Crítica: Perdi Meu Corpo (J'ai Perdu mon Corps)

Distribuído internacionalmente pela Netflix, Perdi Meu Corpo chega como um de seus “originais” que não são exatamente produções originais, mas tão somente obras que a Netflix distribui mundo afora após terem algum sucesso local ou em festivais. E, sinceramente, só temos a agradecer a eles por esse tipo de coisa. É só por causa disso que o público brasileiro e internacional foi capaz de ver verdadeiras pérolas como “Aniquilação“, “Tempo Compartilhado” e agora este Perdi Meu Corpo, uma animação francesa que ganhou e foi indicada a prêmios importantes no mundo todo, inclusive a Cannes.

Aqui vemos a história de Naoufel, um jovem adulto de origem marroquina, argelina ou tunisiana (algum país do Norte da África que fale francês) morando em Paris e que, seja por não ser natural da França – seja por ter um semblante de que algo o perturba constantemente – parece completamente fora de lugar. Mais fora de lugar do que ele, contudo, está a Mão. A Mão é o que seu nome sugere, uma mão decepada que foge de um laboratório em algum hospital ou centro de pesquisa e sai a vagar por Paris, em busca do resto do seu corpo. Então temos aqui uma história de um homem e uma mão à procura de pertencimento, ambos claramente atormentados por algo que não vai ficar claro até o final do filme.

Apesar de curto, com apenas 83 minutos, Perdi Meu Corpo tem no ritmo seu principal problema. Ele acaba dando a sensação de ser lento, em especial nos momentos em que seguimos os acontecimentos com a Mão, contudo, esse ritmo lento é totalmente compensado pela simplicidade estonteante da arte de todo o filme, em uma animação que parece combinar técnicas de 3D com desenhos à mão para contar uma história muito mais com imagens do que com palavras. Além da arte do filme, a trilha sonora (e incidental) e a fotografia escolhida são seus outros dois enormes acerto, com closes constantes e melodias que, numa conjunção perfeita entre todos estes elementos, trazem um desnude absoluto de Naoufel, despindo sua alma e revelando constantemente pistas sobre seu passado.

Trata-se de um longa delicado, denso e forte, com temas adultos como senso de pertencimento, rejeição e, principalmente, culpa. Logo, acredite na Netflix quando ela diz que é um filme para maiores de 16 anos. É uma animação adulta, que, assim como qualquer outro filme com maior substância, é feita para mostrar a percepção que seu criador tem quanto a aspectos fortíssimos da vida adulta, de modo que crianças provavelmente não entenderão e adolescentes não se interessarão.

Perdi Meu Corpo é mais uma grata surpresa na Netflix. Vale cada um dos seus poucos minutos de exibição e tem um final surpreendente ao mesmo tempo que inspirador.

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