Crítica: Atentado ao Hotel Taj Mahal (Hotel Mumbai)

No ano de 2008, diversos paquistaneses promoveram cerca de 10 atentados concomitantes na India, dentre os quais a invasão e o massacre no ilustríssimo cinco estrelas Hotel Taj Mahal, tomando como alvos principais americanos e britânicos; não perdoando, obviamente, qualquer outro que se colocasse no caminho. A principal motivação de todos esses ataques terroristas era a presença indiana na Caxemira. 11 anos depois, Atentado ao Hotel Taj Mahal nos coloca no centro do caos promovido durante horas e horas na capital econômica do país.

A descrição do fato real já é a própria sinopse do filme, no entanto acompanhamos de perto as ações de três núcleos de personagens, mais especificamente: David (em mais uma boa atuação de Armie Hammer) e sua mulher Zahra (Nazanin Boniadi) tentam sobreviver aos ataques, enquanto, de maneira separada e com a ajuda da babá, focam na segurança do filho, ainda bebê; Arjun (pelo excelente Dev Patel), um dos garçons, sikh de boa índole, que vive em situação de baixíssima renda, com mulher grávida e seu filho pequeno, passa cada minuto ajudando os hóspedes, também na expectativa de voltar a ver os familiares; e Imran e Abdullah (em boa aparição de Amandeep Singh e Suhail Nayyar, respectivamente), os terroristas empenhados em realizar a ação em nome de Alá e deu seu grupo árabe. Assim se desenvolve a narrativa, colocando-os lado a lado e cruzando-os nas sequências que seguem bem o estilo thriller em seu desenrolar.

O palco.

A direção segura e firme de Anthony Maras, auxiliado pela sua própria edição em conjunto com Peter McNulty, consegue dar conta da trama que propõe, não deixando um só instante o clima tenso e sombrio presentes na essência dessa história real. E isso pode ser claramente percebido na forma como as sequências impactam seu espectador, saboreando os momentos de suspense ao impor um ritmo de caça, na qual os protagonistas se mostram como presas assustadas frente a uma voraz cadeia alimentar que não pressupõe a menor flexibilidade possível. Seres humanos reduzidos a um alvo qualquer diante de uma construção de ódio imposta pelas relações internacionais, que tampouco se preocupam com a humanidade dos indivíduos que compõem suas sociedades. A micro-história presente no atentado ao Hotel Taj Mahal é uma mera ilustração do que a História do Ser Humano apresenta desde os seus primórdios. Porém, esse que deveria ser o foco primordial de Maras é exatamente onde ele mais falha.

Infelizmente, o que estamos a contemplar nas cenas do filme é mais uma construção demasiado pobre acerca de uma propaganda nada sutil de preconceito contra muçulmanos. Fora uma sequência muito breve na qual vemos certa humanidade ao conhecer mais profundamente a figura de Imran, todo o resto da narrativa relega os terroristas a um plano nefasto de um vilão sem qualquer motivação ou razão (as motivações descritas na introdução do presente texto foram pesquisadas e quando a resposta a um questionamento do filme é sugerido para além da diegese, conclui-se que o filme erra; ele falha). Em uma parte ou outra, ele ainda tenta diferenciar um sikh de um muçulmano, na figura do carismático Dev Patel, para não jogar o que não é ocidental em um mesmo pacote. Mas isso não é o suficiente. O que estamos a contemplar, de verdade, é mais uma produção que não dá o menor olhar mais profundo acerca do Islamismo, fazendo parecer que os pequenos grupos extremistas, na realidade, formam um único e homogêneo bloco de lunáticos com apetite pela destruição. Como cristão, falo com grande certeza que essa religião também prega paz e amor e que essa vertente terrorista é mera deturpação, assim como também vemos na minha religião, aos montes.

O caos.

Essas decisões por demais políticas, e de menos artísticas, reduzem um bom filme de thriller que poderia levantar questões sérias ao se debruçar sobre históricos conflitos que se perpetuam entre iguais, a mais uma propaganda vazia produtora de ignorância e ódio a uma cultura como um todo. Ainda que os aspectos técnicos sejam muito bem realizados, a falta de sensibilidade e profundidade em uma história delicada faz da obra um diferente tipo de atentado a um grupo, colocando-o, igualmente, como um alvo qualquer.

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