Crítica: A Terra e o Sangue (La terre et le sang)

Há pouco tempo, o editor-chefe Gustavo David resenhou o bom filme canadense falado em francês “O Declínio“, no qual somos colocados no interior de um grupo de características políticas que se prepara para o caos social, construindo um campo de treinamento para-militar. Outro lançamento na mesma língua, A Terra e o Sangue, traz a mesma atmosfera de sobrevivência que o anterior, porém sem as mesmas motivações. Se naquele o clima de tensão fora causado pela possibilidade de uma catástrofe de proporções mundiais, neste o que atiça o fogo no curto pavio de conflitos é uma briga com traficantes imigrantes do país.

O diretor Julien Leclercq repete a temática de outras obras suas, na qual foras da lei fazem parte principal da trama narrada. Dessa vez, a atrito direto com traficantes é feito à revelia do protagonista. Saïd (Sami Bouajila) tem uma serralheria, a qual pretende vender por não conseguir segurar as pontas após a crise econômica. Tudo parece acordado para esse seu plano, quando ele descobre que um de seus aprendizes (em liberdade condicional) escondera um carro com cocaína roubada de um forte traficante local em seu terreno de produção. Enquanto Saïd come o garoto no esporro, o meliante Adama (Eriq Ebouaney) descobre onde está seu objeto de valor. Logo, todos estarão com armas em punho, dentro do grande território da serralheria, para resolver o embate. E só.

Tiro e fogo.

Quando digo “e só” é porque não há, de fato, mais nada no filme além disso. O diretor cria uma situação para passar 1h de tensão ao espectador. Tensão essa que trabalha o clima de sobrevivência de Saïd, em especial no que tange a proteção a sua filha, também presente no terreno, em relação aos traficantes que vão em busca de sua droga. O que sabemos sobre os personagens, informações essas colocadas durante o curto primeiro ato, beira a nulidade. Nada do pouco que nos fora apresentado serve a qualquer propósito. Se tivessem sido informações completamente diferentes, ou se sequer tivessem nos dados qualquer informação, o filme não mudaria. Não há profundidade, a menor que seja, acerca de qualquer aspecto da produção: personagens, eventos, discurso, nem mesmo a primeira parte do título faz muito sentido para o que a narrativa nos apresenta. Apesar de se tratar de imigrantes (isso fica claro no nomes dos personagens), nada ali gera uma discussão além.

Sem te dar mais spoilers, o que na verdade não foi dado, o filme se resume nessa linha: tiroteio sem parar em uma luta por sobrevivência dentro daquele terreno. E só. Já disse isso, eu sei. Mas, de fato, a produção se parece mais com um exercício de direção para ver se o diretor consegue manter a tensão ao longo de 60 minutos. Se for o caso, sim, ele passou no teste. Ele segura a narrativa nesse sentido. Mas, para além disso, nada sobra. Se essa for sua intenção ao buscar um título, esse te servirá. Para qualquer outra coisa, já duvido muito.

E mais tiros.

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