Crítica: Pássaro do Oriente (Earthquake Bird)

Filmes que envolvem uma trama misteriosa, personagens obscuros e introspectivos, um romance fora dos padrões comuns e, volta e meia, algum desaparecimento ou alguém sem vida, aliados a uma investigação policial que tenta, a todo custo, desvendar o que se passa à tela sempre tiveram seu lugar guardado no tempo despendido pela maioria dos espectadores. Contendo tudo isso a um só tempo, o novo lançamento da Netflix, Pássaro do Oriente, é mais uma produção na longa lista desse gênero.

Lucy Fly (pela versátil Alicia Vikander) é uma sueca que mora há anos no Japão, onde trabalha como tradutora. Pouco sabemos sobre sua história. De sua personalidade, ficamos com a certeza de que se trata de alguém frágil, que tenta manter uma carcaça de forte e pouco amistosa a estranhos. No entanto, essa sua tentativa falha ao conhecer, por acaso mesmo, um japonês fotógrafo, Teiji (Naoki Kobayashi), com quem imediatamente se conecta e inicia um romance. Esse romance, porém, não é trivial, daqueles que um conhece tudo do outro. O pouco que sabemos desses personagens é o que eles mesmos sabem sobre o outro. O isolamento de Lucy começa a mudar quando o sentimento vai crescendo, tal qual o de Teiji por ela. Mas a relação começa a estremecer quando sua colega americana Lily (Riley Keough), chegada há pouco no país, se mete entre os dois.

Faces de Lucy.

A narrativa não segue uma cronologia linear, ligando-nos entre presente e passado. Do presente, sabemos que Lily está desaparecida e que Lucy é suspeita. A investigação faz com que a sueca conte aos policiais (e a nós) o que se passou lá atrás. Mas tudo o que é exposto por ela não leva a lugar nenhum. Seria isso uma estratégia dela para confundir os policiais ou seria falha do roteiro de Wash Westmoreland, também diretor do filme? A impressão que nos deixa é que, ao longo de toda a obra, pouquíssimo sabemos sobre seus personagens, resultando em uma falta de empatia por parte do espectador. E menos ainda a história se mostra impactante. De tal modo que, ao longo de seus dois atos, seja na apresentação de seus elementos, seja no desenvolvimento do conto, um clima frio permanece durante a produção. A história não nos envolve; os personagens não nos importam; os acontecimentos pouco fazem diferença.

A construção de Lucy se sustenta no esforço da excelente Alicia Vikander, mas que também sofre com a falta de material e de alicerce que a história proporciona a ela. Teiji é um rapaz insuportável que, em absolutamente todas as cenas, só quer tirar foto. A máquina em suas mãos funciona quase como um pênis e o estalar do botão que registra o momento na câmera parece ilustrar o orgasmo do fotógrafo. O mistério que se tenta criar em torno de sua figura tampouco é criativo ou bem construído. Ele se reduz, portanto, a este homem que só quer tirar fotos. Lily talvez seja a que surge com um pouco mais de ousadia, ao se colocar no meio do romance, formando um triângulo amoroso ou algo que sugira isso. Mas sua construção também esbarra em poucos elementos e peca no sentido de criar um grande personagem. Sem uma história bem lapidada e sem personagens bem feitos, pouco sobra no filme. O grande destaque – mas esse jamais poderia errar – fica na fotografia do sempre maravilhoso Chung-hoon Chung.

Duas partes do triângulo.

Pássaro do Oriente, ao tentar trazer os antigos elementos de mistério, romance, investigação e drama, falha ao longo de todo o seu percurso, não enveredando com afinco por nenhum desses elementos. Para não dizer que o filme só erra, apenas em seu terceiro ato que a coisa vai ficando mais interessante. Mas, insistindo em quebrar com seu frágil castelo de cartas, o diretor consegue, uma vez mais, diminuir a força que poderia manter na conclusão da obra.

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