Garimpo Netflix #66 - Cinema Nacional

O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.


Nosso garimpo desta semana é mais uma vez dedicado ao Cinema nacional. Extremamente combalido nos últimos anos, com falta de verbas e incentivos, o Cinema brasileiro frequentemente nos lembra de sua relevância e de seu poder como uma das ferramentas de auto-conhecimento de um povo.

Aproveitem as indicações e nos digam se gostaram!


– Como Nossos Pais, de 2017, dirigido por Laís Bodanzky

Sinto-me na obrigação de dar um alerta antes de falar propriamente desta bela obra da diretora Laís Bodansky: Se você acha que está em um relacionamento prestes a ruir mas tem muito medo desse passo decisivo, não querendo nem pensar na hipótese de um término doloroso, passe longe desse filme.

O filme conta a história de Rosa (Maria Ribeiro), bem menos “pra frentex” do que sua origem poderia supor, sendo ela publicitária e filha de pais-de-humanas-proto-hippies, que se vê obrigada a um reencontro consigo mesma e seus traumas passados e presentes ao se descobrir completamente sozinha em uma casa com filhas e marido enquanto desvela uma relação bastante conflituosa com sua mãe, Clarice (Clarisse Abujamra).

Ao longo de seus 102 minutos, Como Nossos Pais irá te emocionar com um roteiro denso e atuações bem acima da média, com ponto altíssimo para Maria Ribeiro e Clarisse Abujamra nos papéis de mãe e filha. Um filme sensível e universal que merece muito sua atenção.

O Filme da Minha Vida, de 2017, dirigido por Selton Mello

Todos os meus 17 leitores já devem saber o quanto reverencio a obra de Selton Mello. O rapaz é irrepreensível, até mesmo fazendo cosplay de Tonho da Lua em a Indomada (Grampola…). Como o mais talentoso ator brasileiro de sua geração (que inclui baluartes como Wagner Moura, Lázaro Ramos e Matheus Nachtergaele), ele traçou uma meta ambiciosa para a realidade de um país sem indústria de cinema estabelecida: muito cedo abandonou o circuito rentável de novelas globais para se dedicar a projetos artisticamente monumentais na telona, primeiro como o ator excepcional que é, e depois como um diretor de mão-cheia, daqueles capazes de dar vida a histórias com doçura e competência.

O Filme da Minha Vida conta a história do jovem Tony Terranova (Johnny Massaro) naquele momento crucial na vida de um rapaz, o do descobrimento da paixão e da libido. Só que essa fase é atravessada pelo trauma do abandono paterno, sua grande referência na infância. Passado no interior do Rio Grande do Sul em algum momento da década de 60, o filme nos oferece cenários lúgubres, muito bem captados por uma fotografia feita com muito esmero. Um belo filme, de um grande artista brasileiro. Sorte nossa. Assista!

– Raul: O Início, o Fim e o Meio, de 2012, dirigido por Walter Carvalho

Em certo momento deste documentário, Paulo Coelho, o famoso escritor e parceiro de décadas de Raul Seixas, constata que o cantor é mito e mitos não são biografáveis. Não deixa de ser verdade, mas esse documentário de Walter Carvalho (um mago do cinema brasileiro, pra ficarmos numa alegoria raulziana) chega próximo da perfeição no esforço de dissecar as centenas de facetas diferentes desse icônico personagem da nossa cultura.

A vida de Raul Seixas, o homem, possui quase todos os elementos fantásticos para se contar uma grande história. Um garoto pobre, nascido em Salvador, que vem parar no RJ, flerta com a fome e o ocultismo e se torna um dos músicos mais celebrados (e ricos) de sua época, terminando sua vida quase que em ostracismo total, morto na solidão de seu apartamento. Ao passo que esse breve resumo não faz jus (nem de perto) a uma vida tão prolífica quanto a desse monstro do rock nacional, o filme aqui sugerido chega bem perto. Não deixe de assistir!

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