Crítica: 365 Dias (365 dni)
Todo mundo sabe que se o homem quiser conquistar uma mulher, tudo que ele precisa fazer é ser lindo, rico, tratar a amada como um bibelô ao mesmo tempo que é agressivo e abusivo, além de, principalmente, ter aquela malandragem, aquele feeling do macho-alfa, aquela coisa do homem que não existe mais de saber apimentar a relação com um pouquinho de estupro, não é verdade? Aquele estuprozinho malemolente, que não faz mal, o famoso tapinha que não dói. Tem muita mulher que curte.
Mais do que isso, a gente que é macho de verdade sabe também que a mulher só é plena quando está com as amigas bebendo vinho e falando futilidades, ou quando vai ao salão, isso sem contar a atividade que mais satisfaz absolutamente todas as mulheres do mundo: fazer compras com o dinheiro do marido!
Como todo homem que já se relacionou com uma mulher sabe, e esse 365 Days vem como uma prova cabal disso, a mulher é uma criatura de personalidade simples, com uma só dimensão, centrada exclusivamente em sua aparência e do consumismo desenfreado. Elas precisam de nós, homens, para dar a elas algum sentido na vida na subserviência a nós. É, na realidade, um grande favor que prestamos a elas quando fazemos com que obedeçam a nossos desígnios. Estamos meramente dando a elas um propósito, ainda que sacrificando a nossa liberdade nesse processo.
Você que leu até aqui sorrindo e pensando que “finalmente algum macho como eu teve o culhão de falar as verdades pra esse monte de feminazi do caralho”, eu lhe urjo que vá tomar muito bonito bem no meio da sua olhota de cagar, seu pedaço de merda. Sai daqui, não volta mais e aproveita pra tomar em bunda mais uma vez. Se você é parte do que espero ser a maioria da população que achou um absurdo as fecais “opiniões” expressas nos três primeiros parágrafos dessa resenha, então eu vou lhe urgir, com o mesmo fervor usado para mandar o pedaço de merda ir tomar no seu cu, que passe muito ao largo desse 365 Days, a resposta (a uma pergunta que acho que ninguém fez) polonesa e mais doentia à “50 Tons de Cinza”.

Aqui temos uma história sem pé nem cabeça envolvendo máfia italiana e um casal de débeis mentais. O primeiro débil mental, Massimo (Michele Morrone), testemunha o assassinato de seu pai chefão da máfia siciliana, isso segundos depois de ter ficado galudo exercitando sua patologia psicológica ao usar binóculos para bisbilhotar uma turista polonesa na praia, turista essa que é a débil mental número 2: Laura (Anna Maria Sieklucka). Massimo desmaiou quando papai foi morto e ficou alucinando com a imagem de Laura, atribuindo a isso um certo misticismo do destino e não ao fato de que ele estava na fissura pela peça firme que vira instantes antes. Anos depois, Massimo, agora já capo sinistrão da máfia e ejaculador precoce, esbarra com a menina Laura no aeroporto e aí tem a brilhante ideia de raptar a moça e dar a ela 365 dias (daí o nome do filme) para ela se apaixonar por ele.
Ora, temos aqui um homem que foi esculpido por Michelangelo de tão lindo, fabulosamente rico e capaz de conquistar a mulher que quisesse. Sinceramente, se minha mulher (que inexiste) me larga para ficar com ele, eu dou de ombros e vou viver a minha vida. Mas qual é o plano dele? Cometer uma série de crimes e abusos psicológicos e físicos à mulher amada e assim conquistá-la. Gênio! Mais genial ainda é a construção da personagem de Laura, que aparece primeiro como mulher focada na carreira, que obviamente se apaixona pelo moço com menos de 1 mês de cárcere privado.
O longa nada mais é do que uma desculpa para tomadas amadoras de drone de duas pessoas lindas de doer fodendo, nada menos do que 12 montagens musicais que “constroem” a personagem Laura – são 3 só dela fazendo compras e experimentando roupa – e uma trilha sonora lamentável até a medula, na qual se destacam canções de amor cantadas em um inglês macarrônico pelo próprio protagonista, Michele Morrone, que talvez seja a versão carcamana e mais jovem do Fabio Jr.
E por falar em inglês, temos aqui um filme polonês que quase não é passado na Polônia e tem pouquíssimos diálogos em polonês, de modo que temos um ator italiano e uma atriz polonesa contracenando em um inglês meticulosamente escrito para e devidamente massacrado por eles, com alguns erros que ficarão evidentes a qualquer pessoa que tenha feito um semestre que seja no Wizard.
Eu não tenho o chamado lugar de fala aqui, mas sou incapaz de me furtar a dar a minha opinião sobre o quanto 365 Dias deve ser ofensivo às mulheres e a todo o movimento feminista. Peço, inclusive, que nossas leitoras me cornetem ou comentem mais a este respeito. De toda forma, mesmo sendo (extremamente) ofensivo e apresentando uma visão totalmente anacrônica com o que se tem como aceitável hoje em dia, o filme ainda poderia ser bom nas áreas técnicas, mas, à exceção da beleza do casal de protagonistas, todo o resto aqui é sofrível, com um roteiro que ridiculamente tenta deixar uma abertura para uma continuação, uma direção frouxa igual ao esfíncter do moço que eu mandei tomar bem dentro lá em cima e uma fotografia que só me remetia aos grandes clássicos do EuroPorn com Sylvia Saint. Inclusive, o pré-adolescente em mim ficou a todo momento achando que o Rocco ia aparecer ali do nada para bagunçar alguém.
No final das contas, perdi quase duas horas da minha vida com esse filme que, apesar de ter até dado uma acordada no boneco em duas cenas de sexo, não consegue chegar nem perto de cumprir a sua proposta, levando meia claquete só porque realmente eu fiquei com pena do moço ligeirinho que não demora nem 1 minuto pra gozar em nenhuma das 3 vezes que é mamado gratuitamente.
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