Garimpo Netflix #56

O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.


Hoje é daqueles dias em que eu tenho orgulho do MetaFictions. Ser o editor-chefe do site e um de seus fundadores me dá muita alegria quando isso quer dizer que posso vir aqui e indicar a vocês três filmes de altíssima qualidade e que, por causa disso, deviam estar aí na boca do povo o tempo todo. Isso é ainda mais óbvio quando percebemos a qualidade da verdadeira obra-prima que inaugura a lista.

Seja como for, temos essa semana três filmes disponíveis na Netflix e que devem assim permanecer por um tempo, posto que o primeiro desse Garimpo apareceu lá faz pouco tempo e os demais são “originais” Netflix. Aproveitem!


– Magnólia (Magnolia), de 1999, dirigido por Paul Thomas Anderson

Em 1999 eu tinha 17 anos e já era bem fã de Cinema, mas então fui ver um filme de um diretor relativamente novato, que fazia um filme de mais de três horas de duração. Saí da exibição de Magnólia absolutamente arrebatado e convicto de que o Cinema seria, dali pra frente, uma presença nodal, fundamental, crucial, inestimável e imprescindível na minha vida. Foi com esse Magnólia de Paul Thomas Anderson e “Pi” de Darren Aronofsky (ambos figurando no nosso Top 10 – Melhores Diretores em Atividade) que eu descobri que Cinema era o que queria ser quando crescer, pena que eu já era grande e a vida entrou no caminho.

Dito isso, Magnólia é nada menos do que uma obra-prima. Paul Thomas Anderson, indicado a nada menos que 8 Oscars em sua carreira como diretor, roteirista e produtor, conta com um elenco  de qualidade ímpar para contar a história de 24 horas numa Los Angeles em que as relações humanas estão despedaçadas pela própria existência, mas onde ainda há esperança. Contando com um Tom Cruise naquela que é sem sombra de dúvida sua melhor atuação da vida, o que temos aqui é um gênio do Cinema expressando sua arte em seu mais alto e ambicioso patamar. É filme obrigatório e eu já vi duas vezes de novo depois que a Netflix disponibilizou.

Paddleton, de 2019, dirigido por Alex Lehman

Já falamos aqui algumas vezes como a gente gosta das coisas que costumam sair dos irmãos Duplass, em geral obras independentes como o excelente “Blue Jay“, também disponível na Netflix. O que os irmãos Jay e Mark escrevem são obras sobre as relações e em Paddleton, Mark, em parceria com Alex Lehman, que também dirige a obra, contam uma tocante história sobre amizade e luto. O próprio Mark Duplass vive Michael, um sujeito que o americano médio chamaria de “loser”, mas que tem em sua amizade improvável com seu vizinho, o solitário e esquisito Andy (em atuação inebriante do comediante Ray Romano, sim aquele mesmo de “Everybody Loves Ray”), uma espécie de norte da vida. Não quero dar spoilers e convido você a não assistir ao trailer acima, mas algo acontece que traz um elemento novo a essa amizade e a história se desenrola a partir daí.

Paddleton – que é um jogo que os amigos inventam parecido com um squash de pobre – não tenta reinventar a roda, não é um exercício de virtuosismo técnico e tampouco traz qualquer novidade narrativa. Mas nessa sua simplicidade narrativa jaz sua grande força, mostrando que o bom cinema não precisa de muita coisa além de uma boa história e pessoas com paixão pelo que fazem para contá-la.

Quem Tem Carma Nunca Alcança (Brij Mohan Amar Rahe!), de 2018, dirigido por Nikhil Bhat

O cinema indiano é uma fábrica que sobrevive do próprio mercado, sem nunca nem ter tido lá tanta vontade de conquistar os mercados estrangeiros. Isso mudou um pouco com a Netflix, que já tem um vasto catálogo de obras indianas e rotineiramente adiciona mais coisas. Esse Quem Tem Carma Nunca Alcança foi um dos primeiros que a plataforma disponibilizou e, em minha humilde opinião, um dos melhores, em que pese ser um exemplar do cinema indiano que foge bastante dos elementos tidos como comuns na produção de lá. Aqui, por exemplo, ninguém dança ou ouve musiquinhas divertidinhas.

No longa, o Brij Mohan do título original (que, em tradução livre, quer dizer “Brij Mohan É Imortal” ou algo assim) é um cara que tá aí na correria, tentando pagar as contas enquanto faz malabarismos para lidar com sua esposa insuportável, sua amante exigente e o monte de dívidas que eles vai amealhando ao longo de sua existência, tudo numa interpretação cheia de nuances de Nawazuddin Siddiqui. O longa começa como uma comédia de humor negro e, sinceramente, seu início não é lá dos mais promissores. Mas então uma determinada merda acontece com Brij Mohan e aí temos em nossas mãos uma das coisas mais originais, corajosas e despudoradas que já vieram da Índia, transformando um filme que até então era ok em uma obra com um comentário social fortíssimo e pertinente tanto para a realidade indiana quanto para a nossa. Eu tenho orgulho em ter criado esse quadro do Garimpo quando consigo indicar esse tipo de filme a vocês.

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