Garimpo Netflix #42: Obsessão

Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.


Garimpo da semana, além de ter um fio condutor entre os títulos (como sempre tento fazer, mas nem sempre consigo), traz histórias com elementos muito comuns, mas narrativas e formas completamente distintas entre si. O tema da vez é “obsessão”, mas mais do que isso é a obsessão dentro de um relacionamento e/ou em suas relações pessoais.

O desejo é aquilo que move todo e qualquer indivíduo, capaz de colocá-lo no limite de sua moralidade e fazê-lo atravessar, sem pestanejar, a linha que o bloqueia em suas ações. O desejo pode reduzir seres humanos a bestas, se levado à sua potência máxima. E a plena vontade de realização do desejo quase sempre submerge o indivíduo, prendendo-o em uma teia voraz de obsessão.

Essas características de uma história poderão ser vistas em uma obra marcante de um diretor clássico, em uma produção independente que não segue uma narrativa trivial e em uma realização voltada para o público mais teen. Mais do que um outro Garimpo, esta edição é também um exercício de Cinema.


Ponto Final: Match Point (Match Point), de 2005, dirigido por Woody Allen

Chris (Jonathan Rhys Meyers) é um irlandês ex-jogador promissor de tênis que, agora, tenta a vida ensinando o esporte em um clube para ricos. Seu desejo por ser muito mais do que isso o coloca em contato com uma família de poder da Inglaterra, que, de graça, gosta da figura do bonito rapaz. Sua investida é tão grande que a filha se apaixona por ele, iniciando aquilo que aparentemente será um relacionamento duradouro. Mas tudo começa a sair dos eixos quando Chris fica obcecado pela noiva de seu cunhado.

Nora (pelo deslumbre Scarlett Johansson) também mantém um flerte perigoso e fervoroso para com o novo agregado. A relação entre eles vai se tornando cada vez mais forte a ponto de Chris se ver sem uma saída. Sua obsessão por ser alguém grande (o que tem conseguido a partir de seu relacionamento com a mulher de posses) será colocada em cheque por sua obsessão pelos desejos da carne, nutridos pela figura de Nora.

Diferente da maior parte dos, por vezes enfadonhos, títulos de Woody Allen, em Match Point o clássico diretor se permite fazer diferente do que costuma realizar: nem mesmo o personagem principal é uma repetição de sua própria e cansativa personalidade.

Delírio (Bottom of the World), de 2017, dirigido por Richard Sears

Alex (Douglas Smith) e Scarlett (Jena Malone) formam um casal a viajar pelos Estados Unidos. No meio do caminho, decidem parar em um charmoso hotel de beira de estrada. Aparentemente vazio, inclusive de funcionários, os namorados se hospedam ali. E é nessa simples ação que tudo desanda. Figuras estranhas começam a fazer parte do universo dos apaixonados, como um homem todo de preto que parece ficar à espreita; ou um canal de televisão com um pastor que prega, aparentemente, diretamente para eles. O que fazia sentido neste conto vai sendo subvertido quando, ao acordar, Alex se dá conta que Scarlett sumira do quarto.

Em busca de resposta pelo paradeiro de sua companheira, Alex é envolvido em uma trama nada trivial, que remete a elementos oníricos. A partir daqui, o filme vai largando o espectador sem respostas, mas dando muitos elementos para diversas interpretações. Muito mais do que um mero flerte, a obra é claramente inspirada em “Cidade dos Sonhos”, de David Lynch. Mesmo sem o brilhantismo do clássico diretor, Delírio consegue envolver seu espectador e enveredar por trilhas muito interessantes em seu leque de possibilidades interpretativas.

Da alegoria de um relacionamento em crise ao despertar do auto-conhecimento de uma mente desequilibrada, muitos são os caminhos que a realização de Richard Sears pode sugerir.

Fica Comigo (You Get Me), de 2017, dirigido por Brent Bonacorso

Seguindo a lógica dos dois títulos anteriores, como expressado na introdução da presente publicação, Fica Comigo é aquele filme com uma pegada mais teen, sem qualquer demérito do uso da expressão ou da escolha de seus realizadores. Bebendo na mesma fonte da obsessão em relacionamentos, o título nos conta a história do apaixonado jovem casal Tyler (Taylor John Smith) e Alison (Halston Sage), que, após uma crise de ciúmes, brigam e se separam. Nessa mesma noite, o rapaz se envolve brevemente com a belíssima Holly (em grande atuação da espetacularmente linda Bella Thorne, ex-queridinha da Disney e atual premiada diretora de filme pornô). No entanto, voltando a se entender com Alison, o casal retoma o relacionamento. Mas Holly não descansará até conseguir ter Tyler só para si.

A obsessão de Holly vai levando-a para caminhos cada vez mais obscuros e aquela trama que parecia ser um “draminha adolescente” toma contornos de um thriller psicológico envolvente. Em sua loucura inerente, a linda e maravilhosa garota irá envolver amigos e família de Tyler em seus jogos sádicos para conseguir que seu desejo seja, de fato, realizado.

Bem realizado e com destaque para a atuação de Thorne, o único momento inverossímil do filme é o personagem preterir uma figura encarnada por Bella Thorne por qualquer outra que apareça no caminho (fala sério, “chefe” Tyler; maior lerdão!).

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