Crítica: Star Wars: A Ascensão Skywalker (Star Wars: Episode IX - The Rise of Skywalker)
Pela última vez eu me sentei em uma sala de cinema para assistir a um episódio inédito daquele que veio a ser o evento mais marcante de toda a minha vida. E da mesma forma ambiciosa que se iniciou, se encerra a saga de Guerra nas Estrelas com Star Wars – A Ascensão Skywalker, que estréia essa semana em todo os cinemas do universo. Não surpreendo ninguém ao dizer que gostei do filme. Mas gostei mais do que o “gostei” que eu já carreguei comigo pra dentro do cinema. Tive o privilégio de assistir à pré-estréia com O Conselho Jedi do Rio de Janeiro e a experiência foi perfeita. O Cine Odeon estava lotado de nerds – sabres de luz em punho – prontos para vibrarem a cada impossível explosão no vácuo, a cada ativar de sabre de luz, a cada cenário magnífico ou perigo mortal, a cada fan service que rolasse na tela. E foram muitos. Todos os que eu e você queríamos que estivessem lá e mais alguns. Como não gostar?
Sim, há engasgos e sim, há críticas que podem ser feitas, e eu, do alto de meus 43 anos de idade tenho as minhas – excesso de CGI numa tentativa de criar cenas cada vez mais grandiosas, edição de videoclipe tentando dar conta, em pouco mais de duas horas, de tudo o que ficou em aberto, um excesso de reviravoltas… você saberá do que estou falando. Mas, olhando com o olhar daquele menininho que se sentou numa sala de cinema para ter sua vida mudada para sempre, o filme é um novo filme de Guerra nas Estrelas e isso já é muita coisa.
Não é exagero dizer que este é o evento mais aguardado de toda a história do cinema, e, por 42 anos, todo o planeta esperou a conclusão da saga Skywalker. Com tamanha antecipação, especulação e escrutínio, é impossível que se agrade a todos ou a qualquer um em 100%. Todas aquelas pessoas que se sentaram à zero hora de uma quinta-feira na sala do Cine Odeon, com uma camiseta com a estampa de seu personagem preferido (algumas em fantasias completas – menos do que eu esperava e muito menos do que vi na pré-estréia do “Episódio I – A Ameaça Fantasma”, 20 anos antes) tinham na cabeça sua versão pessoal de como o filme deveria ser e a probabilidade de que qualquer uma delas tenha acertado é nula. Por esse simples motivo, o filme certamente decepcionou a todas elas, mas não creio que tenha decepcionado ninguém em 100%.
A Disney cumpriu o seu papel ao entender que não se trata apenas do fim de uma saga mas de uma despedida e ao permitir que nós fizéssemos exatamente isso. No fundo, o que mais dói é essa despedida inevitável. “Se ao menos eles tivessem incluído (escreva aqui o que você queria ter visto um pouco mais antes de se acenderem as luzes) teria sido um filme melhor”. Todos os nomes familiares que nós queríamos ver estão nos créditos. E cada vez que víamos ou ouvíamos cada uma daquelas pessoas cuja simples presença em um filme os fizeram ícones culturais por três ou mais gerações, o cinema se preenchia com gritos de alegria. Alegria que retroalimentava a minha própria que veio aparecendo timidamente no início, quando eu ainda tentava conter o fanboy, e que logo se viu vertendo lágrimas nas horas que J.J. Abrams sabia que eu iria chorar.
Ao sair do cinema, inevitavelmente ouviam-se as críticas dos fãs de cabelos grisalhos que acompanham a saga desde seu início, cada um com seu incômodo particular. Enquanto tentava digerir minhas próprias emoções e opiniões, me peguei observando o rosto de um menininho fardado com o uniforme completo de piloto de X-Wing, sorrindo de orelha a orelha às duas e meia da manhã, intocado por todo o sarcasmo ao seu redor. O mesmo menino que se apaixonou por Jar Jar Binks e pelos Ewoks. Mais adiante uma garota vestida de Rey da cabeça aos pés, câmera na mão, andava freneticamente entrevistando quase que exclusivamente meninas sobre suas opiniões. Ao ouvir um comentário positivo seus olhos sorriam, e ao ouvir uma crítica negativa a luz por trás de seu sorriso se escondia um pouquinho, como se ela desejasse ouvir eco para sua própria alegria. Esses foram os meus dois termômetros. Se eles gostaram, então o filme cumpriu o seu papel. Essa juventude que quer se ver na tela estava toda lá representada, na jovem heroína sonhada por George Lucas e que ele, o único que tinha o direito de fazer exigências, não pode dar à luz, nos outros heróis e heroínas com outros rostos e outras etnias. Procure-se com cuidado e você se verá dentre a multidão de personagens.
E se o fã quarentão que um dia desejou ser Jedi – mas que ao crescer viu no lado negro da força a defesa natural e inevitável para uma vida adulta cínica e cruel – for honesto consigo mesmo, ele também está lá em um Kylo Ren que se deseja Darth Vader mas que, no fundo, não é. Tudo o que aquele menino por trás da máscara encontrou há mais de 40 anos em um filme B de que não se esperava nada, mas que o deslumbrou porque ele se deixou deslumbrar, está lá. Não da forma que ele fantasiou por tantas décadas, mas está. Então, permita-se deslumbrar novamente e vá ao cinema dizer adeus. Vai te fazer bem.
Leave a Comment