Garimpo Netflix #58: Elas (vol. 2)

O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.


Alguns meses atrás, publiquei o Garimpo Netflix: Elas, no qual eu dizia não ser um bloco de indicações feministas, mesmo porque não tenho parte neste ou em qualquer grupo minoritário. À ocasião, eu defendi – como continuo fazendo – o necessário exercício de empatia que todos nós, sem exceção alguma, devemos realizar a cada instante de nossos dias. Com este mesmo pensamento, resolvi revisitar o tema e produzi este Garimpo Netflix: Elas (vol. 2), no qual a ideia permanece a de se aproximar do olhar feminino, trazendo uma nova perspectiva que, a muitos de nós, é limitada ou impedida por diversos fatores que não nos cabe debater aqui. A proposta continua sendo a mesma: trazer três títulos cujos personagens principais sejam essencialmente mulheres.

O resultado da vez contou com uma minissérie investigativa extremamente poderosa, um sensível filme introspectivo sobre um “proibido” relacionamento amoroso e uma ficção científica espetacular sobre a condição cíclica da vida. Obras de destaque, cujas narrativas não se encontram, mas ilustram os diferentes tipos de histórias que são contadas pelo olhar das mulheres.


– Inacreditável (Unbelievable), de 2019, criado por Susannah Grant, Michael Chabon, Ayelet Waldman

Baseado em histórias reais de mulheres estupradas, Inacreditável é uma obra fortíssima que nos coloca na pele de duas meninas violadas brutalmente por um homem com um mesmo modo de agir. Separadas pelo tempo, as histórias se aproximam através das investigações de duas poderosas personagens: as detetives Karen Duvall (Merritt Wever) e Grace Rasmussen (Toni Collette), com um olhar completamente diferente dos policiais homens que, a priori, haviam cuidado do caso.

A sensibilidade e profundidade alcançadas pela série são em muito sustentadas pela construção impecável da personagem Karen Duvall, contando com um fabuloso trabalho de Merritt Wever, ao conseguir trazer tons delicados, sentimentais e cristãos a uma mulher extremamente forte, diante de lobos loucos a selecionar suas presas na noite.

Uma minissérie envolvente, cheia de poder e fúria, que abraça seu espectador com a delicadeza e a sensibilidade impossíveis a uma história como essa.

– Carol, de 2015, dirigido por Todd Haynes

A década de 1950 não era muito convidativa a casais “fora do padrão”. Se em pleno século XXI, alguns debates ainda parecem ser continuações do medievo, imagina o que acontecia 60 anos atrás. E é nesse contexto que Todd Haynes situa seu conto sobre duas mulheres que começam a se envolver, em uma relação amorosa e prazerosa.

Carol (em maravilhoso trabalho de Cate Blanchett) e Therese (em grande atuação de Rooney Mara), apesar da diferença de idade, precisam encarar os dilemas e os problemas impostos por uma sociedade que não aceita aquilo que entendem por “diferenças”. Mais do que isso, Carol ainda tem que batalhar com seu marido abusivo para continuar a sonhar em ser o que deseja.

Um filme que se torna tão mais forte quanto mais introspectivos se apresentam suas personagens.

A Chegada (Arrival), de 2016, dirigido por Denis Villeneuve

O bom diretor Denis Villeneuve faz, muito provavelmente, aquela que se tornou a sua obra mais poderosa e irretocável. Uma ficção científica que não flerta tão somente com os aspectos comuns ao gênero, mas que passeia firmemente pelos dramas pessoais de um linguista, que se vê como a principal ponte de comunicação entre a Humanidade e naves espaciais que repentinamente apareceram pelo planeta.

Louise Banks (pela fantástica Amy Adams) é quem detém esse conhecimento e que, com sua sensibilidade e saber, consegue atravessar os muros da intolerância, promovendo uma outra alternativa que não a destruição. Conceitos e noções de comunidade, humanidade, significado e tempo se ligam de maneira determinada em uma obra muito mais sobre o (pouco) conhecido em nós do que o grande desconhecido lá de fora.

Leia a crítica completa aqui.

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