Crítica: O Príncipe Dragão (The Dragon Prince) – 3a Temporada
Essa é a crítica da 3a temporada de O Príncipe Dragão. As críticas da 1a temporada e da 2a temporada estão aqui e aqui.
Em 2018, no auge da febre de Game of Thrones, quando acreditava-se que o gênero da fantasia estava fadado a flutuar eternamente num mar de cinismo, violência e “maturidade”, com título após título buscando seu ensanguentado lugar ao sol junto ao público que parecia não se saciar dos horrores de um pseudo realismo-histórico, uma série de animação produzida pela Netflix ousou nadar contra a maré e trazer este universo de volta às mãos das crianças. E que decisão feliz e acertada! Chegando à sua terceira temporada sem perder uma gota de frescor e qualidade, O Príncipe Dragão traz novamente um sorriso para o rosto deste nerd quarentão que há anos buscava um sucessor à altura pros clássicos filmes e animações dos anos 80.
Eu cresci vendo “Caverna do Dragão” no Xou da Xuxa, “O Feitiço de Áquila” e “A Lenda” na Sessão da Tarde. No meu imaginário pessoal, o herói fraqueja mas não deixa de ser herói e no fim da história o inevitável “Final Feliz” está lá pra nos dar uma gotinha a mais de força pra suportar esse mundo feio e triste que nos cerca. Mas como traduzir aquela ingenuidade para os tempos atuais, quando até mesmo as crianças já aprendem a ler e escrever com acesso irrestrito a todo tipo de informação? Como narrar um conto de fadas sem subestimar a capacidade de uma criança contemporânea em compreender conceitos complexos? Aparentemente, Aaron Ehasz e Justin Richmond descobriram a fórmula mágica e trazem para este “terceiro livro” da série o seu momento “O Império Contra Ataca”.
Vamos mais fundo na história deste universo, acompanhando os eventos que levaram à morte do Rei Dragão, encontrando personagens mais complexos que nos mostram que nem todo humano é mau e nem todo elfo (ou dragão) é bom. Somos levados em uma deliciosa viagem pelos reinos mágicos de Xadia, seus animais fantásticos, seus surpreendentes poderes e seus sempre belíssimos cenários. É como desvendar uma nova camada deste mundo que nos permite vê-lo e entendê-lo com mais clareza e complexidade. Se este universo parecia ser bem construído nas temporadas anteriores, agora vemos que seus criadores realmente fizeram seu dever de casa.
A história segue seu rumo natural, acompanhando a viagem de Callum e Rayla em direção a Xadia para devolver o príncipe Azymondias para sua mãe, a rainha dos dragões. O tempo se torna um fator importantíssimo para o humano e a elfa que buscam trazer paz para seus respectivos reinos. Cada vez mais unidos por esse objetivos e com a história e a personalidade de cada um muito bem desenvolvidas na temporada anterior, vemos o relacionamento entre os dois se aprofundar. Laços de amizade e confiança se fortalecem e a inevitável “química” entre eles se torna um dos pontos mais agradáveis da história.
Em paralelo, vemos o príncipe Ezran retornar para Katolis para reclamar o trono de seu pai e tentar, com toda inabilidade de uma criança, trazer um pouco de sabedoria e luz para as mentes limitadas dos adultos. Confesso que os eventos deste arco e a maneira como eles transcorrem são o ponto baixo da temporada e o único motivo de eu não ter elevado sua nota ao 5 que ela merecia. Me pareceu que em algum momento os roteiristas mudaram de ideia e resolveram simplesmente criar a reviravolta da reviravolta da reviravolta e a imaturidade de Ezran e a total ausência de aconselhamento sério, e real proteção a um rei-menino, tornam-se os “vilões” da história.
No meio disto tudo vemos um Lord Viren cada vez mais consumido pela ambição e sede de poder. Ajudado pelo misterioso elfo Aaravos, sobre quem descobrimos ainda muito pouco, Viren fará de tudo para levar os humanos à vitória, e protagonizará alguns momentos bastante sombrios e maduros para uma série tão leve e voltada para o público infantil. Aqui o conto de fadas ganha contornos mais contemporâneos e pega emprestado uma pitadinha da escuridão que cobria sua irmã mais velha, Westeros.
Curiosamente, funciona muitíssimo bem, introduzindo um tom mais “pesado” e sério, e temos nos episódios finais uma sequência de eventos de tirar o fôlego, com um desfecho agradabilíssimo, com seu cliffhanger (como deixar de tê-lo?), sem que este seja uma tentativa barata e irritante de prender o espectador por mais uma próxima temporada. Esta virá, não por artifícios rasos, mas como resposta à invariável qualidade da série. Ficam minhas palmas e o desejo de que a quarta temporada venha o quanto antes.
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