Crítica: White Lines
Como esperar pouco de uma série cujo autor tem contrato exclusivo de criação com “ninguém” menos que a Netflix, além de suas obras de peso serem as séries de sucesso absoluto “La Casa de Papel” e “Vis-a-vis”? Expectativas foram geradas, não é mesmo? Parece que Alex Pina, o dito cujo, gosta mesmo da temática criminal em território espanhol e faz questão de sempre levá-la às últimas conseqüências, um cara nada previsível. Um ponto em comum com as produções mencionadas é que White Lines também nos remete à liberdade, porém, ao contrário dos ambientes de confinamento experimentados nas outras, pode-se contar nos dedos as cenas que se passam em lugares fechados, a série investe pesado numa cenografia ao ar livre, explorando toda a beleza natural de Ibiza, resultando em uma fotografia espetacular. No ruim, ao fim dos 10 episódios você com certeza vai querer dar um mergulho nas praias da ilha.
Aproveitando que falamos do autor, uma de suas peculiaridades também é usar os títulos de suas produções como metáforas para a grande motivação dos personagens, com White Lines não poderia ser diferente. “Linhas Brancas”, em livre tradução, pode significar tanto as linhas no asfalto das estradas onde protagonista e coadjuvantes viajam de carro em busca de algo que faça sentido, quanto as carreiras cocaína que os levariam a viajar na mente. De um extremo ao outro, seria onde os limites são ultrapassados e os conflitos pegam fogo na trama.
Axel Collins (Tom Rhys Harries) é um jovem apaixonado pela vida que, após a morte de sua mãe, deixa Manchester na companhia de três amigos a fim de buscar seu sonho de fazer a melhor música de todas as festas, uma vez que seu pai é policial e boicota seu comportamento contra as regras no país da rainha. Aos poucos, sem o espectador entender como, o quarteto começa a fazer uma quantidade absurda de dinheiro e, em meio a muitas drogas (muitas mesmo!), orgias, música eletrônica e noites sem fim, Axel se torna, de fato, um DJ idolatrado por todos em Ibiza, um David Guetta. Logo após completar 24 anos, o jovem desaparece no auge da carreira e 20 anos depois seu corpo é encontrado. Depois de passar uma vida tentando superar essa perda, o mundo de Zoe (Laura Haddock) desaba com essa notícia. Ao descobrir que seu irmão foi assassinado, a caçula protegida estaria agora decidida a abrir investigação a fim de trazer à tona a verdade sobre a morte dele, atitude que ressuscita fantasmas do passado e coloca em risco seu casamento, sua relação com a filha e coloca em xeque quem ela realmente é.
Antes de se tornar um DJ famoso, o queridinho das festas se apaixona por Kika Calafat, filha do homem mais rico e poderoso da ilha, romance que vira motivo de rixa entre suas famílias e dá início a guerra entre os Montéquios e Capuletos do século XX. Tal guerra, que teve trégua até então, volta 20 anos depois com armas mais pesadas e só terá fim quando o mistério do assassinato for revelado e o trio de amigos que permaneceu na ilha, Anna, Marcus e David, vai ficar no fogo cruzado. A linha do tempo traçada que mistura passado e presente nos episódios é feita através de flashbacks e nos revela o amadurecimento praticamente inexistente dos personagens e suas trajetórias. Apesar do recurso ser usado de forma abrupta em alguns momentos, logo o espectador se dá conta de que quase todos os personagens têm um certo nível de desequilíbrio emocional. Ninguém é poupado, o que já era de se esperar de Pina. Talvez por isso alguns episódios sejam tão cansativos. Vale dizer que a série em si beira ao absurdo quase na íntegra e nos leva mais a uma perturbação mental do que a sensação de identificação,
White Lines é uma série sobre escuridão e é recomendável ter estômago pra assistir porque entre mortos e feridos, só há mortos e feridos mesmo.
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