Crítica: Um Espião Animal (Spies in Disguise)

James Bond transformou os espiões em um dos temas mais visitados pelo cinema. Mas misturar espiões com… pombos ainda não tínhamos visto. É isso que rola na animação Um Espião Animal, de Nick Bruno e Troy Quane, com Will Smith dando voz (e inspiração para o visual) do protagonista. Na versão dublada, Smith é substituído por Lázaro Ramos.

Lance Sterling é um charmosíssimo espião à la Bond, cujos músculos, engenhocas eletrônicas e impecável smoking derrubam bandidos pelo mundo afora. Já Walter não é nada disso. Jovem geniozinho que trabalha para a Agência de Espionagem Americana, ele cria “armas” que pretendem lidar com os vilões de uma maneira menos violenta e mais “fofinha” (como uma granada que projeta gatos bebês e lança glitter porque glitter deixa tudo mais feliz e as pessoas mais awnnnnn). Essa dupla improvável se vê obrigada a trabalhar em equipe quando Walter transforma Sterling acidentalmente em um pombo.

O ponto mais fraco do filme é a ausência de inovação que ela carrega. Embora funcione, em nenhum momento o espectador vai ter a sensação de que está vendo algo realmente novo. É o típico desenho “diversão familiar de férias com uma ou outra piadinha que só adultos entendem para que eles não morram de tédio enquanto as crianças jogam pipoca umas nas outras e se divertem”. Funciona? Sim. Mas deixa um gostinho de déjà vu.

Por outro lado, a produção também acena com boas sacadas. A começar pelo uso divertido dos clichês “bondianos” que, em Lance Sterling, se misturam com a persona do seu dublador, Will Smith, até no layout da personagem. Aliás, a criação dos dois protagonistas é muito boa. Enquanto Sterling é puro carisma, Walter é total humanidade.

Tecnicamente, Um Espião Animal também ganha pontos. A edição ágil entrega um ritmo pulsante, potencializado pela trilha sonora upbeat. Visualmente o projeto também é excelentemente executado. O que sê vê na tela é uma explosão de cores muito bonitas, vibrantes, em planos bastante interessantes também.

O roteiro se espraia em dois caminhos. Inspirado no excelente curta-metragem de animação “Pigeon: Impossible (que você pode assistir aqui), ele não exibe o mesmo vigor e inventividade da matriz da ideia. As peripécias narrativas acabam sendo usadas à exaustão e em alguns momentos inclusive fica uma sensação de que talvez o plot não dê conta de um longa. Dá conta, mas não de forma lá muito arrebatadora.

O segundo caminho do roteiro ressoa melhor. Ele consegue levantar uma discussão interessante para refletir sobre a violência. Com suas criações, Walter nos leva a pensar sobre como os nossos mecanismos violentos de combater a violência também não contribuem para a formação de um ciclo vicioso. É bem legal ver esse tipo de questionamento sendo levado de forma leve e inteligente para as crianças. Não soa em nenhum momento como “didático” ou “moralizante”, mas, sim, como reflexivo.

Um Espião Animal é, no fim de tudo, uma boa diversão para as crianças e, ao contrário de outras animações, também não será uma tortura para os pais. Vale muito uma tarde em família com pipoca, refrigerante e doces cujo teor de açúcar causa nos pequenos aquele efeito “será que é hora de chamar um exorcista?“. Você vai até esquecer um pouquinho que pombos são ratos de asas.

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