou à produções ocidentais, portanto recorro aqui à célebre frase de Glória Pires: “Não sou capaz de opinar”.

Apesar dos pesares e desajustes, acredito que Terra à Deriva encontrará na plataforma mais popular do Brasil uma certa parcela de fãs, sobretudo pela qualidade dos efeitos visuais e CGI e pelas sequências clássicas de explosões, fuga, tiroteio e perseguições ambientadas em cenários extremos terrestres e espaciais.

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