Garimpo Netflix #51: Psicopatas vol. 2
O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.
No começo do ano, publicamos o Garimpo Netflix: Psicopatas, no qual eu descrevi o interesse que este assunto desperta em mim. Na realidade, mais do que uma curiosidade pessoal, este tema demonstra grande impacto ao se analisar a quantidade de obras produzidas acerca deste universo, sejam elas baseadas em casos reais, sejam tão somente inspiradas em histórias do gênero.
Revisitando, portanto, o tema, neste volume 2 buscamos dois casos reais e um fictício para compor mais uma rodada do que o ser humano é capaz, isento de toda e qualquer capa de moralidade, de provocar a um semelhante. Certamente, desta vez, as três realizações vêm dos Estados Unidos, local onde a figura do psicopata parece encontrar maior conforto para atuar.
– Corra! (Get Out), de 2017, dirigido por Jordan Peele
Começamos pela única indicação fictícia entre as três. Vencedor do Oscar de melhor roteiro original exatamente por este filme, Jordan Peele se utiliza de elementos de suspense, terror e psicopatia para tratar da questão racial, extremamente urgente a todos nós, visto que os casos de preconceito se reacenderam, não dando qualquer sinal de trégua.
Em Corra!, acompanhamos o relacionamento do negro Chris Washington (Daniel Kaluuya) com uma namorada branca, Rose Armitage (Allison Williams), em seus primeiros passos. A construção do amor entre ambos parece ser algo sólido, que supera qualquer forma de preconceito normalmente (péssimo uso da palavra) estabelecido em casos como este. Inclusive, se você analisar bem de perto a maioria das produções norte-americanas, notará que dificilmente vemos casais interraciais entre os protagonistas. Quebrando, a priori, este modelo, Peele segue com seu conto.
No entanto, tudo muda por completo quando Chris recebe o convite para conhecer os pais de Rose, em sua propriedade. Ali, um baile macabro se inicia enquanto antigos modelos de pensamento vão sendo ressuscitados. Como alegorias do que hoje vemos, Jordan vai desmascarando uma sociedade que tenta esconder ideologias arcaicas, mas que se utilizam de um véu tão fino que se torna incapaz de mantê-las em segredo.
– Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal (Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile), de 2019, dirigido por Joe Berlinger
Joe Berlinger faz um filme exclusivo sobre o bem apessoado psicopata Ted Bundy (em bela atuação de Zac Efron), um dos mais conhecidos e venerados (quase impensável isso existir) criminosos até o presente momento. É justamente na complexidade da personalidade de Ted que Berlinger foca e é disso que resulta a indicação do longa e a importância de ser visto.
Estudante de direito, bem relacionado, extremamente inteligente, bonito e simpático, Ted Bundy é explorado por Joe Berlinger neste filme em sua faceta de homem comum. O foco jamais é na face de um psicopata. Não vemos perseguições de Ted a alvos pré-definidos; vemos, na realidade, nada além de um prenúncio disso. Vemos tão somente um empenhado namorado, um sensível padrasto, que jamais cometera qualquer ato condenável dentro de casa. Quase como uma história de amor que é abalada por uma denúncia local de que ele era o procurado por crimes violentos a jovens universitárias.
Mas a conclusão aqui não é feliz. De antemão, sabemos que aquele homem aparentemente doce é a definição do lobo em pele de cordeiro. E, querendo se libertar de um sentimento já construído sobre alicerces de mentira, a namorada, Liz Kendall (Lily Collins), só necessita da verdade para esquecer a irresistível face do psicopata que antes amara.
– Zodíaco (Zodiac), de 2007, dirigido por David Fincher
Todos sabemos do interesse de David Fincher pelo assunto: o inesquecível “Seven”, o ótimo “Garota Exemplar”, a excelente série “Mind Hunter” e outros projetos que envolvem o gênero estão no currículo do diretor. Em Zodíaco não é diferente. Porém, algo que deve sempre ser considerado na expressão Fincher+Psicopatia é que ele muda por completo a pegada em cada história. Dessa forma, a presente indicação nunca é bem vista por aqueles que aguardam um “Seven vol. 2”.
Entre as décadas de 1960 e 1970, a Califórnia se vê vulnerável diante de uma onda de crimes que apontam para um mesmo autor: o “Zodíaco”. Obcecado por sua identidade e seu modelo de ação, o cartunista Robert Graysmith (Jake Gyllenhaal) vira um investigador amador em uma busca incansável pelo criminoso.
Como dito acima, Fincher não cria grandes cenas de tensão, de suspense, tampouco explora o horror dos atos hediondos de uma mente consumida. O tema central do filme é a obsessão de Graysmith e dos detetives em relação à investigação dos crimes e o objetivo principal de conhecer efetivamente aquele outro obcecado, este pela destruição, que promove um perigoso e bizarro jogo de gato e rato com a polícia americana.
Leave a Comment