Garimpo Netflix Especial: Corona Vírus

O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.


Corona, Covid-19, idiotia, seja lá qual for a epidemia pela qual estamos passando no momento, o fato é que nós do MetaFictions somos nerds raiz. À exceção de Marco Medeiros que é muleke piranha, gostamos de ficar em casa vendo filme, série, jogando videogame a desenvolvendo as artes ocultas do onanismo. Dito isso, entendemos ser nosso dever em nossa condição de cinéfilos-onanistas (ou onanistas-cinéfilos, como você preferir), trazer a todo o nosso vastíssimo público um Garimpo Especial com vários títulos na Netflix para que você, caro leitor, possa se aproveitar da nossa falta de vida social e passar pelo menos algumas horinhas dessa quarentena tendo o que fazer.

Pra isso, reunimos aqui nada menos do que 12 obras na Netflix, dos mais variados tipos e gêneros, pra que vocês tenham aí muitas e muitas horas de entretenimento do conforto do seu lar. Não deixem também de conferir o nosso Garimpo Amazon Prime Video: Especial Corona e também o nosso gigantesco acervo de indicações no Garimpo Netflix. Tudo pra ajudar a você a não sair de casa sem necessidade, a não ser que acabe seu papel higiênico. Aí eu te desejo boa sorte, guerreiro.


– Sem Dor, Sem Ganho (No Pain, No Gain), de 2013, dirigido por Michael Bay

Conhecido mais por seus filmes cheios de explosões e câmeras que giram, Michael Bay tirou uma folga dos tiros para se concentrar na realização deste muito bom Sem Dor, Sem Ganho, o título em português de uma obra tão despudorada que seu título original é um slogan da Nike. Contando aqui com um elenco de luxo, Bay conta a história de Daniel Lugo (Mark Wahlberg), um bombado de academia que se julga um injustiçado, um incompreendido e, porque não, um homem de bem que é diariamente oprimido pelo sistema. Entendendo que muita coisa lhe era devida, Lugo decide recrutar a ajuda de outros dois bombados interpretados por Anthony Mackie e por um The Rock gigantesco para sequestrar e roubar os bens de um ricaço bem escroto de Miami.

Trata-se de uma comédia de erros misturada com thriller em que 3 homens absolutamente medíocres tentam fazer algo extraordinário e, como não poderia deixar de ser, se fodem retumbantemente nesse processo. O mais curioso de tudo é que isso se trata de uma história real e o grau de fidelidade do filme ao que aconteceu é bem alto, tanto que Bay faz questão de estampar isso na tela a cada coisa inacreditável que acontece.


– Nocturama (Nocturama), de 2016, dirigido por Bertrand Bonello

Ajudar no seu confinamento não é te promover dias de perfeição. A perfeição poderia trazer o tédio e isso geraria conflito. Indicar filmes maravilhosos promoveria isso. Portanto, é importante que haja títulos controversos. Daqueles que fazem você querer discutir, seja porque gostou muito, seja porque achou uma verdadeira bosta. Para vários conhecedores do Cinema, Nocturama foi um filme que esteve na lista dos melhores do ano de seu lançamento. Para outros, o filme é uma bosta. Mas o que ele não é, definitivamente, é esquecível. Pelo contrário, até hoje me lembro e penso nele. Por vezes, sinto ganas de indicá-lo em um garimpo, mas logo desisto. E o motivo é o já dito: uma obra controversa, que merece ser vista para ser debatida. Seja por algo de bom que ela te traga, seja pelo que de raiva ela te proporciona.

Um grupo de pessoas, na França conflituosa de hoje, resolve se revoltar contra a sociedade na qual vivem e promove um ato terrorista. O filme acompanha os momentos pré-terrorismo desses personagens, de modo bem francês (o que não significa, para mim, um elogio, de modo algum), descritivo e introspectivo. Vale à pena conferir. Em especial, nesse momento que você precisa de algo além das mesmas notícias diárias para pensar a respeito.

– Ray, de 2004, dirigido por Taylor Hackford

Aqui temos uma daquelas famosas interpretações mediúnicas que Hollywood tanto gosta de glorificar, vide o Oscar que Jamie Foxx ganhou pelo papel. Ray acerta ao contar a história desse mago do R&B estado-unidense desde sua sofrida infância marcada pela tragédia da cegueira, até sua luta contra as drogas e relacionamentos torpes na juventude. Uma trajetória pessoal que de fato transformará a música negra para sempre.

A performance de Foxx é nada menos que incrível, e o filme do diretor Hackford faz bastante justiça à lenda musical e o legado do seminal Ray Charles. Vale muito a pena ser visto.


Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas (Big Fish), de 2003, dirigido por Tim Burton

“Um homem conta suas histórias tantas vezes que ele se torna essas histórias. Elas vivem depois dele, e dessa forma ele se torna imortal.”

