Crítica: Te Quiero, Imbécil
Te Quiero, Imbécil é uma comédia romântica bem padrãozinha que narra o período da vida de Marcos (Quim Gutiérrez, uma espécie de primo hispânico do Fiuk) em que as suas relações mais sólidas começaram a ser esfaceladas de uma só vez. O protagonista é um trintão largado pela namorada, Ana (Alba Ribas), durante o jantar de noivado, que, no dia seguinte, é demitido do emprego. Vendo-se solteiro após oito anos de namoro, é obrigado a voltar a morar com os pais, sem ter a menor ideia de como se relacionar com as mulheres sendo “um homem do século XXI”, conforme repete ao longo filme.
Debruçando-se nos conselhos de seu amigo canastrão Diego (Alfonso Bassave), aquela clássica caricatura de comedor do século passado, e assistindo aos vídeos publicados pelo guru virtual Sebastián Vennet (Ernesto Alterio), em clara sátira à pandemia de influencers descartáveis que nos assola, o protagonista dá início a sua busca por adaptação ao mundo contemporâneo, entrando no universo dos aplicativos de relacionamento, repaginando o guarda-roupas e tendo cuidados estéticos que jamais havia tido.
Quando Raquel (Natalia Tena), sua antiga colega de escola, entra em cena, de uma hora para a outra, dando luz àquela mesma personagem de garota independente de tantos outros filmes do gênero, o roteiro tenta emplacar uma mensagem de autoconhecimento, reconectando o personagem principal ao seu passado e iniciando uma reconstrução da sua personalidade ao lado de Raquel, que representa o contraponto aos conselhos do macho alfa e do guru da internet, ao melhor estilo anjinho vs diabinho.
O roteiro de Abraham Sastre e Iván Bouso, dirigido por Laura Mañá, mira na crítica sobre relacionamentos tóxicos, na superficialidade da nossa sociedade hodierna e no revestimento machista que ainda não fomos capazes de superar, mas acerta em piadas banais que têm origem num sentimento enraizado de transfobia e homofobia, além de atolar as personagens femininas em torno de Marcos, desperdiçando os seus potenciais narrativos em meros gatilhos para as motivações do protagonista.
Muito por conta das fagulhas decorrentes da relação entre Marcos e Raquel, algumas cenas cômicas são acompanhadas pela voz do próprio protagonista se comunicando diretamente com o espectador, trazendo um humor atual que se beneficia do nosso cenário efêmero de relações casuais. Permitam-me cometer esta heresia, mas eu acabei sendo remetido à “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” de Woody Allenem algumas destas crises existenciais, e fui levado pelo carisma pontual de alguns contextos.
Como não sou consumidor assíduo de obras desse gênero, fico na dúvida sobre a relevância negativa de tantos clichês, da falta de aprofundamento sobre os personagens secundários e da entrega de todo o desenrolar da trama já no seu título (“Imbécil” é o termo “carinhoso” utilizado por Raquel desde o seu primeiro contato com Marcos).
De qualquer forma, a duração curta da obra me permitiu simpatizar com o filme e me desprender de maiores análises críticas, embora alguns comportamentos, discussões e posicionamentos dos personagens não devessem ter lugar em uma produção dirigida por uma “mulher do século XXI”.
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