Crítica: Mentiras Perigosas (Dangerous Lies)

Volta e meia, a Netflix procura produzir alguns thrillers com um toque teen (não no sentido de ser voltado completamente para adolescentes, mas de ter um apelo a este público a partir do elenco). Foi o caso do tão vexado aqui por vocês “Vende-se Esta Casa“, com o grande protagonista de “13 Reasons Why“. Desta vez, caminhando mais por um suspense psicológico, a elegida é Camila Mendes, a filha de brasileiros, tão conhecida pela série teen arrasa-quarteirão “Riverdale”. Mentiras Perigosas é a nova tentativa do streaming de envolver seu espectador em uma rede de intrigas e segredos que tentam sufocar os personagens dessa narrativa.

Katie (Camila Mendes) e seu marido Adam (Jessie T. Usher) formam um jovem casal que tenta, sem sucesso, resolver os problemas financeiros comuns a duas pessoas sem formação universitária ou bons empregos. Adam recebe diversas negativas em suas entrevistas de emprego, enquanto suas dívidas se acumulam por não ter concluído a tão promissora formação. Katie, antiga garçonete, após ter sobrevivido a uma tentativa de assalto no local de trabalho, agora é cuidadora de um rico e solitário idoso (Elliot Gould). Homem este por quem nutre grande simpatia e constrói, em apenas quatro meses, uma relação de amizade, a ponto de o velho tentar ajudá-la com a crise econômica insistente. Porém, um golpe de azar parece atingir mais ainda a vida de Katie: ela encontra o idoso sem vida e uma investigação policial se inicia.

Felizes na pobreza.

Um caso que parecia simples começa a envolver a protagonista. Tentativas de ajuda financeira do idoso passam a ser interpretadas como se a menina o estivesse extorquindo. Um corretor, do nada, promove violentas investidas para comprar a casa, enquanto persegue cada passo de Katie e Adam. E, como se não bastasse, uma advogada aparece com um, até então, desconhecido testamento do proprietário, no qual ele deixava todas as suas posses para Katie. Tudo o que os investigadores queriam para construir uma motivação. Dessa forma, em uma trama rocambolesca, os fatos vão afogando o jovem casal de modo a colocá-los como principais suspeitos no caso do homem velho. Mas, apesar da narrativa nos deixar claro que ela não tem nada a ver com isso, nossa intuição já não é a mesma para com Adam ou os outros envolvidos nessa história.

Parece um conto comum e repetido. E é. Parece muito elemento em um trama, o que, se não costurado direito, largaria partes soltas. E é também. O que temos aqui é uma obra que tenta levantar vários plots, ensaiando twists que deixariam o espectador boquiaberto, mas abandonando cada um deles à medida em que vai apresentando mais e mais cartas na manga. Como um truque de mágica, no qual o ilusionista quer te provocar e gerar uma quebra de expectativa para um número muito maior do que se imagina. Mas, ao longo deste número, o mágico se perde em sua própria apresentação. Assim se parece Mentiras Perigosas, de modo que muito do que fora implantado no roteiro, a priori para ser colhido mais à frente, é esquecido ou abandonado e não surte o efeito desejado ou sequer imaginado pelo espectador. Muito rocambole para pouco recheio na nossa outra ilustração medonha aqui. É algo tão cheio de tentativas que até para escrever uma sinopse nos complica. O resultado é um ninho de rato que não só perde o público como se perde em si mesmo.

Tristes na riqueza.

A atmosfera fora pensada para algo realmente sufocante. A história, mesmo com um sem-número de elementos, fora pensada para algo impactante. Os personagens, que não são poucos, foram pensados para dar liga a essa narrativa. Mas nada disso foi conquistado. Apesar de tentar seguir a receita de filmes do gênero, os muito elementos colocados dentro desse “prato” gerou uma confusa mistura de sabores. Já que nossa nova tentativa de ilustração sugere, é mais ou menos o que o chef Fogaça tenta mostrar: “menos é mais”. E aqui, o mais do filme gerou um menos bem descarado.

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