Crítica: Marianne - 1a Temporada

O acervo de séries originais Netflix produzidas na França pode ser considerado um tanto quanto inconstante. Tal qual os lançamentos espanhóis (que chegam aos montes para nós), há de contos brilhantes a erros bastante evidentes. Uns definitivamente inspirados e outros pouco inspiradores. Nesta sexta-feira 13, o novo lançamento do gênero terror (já estava sentindo falta) foi a série francesa de 8 episódios intitulada Marianne. Em um misto de metaficção, a obra passeia por vários estilos tentando formar um conjunto que associe terror, drama e um ou outro alívio cômico.

Emma é uma jovem escritora muito conhecida por uma sequência de obras de um mesmo universo que coloca a mulher de um demônio, chamada Marianne, como uma entidade a assombrar sua personagem principal. Quando decide publicar o derradeiro título, optando por abandonar esse mesmo mundo no qual trabalha há mais de 10 anos, uma antiga amiga, com quem perdera contato, aparece em uma tarde de autógrafos claramente perturbada. Ela insiste que Emma vá falar com sua mãe, quem diz ser a Marianne de seus livros. Emma se recusa ao máximo, mas quando a situação toma contornos insustentáveis, a protagonista se vê obrigada a voltar para sua pequena cidade natal, a qual deixara e da qual nunca gostara. Uma vez lá, ela irá rever seus antigos amigos, reencontrar os pais e reviver seu dramas nunca superados. É nesse momento que a trama toma contornos de metaficção, ao misturar a literatura da escritora com o que ocorre em sua vida pessoal. Ali conhecemos a real inspiração da autora.

Fantasmas do passado.

Aos poucos, vamos claramente tendo a sensação de que o que está escrito nas páginas dos livros começa a se desenrolar à sua frente. A tal entidade Marianne passa a possuir as pessoas próximas a ela, fazendo seu mundo virar de ponta cabeça, enquanto Emma tenta abandonar toda e qualquer intenção de continuar a escrever aquela história. No entanto, esta é a principal ordem de Marianne: que ela continue a escrever. “Escreva! Escreva”, é lançado o comando através de muitas pessoas possuídas ou de mensagens deixadas ao vento, em típicas sequências de terror, que amedrontam mais e mais a protagonista, cada vez mais encurralada pelos seus pesadelos de infância, pelos seus textos já eternizados e pela sua mente obscura que a aprisiona nos cantos mais escuros de sua alma. Quando, porém, o demônio começa a afetar a vida de seus entes queridos e amigos próximos, Emma tem que tomar uma posição e enfrentar as ordenanças do diabo cruel.

A narrativa mescla alguns estilos cinematográficos, como já exposto. No entanto, aparentemente isto se dá de uma forma pouco habilidosa. As cenas de terror são muito bem filmadas e impõem um medo bem presente em sua atmosfera. Um quê de bizarro e sádico em algumas passagens tornam o conto bem marcante quando envereda pelo lado puramente do terror. Apesar disso, por vezes, há uma montagem desconexa entre as sequências. Após um quase exorcismo de assustar, é possível esbarrar com uma cena levemente cômica ou com personagens caracterizados também nesse estilo, talvez como um alívio cômico, mas que não funciona em nada para a narrativa, deixando-a confusa e pouco lapidada. Além disso, um ensaio de turning point exatamente na conclusão do 4º episódio, o que parecia deixar tudo mais interessante, não se concretiza como tal e a história retorna ao seu marasmo de antes. Toda a perseguição de Marianne por Emma e sua escrita vai se fazendo mais e mais igual e o desinteresse do espectador vai emergindo enquanto a expectativa por aquele conto vai se apagando. Por longos momentos, há uma clara impressão não só de falta de ritmo, mas sobretudo de um caminho que nos leva de lugar nenhum para qualquer lugar. Melhor dizendo, como se rodando em círculos e parando no mesmo ponto de partida, sem muito o que mudar nessa caminhada.

O passado se fazendo presente.

Com uma premissa bastante interessante, mas um roteiro que coloca armadilhas aos seus escritores, Marianne não parece vingar em sua proposta, sendo ainda mais afundada por uma personagem pouco cativante e atraente no sentido narrativo. Emma é uma pessoa egoísta, que se acha mais do que é, e que toma decisões um tanto quanto condenáveis em relação aos amigos mais próximos e aos seus familiares. Se não nos é possível uma empatia por ela, o principal alicerce da história começa a ruir. Isso aliado à falta de uma rédea firme na condução da série resulta em uma obra que tinha muito a oferecer, mas que ficou pelo caminho, assombrando sua própria assombração. Apesar de interessante, a produção não conseguiu mostrar sua potência.

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