Crítica: Kengan Ashura - Parte 1
Esta é a crítica da 1a Parte do anime. A crítica da Parte 2 pode ser lida aqui.
Vou assumir que se você está aqui é porque viu e gostou de “Baki – O Campeão” (com críticas no site: Parte 1 e Parte 2), sendo um fervoroso fã de animes shounen, vulgo, porradeiro. Tendo em vista o material de divulgação de Kengan Ashura, estava claro que teríamos algo muito próximo de Baki e que atrairia o mesmo público. E cá estou para dizer que se você gostou de ver cenas de lutas exageradas numa animação 3D merda, você está com sorte… Kengan é tudo isso e mais um pouco. Antes de tudo, vamos contextualizar essa pancadaria. Estamos num tradicional sistema de resolução de conflitos empresariais no Japão moderno, herdado da época do Xogunato Tokugawa (de uns bons séculos atrás), no qual lutadores representam essas corporações em combates um a um sem qualquer regra. Para que ir à justiça se você pode resolver no braço, não é? Contudo, dentre disputas corriqueiras desse sistema, ocorre a elaboração de um torneio para ver quem será o chefe da instituição – Kengan Ashura – que regula essa tradição centenária, o Torneio da Aniquilação.
É isso. Essencialmente temos uma história bem largadinha apenas para justificar muita pancadaria. Porém, mesmo ostentando essa premissa meia boca para vender o clássico modelo de torneio, temos histórias interessantes se desenvolvendo ao fundo. Não é ao nos apresentar as vantagens de ser presidente dessa caralha de organização, com os CEOs sendo personagens muito desinteressantes, que o anime brilha, mas, sim, com a motivação dos cachorros loucos soltos nessa arena. É isso que conduzirá seus 12 primeiros episódios. Toda a estrutura do torneio está lá, indo desde uma classificatória de 100 lutadores num battle royale para sobrar 5, passando pelo processo de chaveamento numa oitavas-de-final, até as intrigas de bastidores que tentam arranhar o protagonismo das lutas. Ou seja, a trama aqui serve apenas para colocar colossos em rota de colisão.
Temos 32 lutadores nas oitavas representando 32 empresas japonesas. Várias delas remetem a outras conhecidas, como a Panensonic, a Nentendo – que tem seu lutador um cara de macacão viciado em videogames -, temos um palhaço da indústria alimentícia que lembra muito o icônico Ronald McDonald, e lutadores que são xerox de outros consagrados em franquias importantes, como Makoto Shishio do “Samurai X”, Sagat, Zangief e Balrog do “Street Fighter”, Shiryu dos “Cavaleiros do Zodíaco“, dentre outros. Por incrível que pareça (ou não), todo lutador é muito fodão e lendário de alguma forma de arte marcial – que de fato existe – e possui alguma técnica única e especializadíssima. E o mais legal, e que diferencia o anime de “Baki”, é que você realmente se importa com pelo menos 1/3 deles, já que a obra gasta 2/3 dos episódios estabelecendo suas motivações e passados. Até mesmo lutadores que são apresentados no momento que entram na arena recebem uma atenção e um cuidado que não os tornavam tão esquecíveis e descartáveis assim. Em alguns casos, eu torcia mais para um lutador de elenco de apoio, que eu sabia que perderia, do que para nosso protagonista Ohma Tokita, cabeça de pica (se você vir dublado você vai pegar… e que dublagem maravilhosa). Prova disso é o fantástico Lihito, um lutador que percorre toda a temporada e que rouba sempre a cena quando aparece.
Considerando que é uma anime porradeiro, até que temos pouco tempo de luta e que bom que seja assim. Há aqui uma valorização grande de povos espalhados pelo mundo e a cultura de artes marciais locais. Inclusive, famílias tradicionais são a todo tempo remetidas e representadas, como a família Kure, que serviu pessoas reais com a sua linhagem herdando os conhecimentos beligerantes de seus antepassados. Artisticamente temos aquela merda inacreditável de animação 3D, MAS ela consegue algo que é muito interessante. As lutas são fluidas e cada golpe carrega um peso tão grande que fica impossível não reagir com caras e bocas a cada golpe que entra. Quebrando as cenas fora de ação com esses manequins sem vida andando e conversando, temos algumas cenas com uma animação tradicional muito estilizada e que, ao mesmo tempo que dá um alívio, causa uma angústia ao dar um gostinho do que poderia ter sido todo o anime.
É uma obra pé no chão? Não. Mas ainda assim ela é ligeiramente crível, tanto no que tange as habilidades dos lutadores quanto a as suas dimensões. Aqui você não verá lutando gente que explodiu granada na boca, sem perna, crivado de bala, os dois braços quebrados ou qualquer coisa que impossibilite alguém normal de andar. Muito menos verá um cara ter 3 metros e pesando 300kg de músculo numa cena e na seguinte parecer ter metade disso. Ainda é viajado? É. Nunca vi – e se você já viu deixa nos comentários – alguém quicar no chão depois de levar um soco. Não é o melhor exemplo de obra sobre artes marciais, mas talvez seja o melhor anime com torneio desde “Yu Yu Hakusho” que vejo e aguardo ansiosamente pela Parte 2.
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