Crítica: O Último Amor de Casanova (Dernier amour)
O Último Amor de Casanova está longe de ser o primeiro filme sobre a vida escritor italiano Giacomo Giramolo Casanova. Antes de começar a falar sobre o longa dirigido pelo cineasta francês Benoît Jacquot é bom pontuarmos algumas curiosidade sobre a vida do protagonista: nascido no século XVIII e criado pelos avós, em uma das cidades mais românticas e libertinas da época onde quase tudo era permitido, Veneza, antes de se tornar o lendário aventureiro, Casanova tinha idealizado um rumo completamente diferente de seguir a vida eclesiástica. Inacreditável, não é mesmo? Da igreja à prisão e da prisão para o mundo, na companhia de incontáveis mulheres, é claro. O bon vivant acumulou escândalos em sua jornada de vida, além de ter exercido inúmeras profissões como oficial militar, jogador profissional, músico e patrono. Casanova afirmava ter nascido para as mulheres e que a ocupação mais importante da sua vida era amá-las Fazendo jus ao dito, ele realmente não economizou prazer e gozou de setenta e três anos apaixonantes, marcados sobretudo por suas fugas e aventuras amorosas.
O filme feito a partir do livro de memórias “A História da Minha Vida”, de Casanova, não foca nos detalhes de sua juventude, sua vida profissional, as prisões, os exílios forçados em vários países da Europa e até mesmo seu caráter duvidoso, retratando apenas a curiosa e irônica fase de sua vida ou o final dela, na qual ele se apaixonou por Marianne de Charpillon (Stacy Martin), uma jovem prostituta que seria seu amor improvável e/ou impossível e o faz sofrer a ponto de ora deixar tudo de lado para viver um noivado com ela, ora querer tirar a própria vida por não dar conta de tal sentimento. Quem empresta seu corpo para dar vida ao ícone italiano é o ator francês Vincent Lindon, que apesar de muito talentoso, não vive sua melhor atuação e deixa sua expressividade muito a desejar, além de ter zero do estereótipo de conquistador e se manter sem carisma algum durante todo o longa.
Já Stacy se mostra mais dedicada e entregue ao papel de Charpillon. Ao longo do filme, algumas nuances da personagem geram uma certa inquietação no espectador, que não consegue entender quais são as reais intenções da jovem. Ao mesmo tempo que a vemos determinada a conquistar Casanova, seja por interesse financeiro ou pelo simples prazer de testá-lo e vê-lo abrir mão de sua vida de devassidão, também há um comportamento de afastamento, um certo desprezo, como se ela não conseguisse ou até mesmo não quisesse deixar de ser meretriz. A angústia vivida pelo sessentão vai nos atingindo a ponto de sentirmos certa compaixão por ele, porém, o filme não explora a profundidade dos conflitos existentes nessa relação. Ambos têm algo a perder e sofreriam mudanças drásticas no estilo de vida uma vez que decidissem estar juntos, de fato, mas a narrativa segue focada na dúvida e na frieza que o ambiente londrino e frio de 1770 proporciona. A surpresa é o desfecho inusitado da biografia e os momentos não clichês onde vemos um homem assumindo suas fraquezas em uma sociedade absolutamente machista que constantemente o pressiona a ignorá-las, mas de forma rasa.
A proposta de Jacquot poderia ter levado mais humanidade aos personagens e ido além da impecável direção de arte que nos presenteia com belíssimos cenários e figurinos, uma vez que se trata de uma história de desejo e paixão, contudo, existe uma melancolia e uma decadência que contaminam a narrativa do início ao fim e vão resumindo o filme ao simples fato de que estamos assistindo a uma combinação de falência e impotência de alguém numa tentativa frustrada de ser exceção à regra.
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