Crítica: X-Men: Fênix Negra (Dark Phoenix)

Na lacuna deixada pelo excelente “Vingadores“, as histórias de super-herói da Marvel podem ter encontrado um anticlímax, já que o público vibrou como nunca antes na longa e épica narrativa dos principais personagens dos quadrinhos reunidos. Repetir a dose com qualquer outro título, em especial em um conto solo, poderia se apresentar como difícil tarefa. Fosse lançado agora o tocante e impactante “Logan“, até que o auge conseguiria ser mantido. Mas quando a opção foi focar na história de Jean Grey, talvez uma quebra de expectativa fosse garantida. O novo lançamento de filme baseado em personagens da Marvel (mas não do MCU), X-Men: Fênix Negra, portanto, apesar de uma vacilada ou outra, traz uma produção bem interessante e pontual nos assuntos que aborda.

Os X-Men parecem ter se tornado uma espécie de esquadrão de elite do governo americano. Convocado pelo presidente em situações de pouca urgência para a sociedade como um todo, o professor Xavier sempre se mostrara solícito às chamadas do Estado, colocando – para alguns, desnecessariamente – em risco os seus tutelados. Em uma campanha para salvar astronautas de uma missão falha no espaço, seus principais comandados vão até o Grande Desconhecido recuperar a tripulação. Uma vez lá, porém, Jean Grey (Sophie Turner) é “invadida” por um tipo de explosão cósmica, tornando-se alguém mais poderoso e incontrolável do que era.

O lado negra da fênix.

Tal força passa a ser perseguida por seres alienígenas que tomam a forma de humanos (sendo Vuk, a líder, pela perfeição encarnada Jessica Chastain), confundindo os que lutam para manter Jean em sua forma normal. Em paralelo a isso, Grey trava uma batalha interna quando esta espécie de energia começa a quebrar as paredes emocionais de proteção que Xavier, de maneira egoísta, havia erigido para não consumir a então pequena Jean quando do contato com esses traumas. Eis que surge aqui o maior acerto de todo o filme: falar sobre o que é essencialmente humano a partir de alegorias sobre-humanas na figura dos super-heróis. Egocentrismos, inveja, ciúmes, rejeição passam a ser o foco da narrativa regida por Simon Kinberg. O que está em jogo nesse filme não é uma disputa por maior poder ou a salvação do planeta. É a luta interior que nos faz perceber o quanto a destruição nos reconstrói, podendo nos tornar mais fortes, apesar de flertar intimamente com o abismo infinito.

Obviamente que, por se tratar de um filme de heróis com super-poderes, não poderiam faltar cenas de luta, de explosões e grandes efeitos em uma coreografia de brigas espetaculares. Quando o título envereda por esse caminho, porém, é o momento em que mais falha. A construção do inimigo, do vilão especificamente, é extremamente pobre, não mostrando a que veio e porque se foi. Usado como mera alegoria para fazer o filme acontecer, enquanto narrativa épica que se espera de um gênero desses. Apesar de necessário, na fórmula que se assume em produções do tipo, o embate vilão-herói é o que menos agrada ou funciona neste conto. Vendo-o tão somente como uma história de superação de traumas, analisando-o pelo lado psicológico do que é essencialmente e demasiadamente humano, aí, sim, a obra ganha contornos muito mais profundos e interessantes.

A perfeição.

Como de costume nos últimos filmes dos X-Men da FOX pré-Disney, o filme não mantém a excelência apresentada no MCU, mas Fênix Negra não decepciona os fãs dos quadrinhos que sempre têm sede por acompanhar mais e mais batalhas de seus heróis favoritos. No entanto, deixando-se de lado os aspectos pomposos dessas produções, a obra tem potencial altíssimo para falar fundo a cada um, visto que suas alegorias e fantasias servem, mais do que nunca, para observar os principais elementos que se digladiam diariamente dentro de cada um de nós.

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