Crítica: GLOW - 3a Temporada
Nem os sonhos feministas mais alucinantes imaginariam um espetáculo de vivacidade, energia e empoderamento feminino como o que se apresenta em GLOW. Chegando para sua terceira temporada, a série é fortemente inspirada na história real de um dos programas mais polêmicos da TV norte americana nos anos 1980, que retratava as performances ousadas das lutadoras mais icônicas de que se tem notícia (ganhadoras, inclusive, de um documentário em 2012).
De maneira geral, a série trata do lugar ocupado pelas mulheres no contexto social e cultural dos anos 1980, trazendo à cena os desafios encontrados por elas para se colocar e serem ouvidas numa sociedade sexista que objetifica seus corpos e inferioriza suas ideias. Na primeira temporada, vimos que Sam (Marc Maron) é notadamente a figura patriarcal e misógina em destaque, com suas lutadoras desafiando-o constantemente e desenvolvendo seus estilos de luta e alter egos. Os estereótipos de personagens no ringue nos remetem ao ambiente da guerra fria: Ruth (Alison Brie) se torna uma agente soviética que odeia os EUA e se chama Zoya, the Destroya e Debbie (Betty Gilpin) interpreta a super patriótica Liberty Belle. Na segunda temporada, a liga e sua série de TV começa a construir um público regional e vemos as mulheres considerarem o impacto social desses heróis e vilões de cartum, trazendo popularidade para exercer mais influência nos bastidores.
Seguindo a fórmula proposta nas temporadas anteriores, GLOW faz questão de narrar a ótica feminina de maneira sensível e interessante, por meio do relacionamento entre a equipe de lutadoras, seus produtores e demais parceiros, explorando a trajetória pessoal de cada uma e desenvolvendo interessante arcos. Dessa vez acompanhamos as personagens em Las Vegas, tendo que se adaptar a uma rotina de ensaios e apresentações para o público diversificado e rotativo de um cassino.
Apesar de ainda seguirmos com mais destaque o ponto de vista de Ruth – sua busca pela afirmação como atriz e colaboradora da trupe se mantém mas há espaço agora para um dilema mais íntimo e amoroso -, Debbie – o conflito entre a maternidade e a carreira profissional rendem um olhar mais profundo sobre a personagem -, Sam – a questão da paternidade tardia e da estagnação profissional colocam em dúvida sua capacidade criativa – e Bash (Chris Lowell) – desenvolve um intenso arco na segunda temporada, marcado por uma grande perda, e parece agora querer provar sua capacidade como produtor ao mesmo tempo em que constrói uma relação de companheirismo com Rhonda (Kate Nash) -; ainda assim, outros membros do time ganham espaço para desenvolver suas histórias de maneira satisfatória, com destaque belíssimo para Sheila, a loba (Gayle Rankin).
Em termos narrativos, GLOW é certamente uma excelente opção do catálogo da Netflix atualmente, enganando à primeira vista por parecer uma temática “fútil” e surpreendendo o espectador com a trama de representatividade feminista. A diversidade é o aspecto marcante da série, que utiliza de maneira inteligente as questões étnicas/sociais para construir diálogos intensos sobre a realidade e os desafios enfrentados por grupos minoritários – sobre essas questões, merece destaque o 6o episódio, no qual presenciamos um debate ideológico e a presença de lugares de fala e experiências historicamente significativas. O visual eletrizante dos anos 1980 dá uma vivacidade para as personagens e marca uma bela caracterização de época.
Em contrapartida, há um certo descompasso no timing de alguns episódios, assim como uma certa sensação de lentidão para os acontecimentos se desenvolverem. Além disso, vemos o ônus de um roteiro cheio de personagens por não sobrar tempo de tela para muitos deles, o que é uma pena. Apesar disso, não resta dúvidas de que GLOW merece uma continuidade e já tem espaço entre as grandes produções dessa plataforma tão bem sucedida em lançamentos originais. Vale a pena conferir!
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