Crítica: A Pequena Suíça (La pequeña Suiza)

Ao escolher esse filme para resenhar, recebi um alerta do nosso probo editor Gustavo David. “Olha, se liga. A Netflix tem lançado umas comédias espanholas do tipo Zorra Total e essa pode ser mais uma delas, viu? Fique avisado!” Não dei muita bola e me mantive firme na decisão de assistir a A Pequena Suíça, somente para perceber que Gustavo, o Justo, tinha acertado em cheio, como lhe é costumeiro. Na linha de comédias como “Yucatán” e “O Chefe“, este filme é uma bobagem pueril do início ao fim que joga fora um argumento que até tinha algum potencial.

Certa vez, uma professora de História da América na Universidade (sou formado em História) falou algo que jamais esqueci: “A Espanha foi capaz de colonizar um continente inteiro, do México ao Chile (com exceção de Pindorama, onde vivemos) mas não foi capaz de colonizar a si própria.” De fato, num território um pouco menor do que Minas Gerais, encontra-se um sem número de regiões autônomas e línguas diferentes do espanhol oficial, onde vira e mexe estoura uma revolta, um piti generalizado, mas que nunca, nunca dá em nada, e todos seguem “felizes” sendo espanhóis. Cada um a sua maneira e quase todos amando odiar o governo de Madri.

Suíços da gema!

Brincar com essa sanha separatista de todo canto da Espanha é o mote principal de A Pequena Suíça, filme estreante na Netflix esse fim de semana. Um vilarejo fictício chamado Tellería, de suposta origem Basca (e onde ninguém fala o idioma Basco) está desesperado para ser aceito por essa região autônoma como legítimo integrante, mas tem suas aspirações frustradas por um acordo político costurado na capital espanhola. Os habitantes então entram em total desalento, pois em sua grande maioria, não se enxergam como espanhóis. E é aí que entra em cena o casal de pesquisadores Gorka (Jon Plazaola), um ex-morador do vilarejo e Yolanda (Maggie Civantos), que num evento fortuito dentro da Igreja local, descobrem a tumba do filho de Guilherme Tell, herói lendário suíço. Tellería então seria a “Cidade de Tell” e, por uma construção um tanto estapafúrdia, a comunidade passa a acreditar que eles devem ser anexados pela próspera Comunidade Helvética, livrando-se uma vez por todas do jugo espanhol.

Secretária de Governo da Suiça: WTF???

O que se desenrola a partir desse momento é um sem número de cenas que mais parecem terem sido retiradas de um programa de auditório para donas de casa espanholas. O filme até acerta ao fazer uma caricatura bastante debochada do povoado tentando forçadamente assumir tradições suíças e por vezes consegue  arrancar alguns risinhos do espectador. Dá até pra enxergar na tentativa de fazer piada uma crítica a construções superficiais de sentimentos nacionalistas, uma praga tipicamente européia que eles espalharam para todo o mundo ocidental e que persiste até hoje. Mas o que se vê, principalmente do segundo terço do filme em diante, é um pastiche babaquara que força a barra no desenrolar de um quarteto amoroso (que em certo momento se tornará quinteto), inclui uma história rocambolesca de um padre vendendo armas para grupos terroristas e, no final das contas, não entrega nem uma história realmente divertida e muito menos atrativa. Tudo isso entremeado por musiquinhas e sonoplastia que deixariam o técnico de som dos Trapalhões ruborizado de tão infantis. Enfim, A Pequena Suíça é um filme que em pouquíssimos momentos esteve perto de alcançar seu objetivo e que em sua maior parte te faz indagar o que você poderia estar fazendo de mais legal na sua vida do que o estar assistindo.

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