Crítica: 18 Presentes (18 Regali)

Do lugar de fala de um exímio desapreciador de trailers, confesso que 18 Presentes me aliviou pois não entrega exatamente o que a sua sinopse dramalhona propõe. A obra italiana dirigida por Francesco Amato, se inspira na história real de Elisa Girotto, uma mãe que descobre um tumor irreversível durante a gestação de sua primogênita, e decide deixar um presente para cada um dos seus aniversários até que ela atingisse a maioridade.

Através de um primeiro ato aparentemente afobado, o roteiro pincela alguns momentos da vida da pequena Anna (Benedetta Porcaroli, a mistura perfeita de Kristen Stewart com Bianca Bin), crescendo sob os cuidados de seu pai Alessio (Edoardo Leo), até alcançar os fatídicos 18 anos, momento no qual a sua rebeldia ao universo que lhe é imposto chega ao limite, fazendo com que ela recusasse o último presente da falecida mãe e saísse de casa sem rumo, tendo esta empreitada sido interrompida por um acidente em meio a fuga.

É sempre difícil retroceder a complexidade da realidade através de filmes inspirados em pessoas. Essa experiência se torna ainda mais complicada quando elementos surreais são inseridos na trajetória. À primeira vista, 18 Presentes culminaria, portanto, em mais um desses roteiros construídos especificamente para roubar lágrimas fáceis por nos envolver numa sequência de acontecimentos dolorosos e com apelo emocional.

Acontece que a direção opta por não mostrar imediatamente essa sequência dramática e insere um truque narrativo que possibilita reunir mãe e filha em uma dimensão paralela, sendo a ânsia de Anna pela figura feminina da sua progenitora a grande base sobre a qual toda a obra se desenrolará.

A consequência disso é que o espectador interrompe a construção de pontes quando se torna evidente a impalpabilidade do contexto exposto. Dentro de tudo o que foi apresentado, essa é certamente a ferramenta menos convencional do filme, capaz de potencializar a originalidade e desviar a história do banal. O tempo passa a ser manipulado e o impossível deixa de existir, proporcionando trocas orgânicas entre mãe e filha separadas há dezoito anos.

Se por um lado 18 Presentes não faz concessões aos clichês mais apelativos neste tipo de drama, há algumas metáforas visuais que, ao serem embaladas por um trilha sonora até certo ponto intrometida, permitiram que a protagonista desfrutasse de uma personagem multifacetada com bastante coerência, injetando muita química nas cenas com a sua mãe Elisa (Vittoria Puccini).

Ainda que esteja longe de ser uma produção com um grau de criatividade marcante, não dá pra acusar 18 Presentes de ser um filme meramente descartável. O melodrama italiano nos faz torcer pelo surgimento de cenas independente do que fosse preciso para que elas acontecessem. Nesses momentos, os zoinhos se encheram d’água e o objetivo foi totalmente cumprido.

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