Crítica: Annabelle 3 - O Regresso a Casa (Annabelle Comes Home)
Um dos maiores erros de nota que eu já realizei nesse site, em uma publicação, foi quando da crítica de Annabelle 2: A Criação do Mal, ao dar 3,5 claquetes de um total de 5 (posteriormente, fiz justiça em outros posts e atualizei a nota para 4,5). Trata-se de nada menos que um filmaço, com uma nova forma de se fazer terror, escapando aos clichês ou utilizando-os para jogar com as emoções do espectador. Tudo naquele filme fora executado de maneira tão primorosa e precisa, que tanto suas atuações (em especial, a de Talitha Bateman, tão falada em minha resenha), quanto a promoção do terror contido na narrativa estavam em seu maior grau de excelência. Repito: um filmaço! E tamanha sensação me deixou com altas expectativas para o terceiro capítulo da série, no lançamento Annabelle 3 – O Regresso a Casa, marcando a estréia de Gary Dauberman na direção, até então conhecido por roteiros de filmes de terror, como todos os 3 Annabelle, o fraquíssimo “A Freira” e as duas partes de “It – A Coisa” (o remake).
A boneca maldita volta a atacar, dando continuidade àquela famosa cena de abertura em “Invocação do Mal”: o casal Warren está conversando com as então donas de Annabelle e resolvem levar o objeto para casa, a ser guardado no quarto abençoado onde estão todos os instrumentos negativos da carreira deles. De todos os itens portados pelos pesquisadores, é exatamente este o que passou a ser considerado o mais negativamente poderoso de todos. Desde a viagem de volta para casa, o demônio da boneca já tenta confundir nossos velhos conhecidos. Mas tudo dá certo até ela ser colocada naquele armário isolado. No entanto, ao fazerem uma viagem e deixarem a pequena filha Judy (Mckenna Grace) com a babá Mary Ellen (Madison Iseman), uma penetra indesejada põe a casa da família de ponta cabeça, apontada para o inferno.

Daniela (Katie Sarife), a dita-cuja, perdera o pai em um acidente de carro, enquanto ela própria dirigia. Desejosa por voltar a falar com seu espírito e pedir desculpas (não acho mesmo que isso seja clichê; de fato, traumas assim levam à busca de toda forma de contato sobrenatural, além de dialogar diretamente com a sinopse de “Annabelle 2”), a amiga da babá Mary Ellen vai até a casa para espionar os itens guardados a “sete chaves” pelos demonologistas. E o que a curiosidade fez com o gato mesmo? Pois é, a curiosidade dessa estúpida vai abrir as portas dos demônios para dentro da casa dos Warren, deixando no limite a mais sensitiva das personagens: evidentemente, Judy Warren, a pequenina filha. É o palco e o terreno mais férteis possíveis para as ações sempre medonhas da boneca que coloca qualquer “Chucky” (o famoso “Tchôqui”) para dormir.
Diferente das soluções e do desenvolvimento tão elogiados em “Annabelle 2”, Gary Dauberman dessa vez escolhe seguir pelo terror mais clássico mesmo. Noite, névoa, aparições, silhuetas, música que toca sozinha, luz que se apaga sem comando, televisão que liga por vontade própria: tudo o que já fora visto em todos os outros filmes de terror está aqui, trabalhados da mesma maneira, sem inovação, sem quebra de expectativa ou a tão falada nova forma de se fazer terror. No entanto, isso não coloca o filme em um patamar abaixo. Tudo é executado de maneira tão firme e decidida pelo estreante diretor, que a tensão (aí, sim, uma maneira diferenciada) emerge do silêncio quase sempre ensurdecedor das sequências de susto e medo. E como elas são longas! Como ele, habilmente, vai nos costurando em volta de um fio duro e pouco maleável de pavor, fazendo-nos ficar ofegantes e fragilizados com o que advirá! Uma aula do cinema clássico de terror, apesar de um exagerozinho aqui ou outro ali.

Se no capítulo 2 eu reservei um parágrafo para falar de Talitha Bateman em sua excepcional atuação, repito (com um pouco menos de entusiasmo, porém) a homenagem ao trabalho de Mckenna Grace. Parece-me que o trabalho de atores em “Annabelle” é feito com um cuidado maior: que poder de olhares, falas e sensações nos permite experimentar a jovem, porém experiente Grace. Como o terror fica tão mais marcante quando o percebemos nos olhos e nas feições de nossos protagonistas! De forma que nos vemos refletidos em nossos medos pela tela do Cinema que, uma vez mais nesta sequência, nos engole sem dó ou piedade para dentro do mundo perturbador desses personagens da vida real, a família Warren.

Como uma longa sequência de 1h40min, Annabelle 3 não pára um só instante; não vacila, não hesita. Desde sua primeira sequência até a conclusão, somos efetivamente tragados por um bloco único de terror tradicional, cujos sempre presentes alívios cômicos nem são tão usados para não quebrar as sensações exploradas por Dauberman. A falta de inovação e algumas escolhas já mais conhecidas e esperadas, porém, não o colocam no nível de seu predecessor, mas destacam esta obra no meio de tantos outros títulos fracos e nada inspirados, como fora o caso do já citado “A Freira“.
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