Crítica: Um Amor, Mil Casamentos (Love. Wedding. Repeat.)
O gênero da comédia romântica é uma das coisas mais castigadas dentro do Cinema. É, talvez ao lado do terror, o gênero mais explorado comercialmente pelos estúdios. Isso ocorre, e aqui vou cagar uma regra tirada diretamente do meu rabo, porque é bem barato de filmar, o que acaba fazendo com que o produto final possa ter retorno sobre o investimento estrondoso. Para se ter uma noção, o clássico (ou não) “Uma Linda Mulher” custou meros 14 milhões de dólares para ser feito e arrecadou quase 500 milhões em bilheteria mundo afora. Isso dá um lucro de mais ou menos 3.500%. Vale a pena, portanto, lançar 10 longas genéricos custando 10 milhões para dar a sorte de um deles arrecadar 200.
Feita esta análise mercadológica que de nada serve que não para mostrar como eu sou foda e cheio de conhecimento, um fato da vida é que os ingleses fazem as melhores obras desse gênero de que se tem notícia. É difícil lembrar de comédias românticas relativamente recentes de melhor qualidade do que os verdadeiramente clássicos “Um Lugar Chamado Notting Hill”, “Simplesmente Amor” ou “Quatro Casamentos e um Funeral”, todas curiosamente escritas pelo mesmo cara: Richard Curtis.
Pois bem, Um Amor, Mil Casamentos tem mais do que um quê dos filmes de Richard Curtis. Apesar de ser uma adaptação de um filme francês de 2012 chamado “Plan de la Table”, a influência de Curtis no longa é inegável, a começar pela escalação de um protagonista que é os cornos do Hugh Grant, ator que participou de todos os filmes acima indicados. Há aqui uma estrutura clássica de comédia romântica, com encontros e desencontros e final feliz, muito embora no meio do filme haja uma quebra na formuleta que traz um muito necessário frescor ao gênero, além de elevar o filme a um patamar ao qual não chegaria sem esse truque de roteiro. Mais não digo, sob pena de dar spoilers.
Aqui temos a história do inglês Jack (o bonitão Sam Claflin, o Hugh Grant da nova geração), um sujeito bem bucha que deixou de dar o bote quando deveria ter dado em Dina (Olivia Munn, um ser que beira a perfeição), amiga americana de sua irmã, Hayley (Eleanor Tomlinson). Passados 3 anos desse evento, Hayley vai se casar na Itália e obviamente a gente já sabe que Jack e Dina vão se reencontrar. Felizmente a coisa não para por aí porque um contatinho de Hayley resolve entrar de penetra na festa e agora tanto Hayley quanto Jack vão ter que se virar para impedir que o rapaz bote água no chope da menina.
Uma coisa que diferencia as comédias românticas inglesas é que elas em geral não tratam o espectador como idiota o tempo todo. As situações são mais calcadas na realidade, os personagens falam palavrões, se xingam impiedosamente e o tal penetra da festa chega a ela loucaço de pó, dando ainda um tapinha ou outro ao longo do filme. Dito isso, rogo a todos que tenham alguma suspensão de descrença e se coloquem no lugar dos protagonistas se quiserem curtir o filme. Por mais real que seja, estamos aqui falando de uma galera inglesa e o inglês é, por natureza, meio pau no cu, meio educadinho demais. Digo isso porque o conflito principal do filme, qual seja, ex-namorado-querendo-causar-rebuliço-no-casamento, teria sido resolvido imediatamente aqui no Brasil na base da agressão física, ainda mais se o cara aparecesse torto de tanta brizola.
Não posso deixar também de destacar o elenco coadjuvante, em especial Allan Mustafa, que interpreta Chaz, o atual namorado de Amanda (Freida Pinto), ex-namorada de Jack que sabe-se lá porque caralhos foi convidada ao casamento. Sua neurose tipicamente britânica sobre o tamanho do pinto e a potência sexual de Jack roubam a cena todas as vezes em que ele aparece, fazendo com que eu lamentasse ele não ter tido mais tempo de tela.
Dito tudo isso, temos aqui um filme bem executado, todo certinho dentro de sua proposta, com lição de moral e final feliz, exatamente como manda o figurino. É bem o tipo do filme para se ver ao lado da sua alma gêmea e dar um levante nas relações que conseguiram sobreviver até aqui depois de tanto tempo de quarentena. Bonitinho, bem feito e universal. Mal posso esperar pela versão brasileira com Fabio Porchat, Whindersson Nunes e o grande Paulinho Gogó.
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