Crítica: The Midnight Gospel (1a Temporada)
Faz um mês que estamos em quarentena por conta do novo coronavírus e os meios de entretenimento convencionais também se adaptaram para tentar funcionar no estado caótico que o mundo se encontra. Uma plataforma que está funcionando acomodada às condições imitidas da pandemia é o podcast e ele é explorado de maneira inovadora e criativa na brilhante The Midnight Gospel, mais novo e bizarro lançamento da Netflix.
Por 8 episódios de 20 a 36 minutos, acompanhamos Clancy Gilroy (Duncan Trussell), um spacecaster (podcaster espacial) que viaja para diferentes mundos, todos com seu grau de problemática, através de seu simulador de multiversos. Em cada mundo, Clancy entrevista figuras com opiniões bem fortes sobre os assuntos mais diversos, e não é qualquer assuntinho não, hein? Além disso, se prestarmos bastante atenção na maneira como os personagens se comunicam, estamos basicamente assistindo um podcast animado. É uma forma completamente nova de entretenimento e aqui estão alguns dos motivos para vocês a maratonarem.
Pendleton Ward, criador, diretor e roteirista da série, é uma das minhas maiores influências como escritora e minha admiração por ele só aumentou com esse projeto. Sou apaixonada por seu trabalho desde quando escrevia episódios do subestimado “Trapalhadas de Flapjack” (uma das primeiras parcerias com seu frequente colaborador, Thurop Van Orman, e Alex Hirsch, criador do sucesso e meu xódozinho “Gravity Falls”) e principalmente quando lançou o que pode ser considerado sua magnum opus, “Hora de Aventura”. Com o anúncio de uma sequência da aclamadíssima animação para o serviço de streaming HBO Max, aproveite a experiência que é essa série original da Netflix, repleta de marcas registradas de Ward.
Diferentemente dos desenhos anteriormente mencionados, “Midnight Gospel” é mais direcionado para um público adulto, porém, se seus pais deixam você ver esse tipo de conteúdo, se joga. Não sei por onde começar, já que me impressionava a cada capítulo. O visual excêntrico e psicodélico é encantador e complementa bastante a vibe do programa, que funciona perfeitamente sem ter uma estrutura narrativa tradicional. Por mais estranho que pareça, a história em si funciona apenas como detalhe. O mais importante é como ela é transmitida, especialmente nos diálogos entre Clancy e os entrevistados. Nosso carismático anfitrião entrevista algumas figuras notáveis como o doutor Drew Pinsky e Damien Echols, um dos membros do trio de supostos assassinos West Memphis Three, e promove debates interessantes sobre religião, drogas, meditação, magia, tudo o que imaginar. Você verá de tudo e mais um pouco em todos os sentidos, ou seja, o inimaginável é possível nesse aglomerado universal.
Uma brisa louca e tecnicamente magistral é complementada pela pegada intimista que Ward nos apresenta. Caso participe dessa experiência mais de uma vez, tenho uma sugestão inusitada: escolha um episódio e assista-o de olhos fechados. Terá a mesma experiência de quando escuta um podcast e será tão sensacional quanto o próprio Midnight Gospel. Você nunca fez algo assim, então, prepare-se!
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