Critica: Badla

Esse, definitivamente, é um daqueles filmes que, após seu fim, permanece ecoando na mente por um tempo e te faz pensar como o ser humano é capaz de fazer certas coisas consideradas absurdas em momentos de tensão ou desespero. Inicialmente, me peguei questionando o lançamento intencional de Badla (Vingança, em tradução livre) em seu país de origem, no dia 8 de março desse ano, como forma de homenagem ao dia das mulheres, tendo em vista que estamos falando de uma protagonista que se encaixa numa minoria favorecida, mulher de grande poder econômico, e não na conjuntura que é a realidade da grande maioria das mulheres na sociedade a nível mundial. Naina Sethi (Taapsee Pannu) é uma jovem empresária muito bem sucedida, poderosa, cujo drama atual é provar sua inocência, posto que ela se encontra em um quarto de hotel com seu amante morto. No entanto, no decorrer da história fica claro que o suspense indiano não é sobre ela, mas sim sobre outra mulher que vai ganhando uma força descomunal que até então nem ela sabia que tinha, Rani Kaul (Amrita Singh). Ela, sim, é a razão pela qual todas as mulheres deveriam assistir esse filme. O longa também explora a maternidade por dois ângulos diferentes. A relação que duas mulheres completamente distintas têm com seus respectivos filhos gera uma reflexão importante e necessária.

Badla é uma adaptação oficial do filme espanhol Contratiempo, indicado em nosso Garimpo, escrito e dirigido por Oriol Paulo. Ao meu ver, a grande sacada de Sujoy Ghosh, diretor de Badla, comercial ou não, foi trocar o gênero dos personagens principais, a fim de que o empoderamento feminino entrasse em voga. A força da trama está nelas. Personagens como o marido de Naina e o da Rina são mencionados e têm seu valor, mas tem mínimas aparições.

Diante da acusação de assassinato, Naina contrata o melhor advogado criminalista existente, Badla Gupta (Amitabh Bachchan) no intuito de provar sua inocência. A entrevista que se estende por horas consegue manter o espectador envolvido e constantemente em dúvida sobre a veracidade dos fatos, mudando de opinião o tempo todo sobre o que aconteceu. Os diálogos entre Badla e a empresária sugerem um jogo de poder que coloca as emoções à flor da pele e traz reviravoltas convincentes consigo, juntamente com o aumento do número de vítimas e da gravidade do problema. A atuação brilhante de Amitabh somada a um trabalho de edição primoroso nos proporciona planos, ângulos e cortes precisos, que aumentam a tensão do suspense e fazem com que fiquemos até o final do filme ansiosos por um momento surpreendente. A inteligência da fotografia escolhida e da direção de arte também podem ser ressaltadas, tendo em vista a combinação dos tons frios dos figurinos com o cenário gelado de Glasgow, o que traduz o desamor presente em grande parte das cenas e a frieza de alguns personagens.

Existem algumas falhas no filme, cenas que não chegam a comprometer o desenvolvimento da narrativa, mas que poderiam gerar incoerências se analisadas de perto. Não se explica, por exemplo, como Naina consegue viajar para outro país tendo a justificativa de trabalho e seu marido, que na conjuntura presente está em casa cuidando da filha pequena do casal, não tem ciência de detalhes do seu voo e não a questiona, como se ele estivesse à disposição dela, anulando-se totalmente. Além disso, em outro momento, quando os policiais arrombam o quarto do hotel onde ela está hospedada, a protagonista é presa antes mesmo que o corpo fosse verificado. Em nenhum momento foi sequer checado se a vítima estava respirando ou morta de fato, a acusada sai algemada e seu amante, Arjun (Tony Luke) permanece completamente ignorado.

Badla é um filme sobre relações extremas e pessoas. Partindo da premissa que pessoas podem ser imprevisíveis e de que as relações são movidas por acordos e expectativas, vale a pena assistir o ser humano através das lentes de Sujoy Ghosh e degustar a reflexão dos vários conflitos presentes no longa. É trabalho cuidadoso acima de tudo.

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