Crítica: Os Últimos Czares (The Last Czars) - Minissérie
Quando eu era aluno do ensino médio, ficava fascinado por famílias reais europeias. Passei horas assistindo documentários sobre a sua opulência, seus casamentos arranjados para forjar alianças e disputas militares. Em especial, sempre fui muito atraído por como algumas dinastias chegavam ao fim, dando término, em alguns casos, a centenas de anos de tradição. Dentre as muitas histórias da realeza, duas sempre me chamaram atenção por terem paralelos semelhantes, salvo as devidas proporções, a dos Bourbons e a dos Romanovs.
Ambas eram famílias reais com enorme poder, terras e riquezas, foram derrubadas internamente por uma população extremamente descontente impulsionada por ideologias que moldam o planeta nos séculos seguintes e – o que é mais interessante – tiveram seus seus reis executados. Não é exagero dizer que a Revolução Russa de 1917 foi um daqueles eventos que mudam o curso da História. E caso você tenha interesse em conhecer o processo que leva a queda desse gigantesco império e o fim de uma dinastia de 300 anos, Os Últimos Czares é a série perfeita.
Sendo uma mistura de cenas bem produzidas e atuadas, com partes documentais com depoimentos de historiadores, acompanhamos do início ao fim o reinado de Nicolau II a partir da tentativa de validação da identidade de uma jovem encontrada na Alemanha que diz ser Anastásia Nikolaevna, um das filhas do Czar (o que também é uma história verídica). Vemos todo um império passar por crises internas pessoais, como a hemofilia do herdeiro ao trono e a relação da Czarina com o hipnótico Rasputin, e históricas, como a guerra russo-japonesa e a 1a Guerra Mundial. Aliás, essa alternância entre questões pessoais e históricas carrega os 6 episódios de forma tão magnética que chega um ponto no qual já não é possível distinguir um do outro. Até elementos que você pode julgar não serem importantes quando são apresentados, como a nacionalidade alemã da Czarina, voltam com um peso gigantesco para o término da dinastia Romanov.
Você ficará fascinado pelos personagens históricos de uma época não tão distante, vendo em imagens e vídeos de arquivo o último bastião do absolutismo na Europa. Com todas a ressalvas do planeta, contemplar as péssimas decisões de Nicolau, um Czar fraco e muito influenciável, chega a dar pena, uma vez que – versado em história como você é – sabemos as circunstâncias de seu óbito. Tanto é, que um dos pontos altos da obra e permitido pelo Czar é a relação da Czarina com o mítico (e místico) Grigori Rasputin, um ser tão fantástico quanto perturbado. O papel desempenhado por ele na crise da coroa, com grande influência sobre líderes de uma nação que titubeava, é digno da ficção mais excêntrica que você pode imaginar. Até a sua morte é um evento tão espetacular que fica difícil acreditar que alguém como ele tenha de fato existido.
E caso você esteja se perguntando se figuras históricas soviéticas aparecem, sendo essa a sua única razão para assistir a série, lamento dizer que não, salvo alguns vídeos de arquivo. Contudo, nossos amigos bolcheviques estão presentes e são retratados com todo o peso que tiveram na derrocada final dos Romanovs, com as disputas internas entre os brancos e vermelhos cobrando o preço máximo da família real. Dito isso, só o que posso fazer é recomendar fortemente que você assista a obra para se inteirar e apreciar um processo histórico que moldou o século XX e que reverbera até os dias de hoje. “Deus, salve o Tsar.”
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