Crítica: Dragon Quest: Your Story
Caro amigo. O senhor já jogou Dragon Quest na vida? Caso a sua resposta seja não, prepare-se para 1h43min de muito sofrimento. Porém, se você, assim como eu, já se aventurou por esse universo rico e encantador, prepare-se apenas para 1h10min de sofrência. Pois é, Dragon Quest: Your Story é uma obra que se apoia drasticamente em seu lore sem considerar muito o telespectador casual para no mínimo localizá-lo, mas também não faz muito por aqueles que conhecem sua história, despejando uma tonelada de personagens e informação em seus primeiros 30 minutos que fica difícil entender quem eles são e porque estão nessa aventura, que, a princípio, parece épica.
Já em sua abertura – com uma escolha nostálgica e duvidosa – vemos cenas do jogo lá dos anos 90 explicando o básico desse mundo e dos personagens principais. Conhecemos Mada, mãe de Luca e esposa de Pankraz, que é sequestrada por uma entidade maligna, Purrcy, o tigre, Sancho, fiel escudeiro de Pankraz, e o príncipe Harry. Movidos pelo desejo de resgatar sua esposa e mãe de seu filho, Pankraz e Luca iniciam a saga que nos levará aos remotos cantos desse lugar de fantasia para descobrir quem é o herói zenitiano profético que salvará o mundo. Contudo, logo no início da empreitada, algo dá errado e Luca precisa se virar para finalizar seu objetivo. Sem querer spoilar sua diversão, é evento tão impactante quanto a cagada na construção das consequências que se seguem. O roteiro é de um desleixo que assusta e é nesse momento que você se indagará se vai continuar ou não assistindo.
É uma premissa bem boba e simples, nitidamente direcionada ao público infantil. É chato, corrido, forçado e exagerado, como somente uma criança pode gostar. Mesmo havendo violência, não há nada chocante, com os monstros que nada possuem de assustador se desintegrando quando atingidos de forma letal. Até o conceito artístico, com um mundo muito fofo e design de personagens no melhor estilo jogo oriental, possui traços infantis. A animação essencialmente é uma grande cutscene muito bem feita. Estava tudo indo de forma bem tediosa e esperada, quando ocorre uma senhora quebra de expectativa que transforma radicalmente a obra. Os últimos 30 minutos te levam por um amadurecimento da história, personagens e animação, trazendo batalhas épicas, motivações com as quais de fato você se identifica – e até passa a torcer -, além, claro, de um final muito bom a la “Black Mirror” da vida.
Elevando a obra, seu terço final mostrou o que poderia ter sido Dragon Quest: Your Story, uma verdadeira ode aos games e a importância que eles tiveram para uma geração que cresceu nos anos 80 e 90 sem amigos e internet, valorizando cada segundo com seus personagens favoritos em campanhas single player que encontram dificuldade em existir num mundo que cada vez mais valoriza experiências fugazes e sem conexões. Caso você consiga passar pela primeira hora sem sofrer um derrame, certamente o desfecho do filme vale a pena.
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