Crítica: Verão de 84 (Summer of 84)
Listado como um filme que se enquadra em terror, suspense e mistério, Verão de 84 é aquele típico longa que eu costumava ver na sessão da tarde, sobre garotos que, em seu tempo de ócio criativo, se põem a investigar qualquer coisa que considerem estranha no bairro. Como se ávidos por aventura, mas sabendo que o universo se limita tão somente ao quintal de suas casas. No entanto, naqueles títulos que assistia na TV aberta, quando da chegada à casa após a escola, algo sempre acontecia e os protagonistas se viam efetivamente em uma aventura grandiosa, na qual lutariam por suas vidas. Exatamente como em “Garotos Perdidos” ou aquele das fitas de videogame que escondem segredos e que envolvem na trama velhos de três dedos (já não me recordo do nome). Em todas essas obras, certamente poderíamos identificar os estilos de terror, suspense e mistério. Mas um quê de comédia, principalmente. É isso que ocorre na produção em análise.
Davey (Graham Verchere) é um garoto como outro qualquer. Em suas férias de verão, gasta o tempo com amigos, brincando de pique-esconde, espionando a vizinha (e ex-babá) gostosa, através de seus binóculos, enquanto troca de roupa (nutrindo um amor platônico por ela), viajando em sua mente acerca de conspirações, abduções e qualquer mistério que o mundo sempre sugere que exista, mas que nunca é explícito. Sempre se comunicando com o grupo por walkie-talkie, a relação dos garotos e seus afazeres em muito se assemelham com a popular série “Stranger Things“. Aliás, tanto a caracterização (por se tratar da década de 80) quanto a trilha sonora também ajudam a marcar essa atmosfera familiar. E, tal qual todos os títulos aqui referenciados, um acontecimento choca o cotidiano dos personagens: um psicopata em série está à solta e crianças começam a desaparecer. Davey desconfia que um vizinho, o policial Mackey (Rich Sommer), é o autor dos sequestros.

O que se segue, portanto, é o desenrolar da narrativa que vai mergulhando os garotos nessa busca investigativa e divertida pelo psicopata à solta. No entanto, nem todos compartilham do mesmo foco de nosso protagonista: um deles só pensa em mulheres e é rebelde, outro é um gordinho atrapalhado e outro um nerd que fica em cima do muro. Nikki (pela linda Tiera Skovbye), a vizinha-amor-platônico, também entra na trama ao ser envolvida pelas investidas dos meninos. A própria configuração do grupo também lembra muito a série supracitada, mas nesse caso incorrendo em estereótipos já batidos e pouco interessantes: o rebelde metaleiro tem problemas de família e não quer passar seu tempo em casa (mas esse seu conflito nos é passado sem qualquer profundidade e de forma muito en pasant); o nerd tem essa construção porque sabe de uma coisa ou outra de ciências e usa óculos (sua construção é, de longe, a mais rasa); e o gordinho atrapalhado é usualmente zoado pelo grupo e também carrega certa tristeza por algum problema que a mãe passa (tampouco aprofundado). O único personagem que tem uma construção mais evidente é o protagonista, mas ainda assim seu núcleo familiar é quase figurativo, não chegando ao posto de sequer coadjuvantes. Nikki está ali para ser o refúgio amoroso da história (com questões familiares também).
Em paralelo, o filme fica trabalhando com as hipóteses de o vizinho policial ser, de fato, o algoz ou alguém inocente, o qual sofrera com uma narrativa orientada de um garoto sem ter o que fazer. É óbvio que Davey vai reunir provas que, para ele, são definitivas, mas que são facilmente descaracterizadas por um olhar e opinião adultos. Tudo o que ele juntara parece ruir como um castelo de areia, mas algumas pistas são tão evidentes que o espectador não guarda tanta dúvida em relação ao desenrolar do conto. Apesar disso, a direção do trio consegue manter firme a tensão, mesmo se envolvendo em lugares comuns durante todo o desenvolvimento e deixando de lado a profundidade que cada um de seus personagens teria a oferecer. Valendo-se de estereótipos ao invés de valorizar a obra com protagonistas de verdade. Uma falha no roteiro que reduz em muito o potencial da história.

Verão de 84 enquanto obra nostálgica de quem construiu sua infância com filmes desse tipo funciona melhor do que como uma peça por si só. Certamente que suas opções narrativas não incomodam ou tornam a experiência cinematográfica enfadonha; mas, simplesmente, tampouco apaixonam ou marcam o espectador como aquelas anteriores fizeram. Pode ser que minha fala esteja orientada por um olhar tão menos pueril do que o de antes, mas ainda assim me parece claro que repetir fórmulas e arquétipos tantas décadas depois sugere um sinal de preguiça ou falta de criatividade.
Leave a Comment