Garimpo Netflix #40
O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.
Que os nobres leitores do MetaFictions fiquem avisados: o Garimpo desta semana é para os que possuem estômago forte e estão ávidos por cinema de excelente qualidade que ao mesmo tempo informa, choca e emociona, além de tocar em algumas das nossas questões mais complexas. Nós, os nada humildes representantes de uma espécie auto-intitulada Sapiens (“Sábios”) e capazes das mais ferozes atrocidades, como as retratadas nesses três filmes a seguir.
Portanto, segurem-se em suas poltronas e fiquem com as dicas especiais do Garimpo desta semana!
– 22 de Julho (22 July), de 2018, dirigido por Paul Greengrass
Todo bom fã de cinema deve saber que Paul Greengrass é um grande diretor. Neste século, ele assina a direção de filmes excelentes como “Voo United 93”, “Domingo Sangrento” e “Capitão Phillips”, além dos melhores da saga Bourne. Seu mais recente, este 22 de Julho, mantém com louvor sua tradição de direção segura, além de roteiros excepcionais. O filme conta a história dos atentados ocorridos na Noruega em 2011 que mataram 77 pessoas, perpetrados por um fanático extremista de direita que alegava estar fazendo um bem ao país ao libertá-lo de marxistas e liberais.
O filme se concentra em 3 personagens para contar a história: o terrorista Andres Breivik (Anders Danielsen Lie), seu advogado Geir Lippestad (Jon Øigarden) e uma de suas vítimas sobreviventes, Viljar Hanssen (Jonas Strand Gravli). Greengrass é corajoso ao dar voz aos delírios fascistas e carregados de ódio do terrorista sem nunca demonizá-lo de forma maniqueísta, mas apostando na inteligência do espectador em entender os absurdos sem fundamento que ele entoa, além de nos sensibilizar com a consequência devastadora de seus atos na vida do envolvidos diretamente nos ataques e também de toda uma nação.
Filmaço que vale muito a pena ser visto!
– Operação Final (Operation Finale), de 2018, dirigido por Chris Weitz
Em maio de 1960, agentes secretos israelenses capturaram Adolf Eichmann, um nazista de alto escalão e um dos principais artífices da Solução Final, que estava escondido na Argentina. Seu julgamento subsequente, realizado em um tribunal de Jerusalém e aberto ao público, foi um evento crucial no ajuste de contas global com o Holocausto, e posteriormente narrado pela filósofa Hannah Arendt em seu excepcional livro “Eichmann em Jerusalém”, que popularizou a tese da “banalidade do mal” em referência à cinza, comezinha e burocrática personalidade que Eichmann exibiu em seu julgamento.
Operação Final conta de forma bastante competente os esforços do temido serviço secreto israelense, o Mossad, na captura deste que é considerado o “Arquiteto da Solução Final”. Muito calcado nas atuações do excelente Oscar Isaac no papel do agente Peter Malkin e do eterno Ben Kingsley no papel de Adolf Eichmann, esse filme possui suspense e emoção até o final, além de contar a história com riqueza de detalhes e ambientação de época excepcionais.
Grande história e grande filme. Confira!
– O Fotógrafo de Mauthausen (El Fotógrafo de Mauthausen), de 2018, dirigido por Mar Targarona
O segundo filme da diretora espanhola Mar Targarona (que nome foda, hein?) parece coisa de profissional de longa estrada. o filme é vívido, envolvente e em alguns momentos aterrorizantes. Conta a história do fotógrafo catalão Francisco Boix (Mario Casas), um catalão comunista preso no campo de concentração austríaco de Mauthausen. Ele é ensinado na arte da fotografia por um oficial das SS, Paul Ricken (Richard van Weyden), o fotógrafo oficial do campo de concentração. Boix reconhece os horrores que ocorrem no acampamento à sua volta e, à medida que a notícia de que forças libertadoras se aproximam, os nazistas ordenam a destruição das evidências fotográficas das atrocidades. Boix e seus companheiros de prisão lançam então um plano para esconder negativos de filmes e proteger o material que expõe o horror.
O filme é, como esperado, escuro e frio, tanto atmosférica quanto emocionalmente. Transcendendo a crueldade do assassinato sistemático e a insensibilidade individual, Targarona constrói a complexidade de seus personagens para contar uma história bastante interessante no contexto de um terror implacável. Destaque para o ator Mario Casas que teve que perder mais de 40 quilos para desempenhar o papel.
Filme tão duro quanto necessário, merece bastante sua atenção!
Leave a Comment