Crítica: Influência (La Influencia)

Casas antigas de corredores longos e pouco iluminados. Objetos de magia negra e histórias passadas de bruxaria. Indivíduos atormentados por uma vida de assombrações e possessões, cujo passado jamais pode ser exorcizado de suas mentes por demais abaladas por cenas marcadas de uma infância nada prazerosa. Essa parece ser a sinopse genérica da maioria dos filmes de terror que já foram produzidos ao longo das décadas. Essa caberia bem como a sinopse do novo lançamento do gênero da Netflix, na produção espanhola Influência. No entanto, a suposta inovação é colocar todos esses elementos, a um só tempo, naquela que deveria ser a mais aconchegante e suave das memórias/local: a casa de infância e mãe de nossas protagonistas farão o papel do horror a ser presenciado pelos espectadores.

Alicia (Manuela Vellés) é uma enfermeira que volta a morar na antiga casa de infância, onde vive sua mãe e sua irmã Sara (Maggie Civantos). Aquela, juntamente com seu marido Mikel (Alain Hernández) e sua jovem filha Nora (Claudia Placer), se muda para esta habitação, pois a matriarca parece vegetar em cima da cama, mantendo-se viva por conta de aparelhos que garantem os seus sinais vitais. Esse retorno, após longos anos, faz a protagonista mergulhar em um turbilhão nada agradável de memórias que machucam e que apresentam, em sua narrativa, uma mãe obcecada por artigos de bruxaria e magia negra, envolvendo as então pequenas filhas (Alicia e Sara) em seus rituais loucos e assustadores, esboçando algumas práticas de tortura nos malditos ritos que recheiam as sequências. A fragilidade de ambas as irmãs vão emergindo à medida em que vamos conhecendo um pouco mais dessa personalidade confinada a um quarto sombrio e pouco caloroso.

Máscaras que não são meras fantasias.

Mesmo sem qualquer ação consciente, a velha consegue se comunicar com a pequena neta que, em seu primeiro contato com a avó, já se mostra deveras confortável em sua comunicação com essa espécie de entidade sobrenatural. Nora vai tomando o papel da mãe e tia, quando estas eram crianças, nessa nova investida da bruxa (agora velha e desacordada em uma cama), enquanto Alicia faz de tudo para evitar a menor proximidade da menina com aquela que se apresenta como a algoz de seus primeiros anos. É nesse contexto que o filme se divide em duas propostas aparentemente valorosas e bem definidas: se por um lado estamos a ver um filme de terror, com todos os seus elementos de gênero lapidados na tela; por outro lado, estamos de frente para um drama familiar no qual, através das alegorias macabras e cenas pesadas de feitiçaria, um relacionamento abusivo de mãe para filhas toma forma e se concretiza a cada memória recuperada e ofertada ao espectador. Se em filmes de terror usualmente acompanhamos os protagonistas que lutam contra um demônio a agir insistentemente na destruição daquela vida, aqui a força diabólica a ser vencida e exorcizada nada mais é do que a própria figura central de uma família. O templo demoníaco que comumente surge nessas produções, aqui é a casa onde se nasceu e se cresceu e onde seu caráter fora formado. Ou seja, o templo negro e macabro de frustrações é a deturpação do que deveria ser o ninho protetor e inquebrável.

Mas isso que surgira como uma proposta de grande aposta para fugir bastante do que normalmente se vê em filmes de gênero não é utilizado em sua potência máxima. Aos poucos – triste admitir isso – o diretor Denis Rovira van Boekholt vai abandonando todo o terreno preparado para frutificar o drama familiar com roupagem de terror e vai enveredando tão somente pelo horror, recriando e recaindo nas velhas sequências que trazem muito pouco àqueles que estão plenamente acostumados com esse universo. Fora isso, a forma como a narrativa vai ligando (ou, na verdade, “desligando” seus pontos de conexão) também agrega muito pouco à trama, deixando várias pontas soltas e sem grande carga dramática para os elementos que foram, ao longo da história, lançados e explorados. O que mais incomoda, talvez, seja o desenvolvimento de alguns acontecimentos que não apresentam solidez em suas motivações, evidenciando uma forçada na maneira pela qual o roteiro fora conduzido.

O terror interno.

Pesando-se seus pontos positivos e negativos, Influência nos deixa aquele sabor doce-amargo ao vislumbrarmos um conjunto de elementos com grande potencial para vingar, podendo nos entregar uma produção realmente valorosa, que conseguiria ir além de um gênero, ainda que respeitando todos os aspectos de suas principais características, mas resultando em algo que parou no meio, que desistira de sua própria suposta premissa. E que, em conclusão, nos deixou mais outra obra que, se não promove rejeição, tampouco nos agarra em sua teia e nos impede de fugir de suas presas.

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