Baseado no livro de Daniel Wallace, Peixe Grande e Suas Histórias Marvilhosas acompanha a vida de Edward Bloom (Ewan McGregor), um jovem extraordinário que se torna um velho extraordinário (Albert Finney), que se deleita em contar histórias extraordinárias de sua vida. Seu filho Will (Billy Crudup) é o único que parece imune ao seu charme, mas à medida que seu pai vai chegando ao fim de seus dias, ele fica obcecado em descobrir a verdade por trás de toda essa fantasia.

Uma das melhores obras de Tim Burton, que vem vacilando enormemente nos últimos anos, mas que sem sombra de dúvidas nos deixa um legado de obras extremante autorais e excelentes.

Confira nosso Assista! sobre o filme.

Primeiro, Mataram o Meu Pai (First They Killed My Father), de 2017, dirigido por Angelina Jolie

Esta adaptação do livro de memórias da escritora cambojana Loung Ung sobre o golpe do Khmer Vermelho naquele país e o genocídio que se seguiu marca o melhor trabalho da curta carreira de de Angelina Jolie como diretora. E é uma pérola no catálogo da Netflix.

Atuado inteiramente na língua Khmer, tem como ponto alto a performance fascinante da pequena Sareum Srey Moch, uma atriz de nove anos de idade descoberta por Jolie durante um processo de casting descrito como emocionalmente cansativo pela própria. Ela interpreta a jovem Loung, filha de um policial militar (Phoeung Kompheak), cujos laços com o governo autoritário deposto fizeram dele um alvo para o impiedoso novo regime comunista.

Filme forte para seus tempos de quarentena. Assista e confira a crítica na íntegra aqui.


Noite de Lobos (Hold the Dark), de 2018, dirigido por Jeremy Saulnier

Em 2013, o diretor Jeremy Saulnier dirigiu o excelente e pouco badalado “Ruína Azul”, seguido pelo igualmente excelente “Sala Verde”, desta vez bem recebido por crítica e público. Isso o credenciou a receber uma grana pra fazer este Noite de Lobos, de longe seu filme mais autoral, bem produzido e estranho, com momentos de verdadeiro brilhantismo em sua história que vai te deixar perturbado ao final da exibição, seja pelas escolhas estéticas do diretor, seja pelo roteiro intrincado e complexo de Macon Blair, colaborador habitual do diretor tanto como roteirista quanto como ator.

Após o desparecimento de algumas crianças numa cidade nos confins do Alasca, a mãe da criança mais recentemente desparecida entra em contato com o especialista em lobos interpretado pelo sempre excepcional Jeffrey Wright. Ele então parte ao Alasca para tentar encontrar esta criança e matar o lobo que supostamente teria sido o culpado deste sequestro. Essa premissa simples vai se tornando cada vez mais elaborada com a introdução de outros protagonistas e com um verdadeiro passeio que o filme dá pelos mais variados gêneros. Trata-se de um filme diferente, que exige toda a sua atenção para que seja apreciado corretamente.

Confira a crítica completa do longa aqui.
– Lazzaro Felice (Lazzaro Felice), de 2018, dirigido por Alice Rohrwacher

Na minha opinião o melhor filme de seu ano, Lazzaro Felice é uma fábula que não se prende a uma narrativa trivial de explicações didáticas. Pelo contrário, há um uso intenso de alegorias belíssimas para mostrar as principais relações humanas a que estamos acostumados. No entanto, não o faz a partir do olhar de alguém que se apresenta sufocado ou consumido por essas relações. O filme é, acima de tudo, uma ode à ingenuidade e à pureza, encarnadas pelo seu protagonista, o sempre feliz Lazzaro.

Em terras afastadas e sem qualquer conforto, uma família vive da subsistência enquanto trabalha arduamente para a proprietária daquele território. Em meio a tantos problemas imediatos, nosso personagem principal se mantém em sua incansável e inabalável bondade, que apesar de necessária a cada um de nós, parece incompatível com a natureza daquelas relações.

Um poderoso ensaio sobre a natureza humana e seu caráter imutável, cíclico e caótico, cuja estrutura imperativa pode ser facilmente abalada por um simples gesto de bondade, como prova em cada ação sua o feliz garoto Lazzaro.


– Comedians in Cars Getting Coffee, de 2012 – , criado por Jerry Seinfeld

Na década de 90 nos EUA havia um debate fundamental que polarizava toda uma nação tal qual ocorre politicamente no nosso país hoje em dia. O que era melhor? “Friends” ou “Seinfeld”? Na minha humilde opinião, Seinfeld é a melhor sitcom de todos os tempos e já sou velho demais para que isso mude. Era uma série sobre nada e, por isso mesmo, podia ser sobre tudo e assim o era. Com Seinfeld, o comediante de stand-up Jerry Seinfeld ganhou notoriedade mundial, muito dinheiro e carta branca pra fazer o que quisesse. Por um bom tempo, ele não quis fazer porra nenhuma, até que em 2012 criou Comedians in Cars Getting Coffee, uma espécie de talk show que segue Seinfeld buscando algum outro grande nome da comédia americana e mundial com um carro clássico (ou não) para um passeio e um café. Basicamente o que faz o “Carpool Karaoke”, com a diferença de que é legal.

