Crítica: A Trincheira Infinita (La Trinchera Infinita)

Um filme sobre a resistência diante da ascensão mundial do fascismo no fim da década de 30, da perspectiva espanhola pós-guerra civil, parece, no mínimo, interessante e digno de uma chance. Higinio (Antonio de la Torre) faz parte do movimento revolucionário de esquerda e, como grande parte de seus integrantes, é intensamente perseguido pelo Estado franquista. Na esperança de ter o país salvo pelos Aliados ao final da 2ª Guerra Mundial (o que não aconteceria uma vez que a Espanha ficou de broderagem com a Alemanha nazista e depois sofreu represália a nível mundial), o homem resolve se “entrincheirar” em sua própria casa. Com a ajuda da esposa, ele vive anos e mais anos em um esconderijo no subsolo.

De fato o filme poderia ser interessante, não fosse ter um roteiro tedioso, atuações fracas e uma ausência de ritmo que faz com que a obra descambe pro devagar quase parando. Inicialmente, as lógicas de decisão do personagem principal não fazem sentido, o que me fez ter impaciência com menos de 10 minutos de tela do cara. E olha que ele é bonitão, mas nem deu pra quebrar esse galho pra ele. Exploremos os potenciais que o filme tinha, por fim.

Que decepção… (ler com a voz da propaganda do Kinder Ovo)

A escolha de retratar a história de Higinio é interessante, mas não suficiente. Consideremos a situação da Espanha até o fim do franquismo, que findou nos anos 70 com a morte do general: o país estava, de certa forma, entrincheirado. Isolado mundialmente por retaliação, foi ignorado pela ONU e usado aqui e ali durante a Guerra Fria pelas potências americanas e russas tão somente de maneira estratégica. O povo espanhol ficou estagnado economicamente por muitos anos até a reinserção a nível internacional e viveu, tal qual Higinio, no subsolo, emburacado, sofrendo ainda as consequências de um governo autoritário e repressor como o de Franco. Portanto, fosse explorado melhor o contexto histórico – e não só jogado e pincelado porcamente -, o filme ganharia maior força narrativa e importância.

Outra questão interessante, mas também ainda não suficiente, é o retrato concomitante tanto de esfacelamento de Higinio como indivíduo quanto como marido; tanta ausência, mesmo estando debaixo do nariz da esposa o tempo inteiro, destrói o laço do casal que acabara de começar antes daquilo tudo entrar no caminho. A reflexão de que estar presente de corpo não basta é convidativa, mas, novamente, o roteiro falha em abordar essa crise e DR silenciosa (por não poderem fazer barulho) da devida maneira. Uma pena, já que é uma deixa que desaguaria organicamente em termos de história, levando em conta o impacto que a revolução sempre tem no âmbito interpessoal dos participantes.

Mal sabiam eles…

Por fim, há outros milhões de títulos relacionados a 2ª Guerra Mundial que contemplam belamente esse período e, ainda, há também outros alguns que retratam a divisão fruto da Guerra Civil Espanhola (como em “A Língua das Mariposas) de forma mais completa. Dispenso dizer que filmes de um casamento em ruínas também temos às pencas (adoro, inclusive). Portanto, é com tristeza que digo que A Trincheira Infinita decepciona em cada temática que tenta abordar. E, antes que eu esqueça, proporciona essa decepção em doses homeopáticas que totalizam 2 horas e 27 minutos de bocejos e reviradas de olho.

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