Crítica: Tigertail

Napoleonizações do cinema asiático à parte, a trama de Tigertail, que se inspira na história pessoal do seu diretor Alan Yang, percorre três camadas da vida de Pin-Jui (Tzi Ma, Hong-Chi Lee e Zhi-Hao Yang) através de flashbacks pouco lineares sobre a personalidade de uma criança desolada, um jovem reticente e um adulto resignado.

O roteiro, que muito se baseia na máxima choraniana “cada escolha, uma renúncia, isso é a vida”, constrói a potência do seu protagonista através dos seus relacionamentos com as mulheres preponderantes em sua história: sua mãe, seu grande amor jovial, sua esposa arranjada e sua primogênita.

Conforme anda a carruagem, as inconciliáveis versões de Pin-Jui vão sendo reveladas na medida em que o interesse do jovem taiwanês em viver o American Dream se torna mais evidente. Quando resolve encarar a sua maior ambição de maneira pragmática, ele abre mão de sua maior paixão, Yuan (Yo-Hsing Fang), e concorda em se casar com a filha de seu chefe, Zhenzhen (Kunjue Li), em troca da oportunidade de se mudar para os Estados Unidos.

Entre a desolação taiwanesa e o desmoronamento do nem tão meritocrático sonho americano, Tigertail é o retrato angustiante de um homem que nunca foi capaz de cruzar com a própria sorte e romper as barreiras da sua inconsistência emocional, estando esgotado de carregar o peso da sua própria cruz. À medida em que mofa em uma quitanda enquanto a sua esposa grávida chega ao limite inevitável de uma rotina de abandono, Ping Jui se torna um marido exigente e desprovido de empatia, fadando o rumo das suas relações familiares ao fracasso.

Com o protagonista mais velho, divorciado e introspectivo, o filme nos transporta para uma previsível tentativa de aproximação entre pai e filha, preparando uma atmosfera de nebulosidade sob a personalidade da já adulta Angela. Quando esse processo se inicia, o diretor de fotografia, Nigel Bluck, é esplêndido ao conectar o idealismo das memórias de Ping Jui a sua natureza atual adepta a auto sabotagem. O maior patrimônio do filme passa justamente pelos melancólicos planos naturais até as cenas interpretadas pelo excelente Tzi Ma, sozinho, transmitindo a luta interior de seu personagem através de uma poderosa linguagem corporal.

Se for necessário sintetizar as qualidades de Tigertail em uma só cena, não há como ser diferente. A composição quadro a quadro nos últimos instantes da curta obra, desemboca em um homem eternamente vinculado ao seu passado, mas que consegue dar uma trégua às suas próprias imperfeições. Diante do que se foi. Ao lado do que lhe resta.

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