O que temos aqui então são inúmeros episódios de um cara inteligente e engraçado conversando com outras pessoas inteligentes e engraçadas sobre tudo quanto é tipo de assunto, em especial a comédia. Temos gente absurdamente gigante como Eddie Murphy, Jim Carrey, Dave Chapelle, Mel Brooks, Louis CK, Jimmy Fallon, David Letterman e o mitológico Jerry Lewis sendo entrevistadas, dentre muitíssimos outros. É curto, divertido e extremamente maratonável.

Violet Evergarden, de 2018-, 1 temporada, dirigido por Haruka Fujita e Taichi Ishidate

Imagine um mundo pós-guerra onde a maior parte da população é iletrada e analfabeta, onde a ordem social lentamente está voltando e a geopolítica estabelece uma nova ordem mundial. Eis que Violet, uma soldado despida de qualquer sentimentos – uma verdadeira psicopata -, encontra-se sem utilidade nesse novo mundo e confusa com uma declaração que recebeu de quem a criou, um “eu te amo”. Por ser alfabetizada, ela inicia sua carreira de autômata de automemórias, ou seja, ela é responsável por transformar palavras cruas em cartas que carreguem emoção e cumpram seu papel de emocionar. Mas como alguém desprovido de emoções faz isso?

Em um dos animes mais belos de 2018, sendo indicado em 8 categorias do Anime Awards e vencendo como melhor animação, essa é uma obra sublime e sensível, que tenta o tempo todo nos colocar num papel empático junto com nossa protagonista.

Confira a crítica na íntegra.


– Explicando (Explained), de 2018-, 2 temporadas, criado por Joe Posner, Ezra Klein

Cansado de documentários longos, chatos, com roupagem antiguada e temas batidos? Então você está com sorte. Associado ao canal Vox (que disponibiliza excelentes vídeos em seu canal no YouTube), a Netflix chega com 2 temporadas num total de 30 episódios que consomem de 15 à 30 minutos do seu tempo. Não há aqui uma linearidade ou obrigatoriedade de se assistir todos, sendo cada episódio sobre um tema. Recomendo, inclusive, dada a origem desse especial, que você assista ao 4o episódio da 2a temporada “A Próxima Pandemia”, que com apenas 20 minutos vai te deixar mais cagado do que nunca com o coronavírus.

Narrado pelo premiado J. K. Simmons, Explicando é uma das mais didáticas aulas que você poderia ter nesse momento de isolamento.

Meu Nome é Dolemite (Dolemite Is My Name), de 2019, dirigido por Craig Brewer

Com atuações de cair o cu da bunda de tão espetaculares de Eddie Murphy, Keegan-Michael Key e Wesley Snipes (que não sei como não foi indicado ao Oscar), Meu Nome é Dolemite conta a história de ascensão Rudy Ray Moore como comediante de grande renome e influência nos EUA. Focando em uma época e evento específico de sua carreira, acompanhamos a confecção de um filme tão tosco e inacreditável quanto divertido. Tomando como cenário majoritariamente a década de 1970, vemos uma empreitada que tem absolutamente tudo para dar errado enquanto um homem luta contra suas limitações, investindo pesadamente em seu sonho. Esse é um longa de comédia permeado por muito drama, tornando leves cenas que deveriam ter uma carga emocional grande.

Talvez seja o melhor filme não visto de 2019. Confira a crítica na íntegra.


– Lucy (Lucy), de 2014, dirigido por Luc Besson

Alguns dos gêneros mais consumidos pelo público em geral é ação, thrillersci-fi. Este, em especial, costuma ser o campeão de views em nossos Garimpos. Não à toa, tem uma dúzia desses por aí, pelo site. Pensando, portanto, no seu bem-estar, segue aqui um título que une os três a um só tempo: Lucy, de Luc Besson.

Lucy, a própria que dá título à obra, (por Scarlett Johansson), é uma americana que trabalha na Ásia (na atual conjuntura, ela já teria picado a mula dali, hein) como mula, transportando uma droga altamente tecnológica. Após um incidente, seu organismo tem contato com uma grande quantidade dessa substância, fazendo-a, inesperadamente, se desenvolver para além do imaginável.

Em um jogo de conspirações e crime, Lucy tenta escapar de seus perseguidores à medida em que vai se transformando. Em tempos de confinamento (físico ou mental; este, inclusive, a que somos obrigatoriamente pressionados diariamente), a obra de Besson nos traz uma pergunta deveras pertinente: e se, em nossa mente, pudéssemos ir muito além?

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