Garimpo Netflix #44: Cinema Nacional

Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.


Quando ouço a frase “O cinema nacional não presta” e todas as sua variantes, imediatamente desconfio da inteligência ou conhecimento cinematográfico do interlocutor. Contra toda a sorte de preconceitos e também, em vários momentos, contra medidas estúpidas de governos, o cinema brasileiro, principalmente pós-retomada, produziu títulos nada menos que brilhantes, dentre os quais algumas dezenas de obras premiadas em vários festivais ao redor do mundo.

Essa semana trazemos para vocês 3 bons títulos produzidos aqui em Pindorama e disponíveis na Netflix. Fiquem com o Garimpo Netflix em homenagem ao Cinema Nacional!


– Getúlio, de 2014, dirigido por João Jardim

Nossa História está permeada de acontecimentos tão rocambolescos que, se bem explorados por nossa cinematografia, dariam um sem-número de excelentes filmes. Quando vejo um “Lincoln” estadunidense contando de forma competente as tramas de gabinete que desembocaram na abolição da escravidão naquele país, penso o quão fantástico seria se tivéssemos um filme narrando o nosso processo abolicionista, muito mais rico dramaturgicamente do que o dos nosso vizinhos do norte.

Nesse sentido, é um alento ver o trabalho do diretor João Jardim nesse Getúlio. O filme se concentra na sucessão de eventos que se inicia no famoso atentado da Rua Tonelero, tendo como alvo o opositor ferrenho do presidente da república, Carlos Lacerda, e que culmina com o suicídio de Vargas, dando um tiro no próprio peito em sua cama, no Palácio do Catete. Muito centrado na sóbria atuação de Tony Ramos, o longa é muito bem sucedido em dissecar os meandros políticos da história ao mesmo tempo em que é cuidadoso ao focar na dimensão humana de todos os envolvidos, em especial do presidente e de sua filha, Alzira Vargas, fiel escudeira do pai até seus últimos momentos.

Bom filme sobre página importante da nossa História, tão desbotada na memória das nossas novas gerações. Assista!

– Guerras do Brasil.doc, de 2018, dirigido por Luiz Bolognesi

Minha verve de Historiador não-praticante se mostra presente também nessa segunda indicação. Se na primeira vimos uma obra romanceada sobre um acontecimento histórico, esse Guerras do Brasil.doc nos traz 5 episódios documentais sobre conflitos que moldaram a identidade nacional e que reverberam até hoje em vários aspectos da nossa sociedade.

Os episódios intitulados “As Guerras da Conquista”; “As Guerras de Palmares”; “A Guerra do Paraguai”; “A Revolução de 30”; e “Universidade do Crime” são curtos (cerca de 25 minutos cada) mas extremamente impactantes. Baseados fundamentalmente em depoimentos de especialistas em suas respectivas áreas de conhecimento, essa série documental em muitos momentos te deixará com uma sensação de ter tomado um soco no estômago.

Um ótimo exemplo de que somos capazes de expor nossas vísceras de forma clara, didática e com profundidade acadêmica, Guerras do Brasil.doc é indispensável.

– O Silêncio do Céu, de 2016, dirigido por Marco Dutra

De cara devo avisar que sim, apesar do filme ser (quase) todo falado em espanhol e ser rodado na capital uruguaia Montevidéu, estamos diante de uma produção nacional. O Silêncio do Céu conta a história de um trauma. Mais precisamente, as consequências de um estupro sofrido por Diana (Carolina Dieckmann) e presenciado às escondidas por seu marido Mario (Leonardo Sbaraglia), que ao não agir de imediato para conter o ato, acaba entrando em uma espiral de culpa e sede de vingança que ditará todos os passos da sua vida até que esse ciclo eventualmente se encerre.

Baseado em um livro chamado “Era el cielo” do autor argentino Sergio Bizzio (que também assina o roteiro), esse filme trata de assuntos delicados e nos confronta com fantasmas que, uma hora ou outra, acabam batendo à porta de todos nós. Aqui, marido e mulher estão unidos por estarem presentes em um trauma de magnitude imensurável ao mesmo tempo em que se afastam por, cada um à sua maneira, não suportarem o peso da dor e da memória.

Um filme forte e surpreendente que merece sua atenção.

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