Crítica: Morte às Seis da Tarde (Plagi Breslau)

O que mais tem saído na Netflix por esses dias são filmes policiais investigativos. Em meio a um foco maior, ao que parece, nas produções espanholas do gênero, o streaming disponibilizou hoje uma obra polonesa, lançada em 2018, mas que certamente não obteve a visibilidade necessária no Brasil. Sorte a nossa que a Netflix resolveu colocar em seu acervo esta, pois apesar de trazer todos os signos que guiam esse tipo de filme, Morte às Seis da Tarde consegue certo destaque em sua narrativa.

Helena Rus (em bom trabalho de Malgorzata Kozuchowska) é uma investigadora da polícia, que sofre por uma perda. Suas características nos dão a entender, sem estampar nada na cara, que ela anda consumida por isso, não dormindo direito, provavelmente não se alimentando e não apresentando qualquer tipo de empatia por nada. Suas atitudes, inclusive, sugerem algo de muito blasé em seu cotidiano. O único momento de afeto que ela demonstra é com todo e qualquer animal com o qual tem algum tipo de contato. Nem que sejam pombos na rua ou na janela a serem alimentados. Em meio a esse caos emocional, ela se envolve em um caso pesado: todo dia, às seis da tarde, um corpo executado de maneira bizarra é encontrado na cidade. Todos eles têm na pele, marcados a ferro quente, alguma ofensa que denota o caráter da vítima. Todas elas, portanto, têm em comum alguma característica abominável: corrupção, traição, sadismo, etc. Para solucionar o caso, Helena tem a ajuda de uma outra investigadora enviada para o seu departamento, Magda (Daria Widawska).

Sempre um passo atrás.

A narrativa, então, vai evolvendo o espectador nesse conjunto sádico e bizarro do possível psicopata em série. As execuções são obras bastante impactantes de uma mente nada sã ou pura. No entanto, seus alvos são sempre, como supracitado, indivíduos de péssimo caráter. Muito embora não criemos empatia pelas vítimas, por conta de suas atitudes condenáveis, tampouco podemos nos regozijar de uma suposta “justiça feita com as próprias mãos”, pois isso nos reduziria a um outro animal qualquer (não que não sejamos, de fato; mas, ao menos, tentamos não sê-lo). De corpos despedaçados a execuções teatrais (literalmente), o “carrasco” parece se superar cada vez mais, deixando os investigadores perdidos enquanto o relógio se aproxima, a cada dia, das seis da tarde, quando haverá um novo episódio a ser encontrado. “Ele está sempre um passo à frente”, como indica Helena.

Sem cair no spoiler, nesse caso teremos contato com as reais motivações do criminoso e essas podem nos colocar um pouco mais sensíveis ao que se passa em sua mente igualmente em escombros. Perdas semelhantes, emoções à flor da pele, psicológico abalado: muitos são os pontos em comum entre o psicopata e Helena, a investigadora desses crimes. Uma perseguição mais mental do que física (apesar de, obviamente, também haver deste tipo) vai colocando a policial cada vez mais próxima da mente criminosa. À medida em que as motivações aparecem e se misturam nesse cenários caótico para cada qual, Helena vai ficando mais suscetível à sua instabilidade emocional. Um daqueles típicos casos que o afastamento buscando a neutralidade vai se tornando cada vez mais impossível.

Isolada em meio a uma multidão.

Tal qual outros filmes do tipo, esta obra polonesa consegue segurar o espectador em rédeas curtas, mantendo seu interesse por todos os cerca de 90 minutos de narrativa. Indo além de uma mera perseguição ao alvo a ser colocado diante dos olhos vendados da justiça, o filme vai diminuindo as barreiras etéreas que tentam separar arbitrariamente pessoas da lei e criminosos. Antes do mais, cada um ali envolvido, de um lado ou do outro, é um ser humano. Como todo, abandonado à sua própria sorte, diante dos sabores e dissabores que a vida pode deixar em seus caminhos.

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.