Garimpo Netflix #65: Holocausto
O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.
Em seu maravilhoso livro “É Isto um Homem?”, Primo Levi, judeu italiano sobrevivente de Auschwitz, pedira ao mundo que jamais, em tempo algum, se deixasse de falar acerca dos horrores dos campos de extermínio. Seu apelo dizia que aquelas palavras deveriam ser passadas de geração em geração, para que o que o homem foi capaz de fazer com o próprio homem nunca caísse no esquecimento ou se tornasse uma vaga lembrança.
Hollywood entendeu bem o recado e constantemente produz filmes que tratam do assunto. Alguns chovem no molhado, outros se apresentam como verdadeiras obras-primas. De todo modo, prestam o seu devido serviço de manter aquela parte da História viva, não permitindo por um só instante que uma camada de poeira possa esconder qualquer detalhe que seja.
O Garimpo de hoje tem como linha condutora para os três títulos indicados exatamente esta temática. Porém, através de três obras completamente diferentes entre si: uma que aborda a resistência daqueles que não compactuavam com isso; uma que se concentra no romance de uma atriz com uma das principais lideranças do Partido Nazista; e uma outra ainda que se utiliza da atualidade com o gênero de terror para, de alguma forma, revisitar igualmente aquele assunto.
– O Zoológico de Varsóvia (The Zookeeper’s Wife), de 2017, dirigido por Niki Caro
Essa é a típica história da resistência. Não por parte de judeus. Não por parte de soldados. A diferença nesse conto é que os protagonistas são uma família que cuida de um zoológico em Varsóvia. Momentos antes de estourar a Segunda Guerra Mundial, o casal Zabinsk (por Johan Heldenbergh e pela deusa perfeita maravilhosa incomparável Jessica Chastain) tem todo o cuidado e apego aos animais do zoológico. No entanto, todo o preciso trabalho com os animais é deixado de lado a partir dos bombardeios e da tomada dessa parte da Polônia pelos alemães.
Se antes utilizavam as instalações do local para as atrações ao povo polonês e a turistas, agora o casal fará de tudo para trazer judeus escondidos e mantê-los seguros no então desativado e quase destruído Zoológico. Com acesso aos guetos, eles vão trazendo os prisioneiros aos poucos, enquanto tentam escondê-los debaixo dos narizes nazistas que também utilizam o terreno.
Uma narrativa bonita e sempre atual acerca da resistência daqueles que não compactuam com as determinação insanas que vêm de cima.
– Lída Baarová, de 2016, dirigido por Filip Renc
Lída Baarová (Tatiana Pauhofová), já velha, conta a sua história cheia de glamour, de tempos atrás. Super badalada no Cinema Alemão, ela logo vira a menina dos olhos do Führer e do amistoso e mulherengo Josef Goebbels (por Karl Markovics), o líder da Propaganda Nazista que não medirá esforços para tentar ter um romance com a atriz.
Em meio às histórias trágicas promovidas pelo Partido Nazista, surge aqui, portanto, uma narrativa de romance, no meio do olho do furacão: a relação de uma atriz com um dos principais apoios de Hitler. Se, décadas depois, no momento em que a Lída velha conta sua história de antes, ela dá uma de “joão sem braço” ao alegar que não sabia dos terrores promovidos pelos nazistas, nós cheios de um julgamento pregresso sabemos que, em muito, aquilo podia se tratar da velha tática do oportunismo.
Julgamentos à parte, o filme traz um momento pouco explorado pelo Cinema: a vida de excessos que os grandes figurões tinham quando estavam por cima. Mas aquele Reich que fora feito para durar mil anos, durou bem menos do que isso.
– Alma Perdida (The Unborn), de 2009, dirigido por David S. Goyer
Temos aqui um exemplo bem tradicional do que é um filme de terror. David S. Goyer se utiliza dos principais elementos de um filme desse gênero. Aparições sinistras que desafiam a mente de seu protagonista, reportagens que ligam a narrativa principal com outros acontecimentos ainda mais aterrorizantes, assombrações que vêm e vão, possessões e exorcismos.
Apesar desses elementos não sugerirem qualquer originalidade (o que, nesse gênero, muitos poucos títulos apresentam), a narrativa caminha para um lado bem diferente. A assombração que parece seguir Casey Beldon (Odette Annable) vem caçando seus familiares de geração em geração. Até que ela descobre que sua origem foi em Auschwitz, quando familiares seus que passaram pelos experimentos de Josef Mengele, de alguma forma, tiveram contato com um espírito.
O destaque do filme vem exatamente de conseguir associar uma temática forte e necessária a um gênero que, geralmente, tende a descartar qualquer noção mais profunda em sua narrativa.
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