Crítica: Daybreak - 1a Temporada

Caros amigos do MetaFictions, esse final de semana entrou no cardápio da Netflix uma pedida com enorme variedade de sabores, mas ao mesmo tempo muito específica. Estou falando de Daybreak, série que, de forma muito resumida, é uma mistura de “Mad Max” com zumbis. Mas não deixe se enganar por essa mistura caótica e batida. Há aqui muito mais do que os olhos podem ver. A obra é uma verdadeira ode, sátira e paródia da cultura pop dos últimos 50 anos. Desde o 1o episódio você será soterrado por referências de games, filmes e séries, na sua maioria atuais, mas com algumas que datam de décadas, indo desde obras indies a clássicos do cinema, passando pela escola americana e indo até o oriental. Ao mesmo tempo que é para todos, também é para poucos.

Acompanhamos Josh Wheeler (Colin Ford) procurando Sam (Sophie Simnett), ambos adolescentes nos arredores de Los Angeles num mundo pós-apocalíptico onde todos os adultos, por algum  motivo, morreram ou viraram uma espécie de zumbi. Durante sua empreitada, ele esbarra em Angelica (Alyvia Alyn Lind) e Wesley (Austin Crute), que passam ajudá-lo ao mesmo tempo que tentam sobreviver em uma cidade dominada por grupos do adolescentes estereotipados divididos em grupos, exatamente igual ao bom game “Sunset Overdrive”, sem tirar nem por. Nosso grupinho, além de perseverar na busca pela sua amada, precisa escapar das garras de Turbo Bro Jock (Cody Kearsley), nosso líder dos grupos de adolescentes e antagonista.

Eis que começam os problemas da série. Em 1o lugar, não há um norte. Embora 1/3 da obra seja contada por meio de flashbacks, estabelecendo as relações dos personagens envolvidos na trama antes do mundo ir pro caralho, no presente essas relações não se sustentam. A busca por Sam, por exemplo, é tão rasa que você esquece que esse era o foco até alguém mencionar seu nome. E, pior que isso, nesse apocalipse, todos os sobreviventes são insuportavelmente enfadonhos e contraditórios, tendo em dois personagens os pontos mais baixos da série: Angelica, a Tiny Tina de “Borderlands” sem tirar nem por, e Turbo Bro Jock, o típico vilão de “Mad Max”, aquele mascarado que mal fala e é movido pelo instinto. Esses dois são apenas exemplos de uma série de personagens rasos com os quais você não se importa.

Contudo, elevando a qualidade da narrativa, outros dois personagens carregam as melhores cenas nas costas. Ms. Crumble (Krysta Rodriguez) e Burr (Matthew Broderick), respectivamente a professora e o diretor da escola dos sobreviventes. Em especial o episódio 8 – focado na Ms. Crumble – vemos o quão bom poderia ter sido Daybreak, com cenas que realmente tinham significado, avançavam a trama e davam peso a uma personagem que já era a minha favorita desde o início, especialmente por se destacar nesse mar de superficialidade. A relação dos dois com os demais sobreviventes é o que vai sustentar esses 10 episódios, mas, infelizmente, eles não acompanham os momentos-chave da temporada, transformando o segundo terço numa barriguinha que poderia ter sido evitada e desfecho em algo insosso.

Porém, nem tudo está perdido! Embora Daybreak peque ao não trazer algo original, ele recria cenas clássicas com falas em outros contextos, que, se não me falha a memória, foi a melhor sátira que vi nos últimos 10 anos. Há um tempo de comédia e atuações que de fato arrancam risadas, carregadas por uma outra qualidade da série: episódios específicos imitando a direção e a cinematografia de obras renomadas ou shows populares. Você gosta da quebra da 4a parede? Temos. Curte o formato 4:3 dos anos 80? Bem-vindo. E sitcoms? Você está com sorte então. Cada episódio é completamente diferente do outro e isso traz um frescor necessário para um roteiro que cambaleou.

Como disse na abertura, ao mesmo tempo que é para todos, também é para poucos. Você certamente sairá dessa experiência pegando algumas referências, porém, para tirar proveito máximo dessa aventura, requer que você seja muito ligado à diversas mídias diferentes e esteja por dentro de décadas da cultura pop. Vale uma conferida? Certamente, afinal… quem não curte o fim do mundo?

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