Crítica: Testemunha Fantasma (Eerie)

Não raro falamos aqui o quanto o gênero terror é contemplado pelas estreias de Cinema e pela Netflix. No streaming, por exemplo, quando não há um lançamento original, eles tratam de disponibilizar um título que não tenha sido veiculado no país. Temos reparado, inclusive, que a atenção às produções filipinas e indonésias (nessa, em especial na pele do “mitológico” Rocky Soraya) tem sido constante. Assim sendo, a bola da vez é filipina: Testemunha Fantasma. Sei que existe um preconceito inerente ao ocidentalismo (não que orientais não o tenham para conosco também), de se torcer o nariz ao ver um título destes pairando em sua tela. Mas, numa boa, torça o nariz para a grande maioria das novas produções americanas de terror. Os fantasmas filipinos não deixam nada a desejar.

Uma velha escola católica para meninas e dirigida por freiras sisudas, que guardam segredos entre os cantos sombrios daqueles corredores longos. Um boato com status de lenda urbana acerca de uma ex-aluna que se enforcou no banheiro. Sons e acontecimentos durante a madrugada. Os mais velhos elementos do terror, todos em um só tempo, nessa história comum, mas não batida em sua narrativa própria. Pat (em boa performance de Bea Alonzo) é a orientadora educacional do local, que tenta impedir que os contos macabros se tornem realidade na mente ociosa de suas meninas. Mas tudo se torna insustentável quando mais uma vítima é feita. O suspeito: o caseiro faz tudo da escola. No entanto, Pat sabe que se trata de um caso sobrenatural, tal qual o boato de antes, tomando forma mais uma vez e repetindo seu ciclo.

A ponte entre os mundos.

Pat, por meio de supostos sonhos, consegue contato com a alma daquela aluna enforcada, de modo que a sua natureza ruim se ligue aos acontecimentos da escola: segredos vão sendo desvendados à medida em que Pat tenta orientar essa alma penada a encontrar seu caminho. Mas se você acha que o filme para nessa jaula típica do terror raso se engana ingenuamente. Toda essa estrutura do gênero não apaga as intenções muito bem postas do diretor Mikhail Red em falar sobre a natureza humana carnal e a espiritual. Os embates de ambos os “mundos” que estão em constante contato pelos sentimentos mais essenciais que se mantêm vivos, seja no corpo material, seja no etéreo, são o foco da narrativa proposta. E a direção não falha nesse quesito.

Com uma tensão e medo sempre presentes nas sequências, as cenas de susto dão o caráter fundamental para um filme desse tipo. A fotografia que tende para uma saturação de cores baixíssimas, por vezes flertando com o preto e branco, adicionam valor à atmosfera criada. As imagens católicas, o figurino, a própria locação são usados de forma a desenvolver ainda mais o clima da narrativa. E tudo isso com o foco principal sendo o jogo de sentimentos aflorados de cada um dos indivíduos, que o faz caminhar para um ou outro lugar. Se, normalmente, vemos em história demoníacas o quanto o lado ruim da Humanidade é explorado por uma entidade infernal, em Testemunha Fantasma encontramos nessas entidades a manutenção do que é essencialmente humano. A denúncia aqui não é acerca do desconhecido, do sobrenatural; mas no que faz do humano ser o que é por natureza.

Segredos em meio ao cantos sombrios.

Para minha surpresa – e espero que para a sua também – o novo título filipino sustenta o gênero terror sem qualquer problema, sem deixar a desejar em uma só cena, conseguindo ir muito além disso. O que se procura em um filme assim está aqui; e o que não se costuma encontrar também está aqui. Há suspense, há tensão, há horror. Mas, sobretudo, há reflexão. Passo, portanto, a torcer mais o nariz para aqueles fillers semanais que estamos acostumados a ver no Cinema.

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