Crítica: 7Seeds - Parte 1
Eis que um grupo de pessoas acorda de um sono profundo em um local remoto sem saber o que aconteceu e como chegou ali. Reunindo forças e guiados por alguém que parece saber o que tá rolando, nossos diversos personagens vão montando o quebra-cabeça da realidade que os cercam. Essa premissa, mesmo batida, cria um cenário instigante para o desenvolvimento do mais novo anime original Netflix, 7Seeds. Logo de cara, gostaria de solicitar ao telespectador que não abandone a série no seu início. Temos aqui algo que beira o inassistível por 3 episódios – o que faria a pessoa que vos escreve pular fora na hora -, mas que após o término do seu terço inicial começa a ganhar contornos mais interessantes. Se não fosse o fato da minha obrigatoriedade com a crítica, certamente esse seria um daqueles animes que não entraria nem para o hall dos esquecíveis.
Contudo, aqui estou depois de 12 episódios para vos falar que você será conduzido por um roteiro que vai te manipular sem o menor perdão. Já na abertura fica claro que o motivo do mundo estar daquela forma é a queda de um meteoro (ou assim achamos) e os nossos sobreviventes, 35 no total, foram selecionados a partir do mais rigoroso processo de seleção, com exemplares japoneses da raça humana do mais alto pedigree, divididos em 5 grupos de 7. Porém – o que no começo não vai fazer absolutamente sentindo algum e que seria o momento que me faria desistir do anime -, um dos grupos foi composto basicamente por pessoas problemáticas, daquelas que você não jogaria nem uma partida de purrinha. Cabe à eles repovoar a Terra e disseminar nosso conhecimento histórico e científico para os descendentes, isso tudo com a ajuda de um guia para cada grupo, com treinamento militar e de sobrevivência para os desafios do novo mundo.
E esse mundo a volta deles? Pra ajudar na loucura e falta de sentido inicial, toda informação que chega é contraditória. Temos características naturais nesse momento novo da Terra que desafiam a nossa noção de tempo geológico e biológico. O relevo está parcialmente alterado, temos espécies de animais que evoluíram a partir de insetos que são maiores que uma girafa, ao mesmo tempo que temos animais extintos como dinossauros e tigres-dente-de-sabre, além de animais da nossa era. Estamos falando de espécies não relacionadas compartilhando o mesmo ambiente que, seguindo uma lógica geomorfológica, levou alguns milhares de ano para chegar aonde chegou. Só que o mais importante relacionado à Terra, em especial o Japão, são os bunkers com suprimentos, materiais e ferramentas espalhados pelas montanhas do país, que nossos intrépidos sobreviventes precisam achar para assegurar a perpetuação das espécies. E por que eles não acordaram do sono já dentro desses bunkers, você pode se indagar.
Bom… Ia tudo relativamente bem, até que alguém coloca o dedo no água do mar e coloca na boca, descobrindo que a água é doce e que eles não estão muito bem onde achavam que estavam. Começa aqui a maluquice do caralho que é 7Seeds. É a clássica situação cujas coisas não são o que parecem. Dá um frescor merecido à obra e vamos descobrindo toda a verdade do ponto de vista dos 5 grupos. Inclusive, a relação desses grupos entre si e como eles criam dinâmicas próprias, o que será o carro-chefe do anime, mostrando grupos que acordam com intervalos que variam até 15 anos e grupos que estabelecem formas de se gerir que divergem muito, indo desde cada um por si, até grupos autocratas. E conforme os grupos vão se misturando e se separando, vai se desenrolando um tapete de informações tão inacreditáveis pra gente quanto é para eles e aprendemos que o mundo não foi transformado de forma tão abrupta e a forma que o Japão escolheu para lidar com a situação passou longe de ser humanitária.
Tecnicamente, 7Seeds deixa e desejar, não tendo animações detalhistas, um estilo peculiar ou designs inspiradores. A impressão que dá, por ser apenas a 1a parte, é que ainda temos muito o que explorar e que a verba para isso não permitiu um investimento massivo na animação propriamente dita, deixando tudo muito genérico e sem identidade. O que foi um experiência difícil em seu início, terminou sendo algo palatável. Poderia até dizer que a Parte 1 cumpriu sua função adequadamente, mas com alguns tropeços bem grandes fica nas mãos da Parte 2 definir o quanto falaremos de 7Seeds no futuro.
Leave a Comment