Projeto Gemini (Gemini Man)
Muitos especialistas em narrativa do ocidente, críticos culturais e professores de oficinas de escrita concordam que virtualmente todas as histórias possíveis de serem contadas já foram contadas. Todas as macro-narrativas já se esgotaram, ao menos na tradição ocidental, e tudo o que os contadores de histórias se debruçam em fazer é um retalho de micro-narrativas que soem originais. No cinema, cada vez mais essa teoria é testada na prática, principalmente no cinema mainstream estado-unidense que, pela profusão sem paralelo de títulos e investimentos inimagináveis para qualquer outro país, cada vez mais requenta receitas já testadas e tenta nos vender como iguaria nova.
Esse é o caso de Projeto Gemini. Tudo ali soa tão, mas tão batido e requentado que fica difícil não imaginar que esse seja só um filme de passagem na carreira do excelente Ang Lee e do divertido (e competente) Will Smith, aqui no papel de Henry Brogan, um assassino de elite, que é subitamente alvo e perseguido por um misterioso jovem agente que aparentemente pode prever cada um de seus movimentos e que, obviamente em considerando o título do filme, é uma espécie de gêmeo seu. Não tem nada nesse filme que marcará, nem de longe, as carreiras de Lee e Smith, artisticamente falando.

Até há no filme coisas um tanto divertidas, como cenas de perseguição muito bem coreografadas e filmadas com esmero por Lee, um Will Smith que se esforça bastante para dar alma ao seu personagem e ao seu par mais jovem, conseguindo anuviar em vários momentos o estranhamento causado pela tecnologia usada para sua duplicação em tela. Mas, no geral, o longa é um festival de clichês bem rasinhos, com uma trama que não convence em nenhum momento, e feito sob medida para o desfile de apuro técnico proporcionado pelas novas tecnologias apresentadas com estardalhaço e que só os milhões e milhões de doletas roliudianas podem proporcionar.
Aliás, é bem sintomático que o que mais se fale desse filme seja sua inovação tecnológica 3D+/120 FPS/ 4K / Mega-Giga-Blaster. Se não entendeu nada dessa sopa de letras e números, entre aqui para ter uma melhor ideia. A verdade é que ele se parece, em vários momentos, com uma peça publicitária desses avanços tecnológicos, um pouco como Matrix 2 e 3 foram no passado. E, assim como aqueles, o que menos se encontra aqui é uma boa história com enredo convincente, sendo mera forma sem conteúdo, além de um exercício visual que talvez encante os ávidos por imagem e canse os afeitos por histórias.

Agora, se me permitem, peço licença aos meus 17 leitores para me dirigir ao diretor Ang Lee:
“Ang Lee, meu filho. Fala pro amigo aqui. Por quê você se sujeitou a isso? Foi o quê? Dinheiro? Tava precisando? Era só pedir pro pai, a gente fazia uns corre aí e dava um jeito. Mas meu querido, tu me dirigiu A Vida de Pi, O Tigre e o Dragão… Meu japa amado, você dirigiu O Segredo de Brokeback Mountain!!! Pelo amor de Odin!!! Brokeback Mountain é obra prima, cacete!!! Como teve a audácia de fazer isso aqui? Tinha um monte de coleguinha bem menos talentoso que faria essa bobagem aí… Olha, vou te botar no cantinho do pensamento do meu panteão de diretores e depois conversamos, ok? Beijo na alma.”
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