Crítica: Partida Fria (The Coldest Game)
Foi-se a época em que Hollywood investia pesado no Cinema que focava em tramas maniqueístas envolvendo os Estados Unidos, na representação do lado bom, e a União Soviética, representando o que há de ruim. A Guerra Fria passou e o Socialismo ruiu (apesar de muitos quererem, a qualquer custo, reeditar aquela época em pleno século XXI, de maneira patética e tola, promovendo uma bipolaridade existente tão somente em mentes infantis ou maquiavélicas). Apesar disso, a nova produção da Netflix, Partida Fria, volta uma vez mais ao momento de maior tensão daquele conflito: a crise dos mísseis em Cuba e a espionagem necessária em ambos os lados.
Joshua Mansky (Bill Pullman) é um gênio da matemática que, por conta de traumas pessoais, abandonara a carreira brilhante e se tornara um bêbado miserável a ganhar uns trocados em rodas de poker distribuídas por bares sujos da cidade. Quando é interpelado por uma linda mulher, visivelmente fora do contexto daqueles pés-sujos, o professor recebe um “convite” do governo americano, em seu melhor estilo “grande porrete”. Em plena competição de xadrez com a União Soviética, realizada em Varsóvia, o jogador americano não sobrevivera a uma possível causa natural, dando abertura para a inscrição de um substituto: Mansky, o bebum genial. Sem poder, evidentemente, declinar do “pedido” governamental, apesar de ter tentado, o alcoólatra é levado à Polônia para um disputa de melhor de 5 contra o grandalhão russo.

Uma vez em Varsóvia, Joshua se vê como um peão em meio a um jogo de espionagem de ambos os lados. Sem saber em quem acreditar, contando com traidores dentro de sua equipe, e com colaboradores na equipe adversária, Mansky é obrigado a uma leitura quase matemática das relações secretas que ambos os governos realizam em prol da vitória na Guerra Fria. Como se analisasse, probabilidade por probabilidade, as ações de cada um, assim como faz ao jogar uma peça de um lado para o outro no tabuleiro quadriculado que o separa de seu rival político-ideológico e na competição. Ele é a grande mente por trás das peças que controla, mas é tão somente um títere nas mãos dos Super-Poderes, que se digladiam e aumentam o medo que ronda o mundo, por suas perspectivas políticas.
A tensão do filme, portanto, foca em duas partes: no alcoolismo incontrolável de Joshua – que por vezes atrapalha suas ação no jogo e por vezes funciona como combustível para tal – e na rede de relações de espionagem, que interferem diretamente não só na competição, mas na vida de Mansky e seus conterrâneos. O filme funciona bem como um tabuleiro de xadrez: encurralando e fazendo escapar suas peças, mas sem a dinâmica que se vê em outros tipos de jogos. Não que Partida Fria seja entediante. Não é. Mas tampouco explora o lado da espionagem produzindo aquele thriller de tirar o fôlego. Mais comedido e mais controlado em seus momentos de maior tensão, tal qual a própria partida de xadrez, a obra de Lukasz Kosmicki fica no limiar entre as propostas que joga ao público.

À parte da esquizofrenia das pessoas do século XXI, o filme se justifica por revisitar aquele período de tensões: atualmente, os governos russo e americano não compactuam mais do acordo de desarmamento nuclear, fazendo antigos fantasmas serem revividos e revistos. Concluindo quase como um chamado a repensar esta atitude, a obra parece ser feita com este intuito. Talvez por isso mesmo seja perceptível alguns de seus problemas de desenvolvimento ao promover uma narrativa mais fria do que se deveria.
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