Crítica: A Serial Killer (Mrs. Serial Killer)

O Cinema Indiano, assim como todos, tem seus vários modelos de filmes. Não estou a falar de gêneros, mas do modo de se fazer a obra. O Cinema americano, talvez, seja o que tenha menos nuances, porém. Mesmo filmes de grande público e aqueles mais independentes parecem seguir uma determinada forma de realização. Os elementos, como são postos diante do espectador, o desenvolvimento dos atos e o clímax têm a sua lógica semelhante nas obras desse país. Já em outras nações, há diferenças mais claras. Agora, no meu pouco conhecimento do Cinema Indiano (e isso é significativo para a minha fala), percebo que ele se divide muito mais claramente do que os demais: há aqueles que são um exagero só, novelas mexicanas elevadas a um expoente inimaginável, com clipes de música no meio, saídos absolutamente do nada; há uns que ficam no meio do caminho, mantendo o exagero, mas não chegando a colocar números musicais que não agregam em nada à narrativa; e há, ainda, uns completamente distantes dessas características (como o lindo “Ajji”, já indicado por mim em um Garimpo Netflix). O que me fez escolher A Serial Killer para resenhar essa semana foi a sinopse bem interessante. No entanto, por ter caído no segundo modelo ali listado, o que tinha de promissor se tornou refém de uma forma cinematográfica que não me parece a mais interessante.

Um famoso médico da região vive bem com sua belíssima mulher. A notícia de sua gravidez leva o casal às alturas. No entanto, quando seu ex-namorado policial resolve invadir a casa, na ausência do marido, para roubar, na cara dura e na frente dela, utensílios do médico, a vida deles se torna o inferno na Terra. É que este investigador estava atrás de um psicopata em série, que esquartejava mulheres solteiras grávidas após realização de um aborto, e decidiu implantar o DNA do doutor na cena do crime. Condenado, sua mulher precisará fazer de tudo para provar a inocência dele. Até mesmo o mais impensável: praticar um crime idêntico, de modo que a continuidade dos crimes sugira ao juiz que o conhecido médico é, de fato, inocente. Sem questionar uma única vez acerca do caráter de seu cônjuge, a mulher parte para o improvável. Uma história que, logo de início, trabalha com vários temas integrados e de muita delicadeza: amor, ódio, moralidade. Tudo para ir muito bem.

Culpado ou não culpado.

Eu não quero parecer preconceituoso com o formato cinematográfico de país diferente. Pelo contrário. Não há algo que eu ame mais no Cinema do que os asiáticos (em especial, os sul-coreanos – e isso vem de décadas!). Inclusive, esse mesmo Cinema tem uma maneira um tanto diferenciada de realizar suas obras, no que tange a narrativa e a carga dramática. Mas, diferente desses, as escolhas quase sempre ultra-eloquentes dos filmes indianos tiram um pouco da força que podiam causar em mim. Atuações bem nível novela, diálogos sem qualquer inspiração e excessivamente didáticos e um flerte multi-gênero que não parece funcionar foram o bastante para diminuir um tanto da carga dramática que um filme com esta sinopse tinha em sua essência. Uma prova do que eu costumo dizer sem parar: há um abismo gigantesco entre uma excelente idéia e uma boa realização.

O filme que deveria ser um thriller com toques de terror faz uso de elementos típicos de ação em cenas de perseguição: extremo uso de câmera lenta, lutas coreografadas com pulos, saltos e até uns passos na parede; feições de personagens que mudam da água para o vinho juntamente com o plot twist; e uma música muito, mas muito exagerada, insistindo nas notas que lembram o marcante “Psicose”, dão um tom completamente dissonante para essa sinfonia que pretendia ser muito mais do que é. E que se fosse menos, seria tão mais impactante do que tentou ser. Os próprios personagens brincam com a premissa multi-gênero do filme, que traz um pouco de humor (em horas erradas), suspense, romance, ação e terror. Com uma dosagem bem fora em cada um desses estilos. Ou seja, havia material de sobra para ser algo de destaque, mas a costura pouco elaborada resultou em um monstro do Frankenstein, bem tosco como é.

A estreita linha entre o amor e o ódio.

Fosse delicadamente esculpido e ponderando esse bando de elementos de forma que a conexão entre as pontas resultasse em algo mais sutil, aí provavelmente teríamos uma obra muito boa. No entanto, a tentativa de ser tudo a um só tempo gerou não ser nada o tempo todo. Apesar desses pontos ruins, há um filme interessante, com um enredo engenhoso e com temas que valem muito o olhar de cada um. Mas a frustração de tudo isso ter sido sacrificado no resultado permanece.

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